Fotografia: Agência Raízes |
Os povos presentes são: Munduruku,
Juruna, Kayapó, Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, além de pescadores e
ribeirinhos – leia carta do movimento abaixo. Ao menos seis mil trabalhadores,
segundo estimativas do movimento, deixarão de atuar no canteiro. A ocupação, de
acordo com os indígenas, se manterá por tempo indeterminado – ou até que o
governo federal atenda as reivindicações apresentadas.
Ocupações contra a UHE Belo Monte e
mobilizações contra empreendimentos hidrelétricos se tornaram comuns na
Amazônia. No último dia 21 de março, cerca de 100 indígenas, ribeirinhos e
pequenos agricultores expulsos afetados pela obra ocuparam o canteiro Pimental,
um dos pontos de construção mantido pelo Consórcio Construtor de Belo Monte
(CCBM).
Nos canteiros da UHE Belo Monte, greves
de trabalhadores também vêm tirando o sossego da CCBM. No último dia 5 de
abril, cinco mil trabalhadores do canteiro de obras Pimental paralisaram as
atividades por conta das condições de trabalho e da demissão de 80
funcionários, no final do ano passado. Até um espião que levava informações
para a Agência Brasileira de Informações (ABIN) foi descoberto.
Ao invés do diálogo, a saída
apresentada pelo governo federal para trabalhadores, indígenas, ribeirinhos,
pescadores e demais comunidades tradicionais afetadas pelos empreendimentos foi
o Decreto da presidente Dilma Rousseff nº 7957/2013 (leia aqui sobre o
decreto). De caráter “preventivo ou repressivo”, a medida cria a Companhia de
Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública, tendo como uma de
suas atribuições “prestar auxílio à realização de levantamentos e laudos
técnicos sobre impactos ambientais negativos”.
Ainda no Pará, na divisa com o estado
do Mato Grosso, o povo Munduruku e comunidades tradicionais estão mobilizadas
contra o Complexo Hidrelétrico do Tapajós, que envolve um conjunto de usinas e
barragens (leia aqui histórico). Durante o último mês de abril, cerca de 250
soldados da Força Nacional e da Marinha foram deslocados, por solicitação do
Ministério de Minas e Energia, com base nos dispositivos do Decreto 7957, para
municípios onde incidem áreas afetadas pelos empreendimentos, além de
território de ocupação tradicional reivindicado pelo povo Munduruku.
Para outras informações e entrevistas,
os telefones disponíveis são: (93) 8811-9226 ou (61) 2106-1670 ou (61)
9979-6912. Leia na íntegra a carta apresentada pelo movimento que nesta
quinta-feira, 02, ocupou um dos canteiros de Belo Monte.
Carta da ocupação de Belo Monte
Nós somos a gente que vive nos rios em
que vocês querem construir barragens. Nós somos Munduruku, Juruna, Kayapó,
Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, pescadores e ribeirinhos. Nós somos
da Amazônia e queremos ela em pé. Nós somos brasileiros. O rio é nosso
supermercado. Nossos antepassados são mais antigos que Jesus Cristo.
Vocês estão apontando armas na nossa
cabeça. Vocês sitiam nossos territórios com soldados e caminhões de guerra.
Vocês fazem o peixe desaparecer. Vocês roubam os ossos dos antigos que estão
enterrados na nossa terra.
Vocês fazem isso porque tem medo de nos
ouvir. De ouvir que não queremos barragem. De entender porque não queremos
barragem.
Vocês inventam que nós somos violentos
e que nós queremos guerra. Quem mata nossos parentes? Quantos brancos morreram
e quantos indígenas morreram? Quem nos mata são vocês, rápido ou aos poucos.
Nós estamos morrendo e cada barragem mata mais. E quando tentamos falar vocês
trazem tanques, helicópteros, soldados, metralhadoras e armas de choque.
O que nós queremos é simples: vocês precisam
regulamentar a lei que regula a consulta prévia aos povos indígenas. Enquanto
isso vocês precisam parar todas as obras e estudos e as operações policiais nos
rios Xingu, Tapajós e Teles Pires. E então vocês precisam nos consultar.
Nós queremos dialogar, mas vocês não
estão deixando a gente falar. Por isso nós ocupamos o seu canteiro de obras.
Vocês precisam parar tudo e simplesmente nos ouvir.
Vitória do Xingu (PA), 02 de abril de
2013
Fonte: Blog Racismo Ambiental