Cerca de 100 homens da Força Nacional, tropa de
choque da Polícia Militar e Polícia Civil chegaram ao principal canteiro de
obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Pará, na tarde desta sexta-feira, 3,
para cumprir mandado judicial de reintegração de posse contra “brancos” que
estavam presentes na ocupação iniciada ontem, 2. Dois jornalistas que
cobriam a ação e um pesquisador foram levados do local pela Polícia Civil. Os
indígenas, por sua vez, lançaram nova carta reafirmando a pauta reivindicatória
(leia na íntegra abaixo).
Na manhã desta sexta, 3, cerca de dois mil
trabalhadores aplaudiram de pé um grupo de indígenas que foi aos alojamentos
dialogar com os operários. “Os trabalhadores que vivem nos alojamentos nos
apóiam”, afirma nova carta dos indígenas.
“[Os operários] deram dezenas de depoimentos sobre
problemas que vivem aqui. São solidários a nossa causa. Eles nos entendem.
Tanto eles quanto nós estamos em paz. Tanto eles quanto nós queremos que os
trabalhadores sejam levados para a cidade. O Consórcio Construtor Belo Monte precisa
viabilizar a retirada dos trabalhadores a curto prazo e garantir abrigo para
eles na cidade”, afirma o documento.
Mais tarde, policiais acompanharam o assessor da
Secretaria de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da
República, Avelino Ganzer, até o canteiro ocupado. Ganzer apresentou aos
indígenas a proposta de que uma comissão definida por eles se reunisse em
Altamira (PA), na próxima segunda-feira, 6, com um grupo interministerial. Os
indígenas recusaram e exigiram a presença do grupo no canteiro de obras
ocupado, de modo que todos possam participar da conversa.
“Se querem conversar, terão de vir até aqui. Não
iremos para Altamira. Já fomos muito atrás do governo e agora queremos que eles
venham até nós”, declarou Valdenir Munduruku. Nesse contexto, os
indígenas lançaram a nova carta exigindo, entre outros pontos, que a empresa
retire os trabalhadores dos alojamentos – no canteiro, 5 mil trabalhadores
dormem no próprio sítio de obras da usina.
Carta
“Nós estamos aqui para dialogar com o governo. Não temos uma lista
de pedidos ou reivindicações específicas para vocês”, afirma a nova carta,
referindo-se ao Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) e Norte Energia,
concessionária da obra.
No documento, os indígenas reafirmaram que estão
ocupando o canteiro de obras exigindo a consulta prévia, com base da Convenção
169 da OIT, a suspensão das obras e licenciamentos em curso e o fim de
operações policiais em terras indígenas.
Leia o documento dos indígenas na íntegra:
Carta da ocupação nº 2: Sobre a pauta da nossa
ocupação de Belo Monte
Não estamos aqui para negociar com o Consórcio
Construtor Belo Monte. Não estamos aqui para negociar com a empresa
concessionária Norte Energia. Não temos uma lista de pedidos ou reivindicações
específicas para vocês.
Nós estamos aqui para dialogar com o governo. Para
protestar contra a construção de grandes projetos que impactam definitivamente
nossas vidas. Para exigir que seja regulamentada a lei que vai garantir e
realizar a consulta prévia – ou seja, antes de estudos e construções! Por fim,
e mais importante, ocupamos o canteiro para exigir que seja realizada a
consulta prévia sobre a construção de empreendimentos em nossas terras, rios e
florestas.
E para isso o governo precisa parar tudo o que está
fazendo. Precisa suspender as obras e estudos das barragens. Precisa tirar as
tropas e cancelar as operações policiais em nossas terras.
O canteiro de obras Belo Monte está ocupado e
paralisado. Os trabalhadores que vivem nos alojamentos nos apóiam e deram
dezenas de depoimentos sobre problemas que vivem aqui. São solidários a nossa
causa. Eles nos entendem. Tanto eles quanto nós estamos em paz. Tanto eles
quanto nós queremos que os trabalhadores sejam levados para a cidade. O Consórcio
Construtor Belo Monte precisa viabilizar a retirada dos trabalhadores a curto
prazo e garantir abrigo para eles na cidade.
Nós não sairemos enquanto o governo não atender
nossa reivindicação.
Canteiro Belo Monte, Vitória do Xingu, 3 de maio de
2013
Assinam os indígenas caciques e lideranças,
ribeirinhos e pescadores da ocupação pela consulta
Fonte: Xingu Vivo Para Sempre