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sábado, 9 de julho de 2016

Terras Quilombolas: Incra busca recursos para assegurar desapropriações em processos quilombolas

Foto: SindPFA
Avaliação dos decretos de desapropriação para regularização de territórios quilombolas publicados em abril estão entre as prioridades anunciadas pelo novo presidente do Incra, Leonardo Góes Silva, em final de junho. Em entrevista à CPI-SP, o Incra esclarece que a avaliação não visa o cancelamento dos decretos, mas sim a recomposição do orçamento para assegurar a obtenção das áreas decretadas.

Completando o primeiro mês à frente do Incra, Leonardo Góes Silva começa a sinalizar o que planeja para a política quilombola. Em entrevista no site do Incra, o presidente afirma que o “país precisa resgatar uma dívida histórica com as populações descendentes de quilombolas” mas ressalva que “esta é uma questão que deve ser trabalhada de forma a garantir os direitos de todos os envolvidos, sejam eles quilombolas ou não-quilombolas”. A afirmação preocupa na medida em a anunciada “conciliação” de interesses pode resultar na prática na flexibilização de direitos constitucionais assegurados aos quilombolas.

O presidente elencou entre as prioridades do Incra na sua gestão a avaliação de quatro decretos de desapropriação para regularização de terras quilombolas publicados em abril. Os decretos fazem parte dos processos de titulação das terras Caraíbas (SE)Gurupá (PA)Macambira (RN) e Monge Belo (MA)

O Incra informou à Comissão Pró-Índio de São Paulo que os decretos de desapropriação serão avaliados com os ministérios da Fazenda, Planejamento e Casa Civil para debater a recomposição orçamentária e financeira da ação. A assessoria de comunicação do Incra esclareceu que a avaliação anunciada pelo presidente do órgão “não visa o cancelamento dos decretos” e que as discussões com os ministérios já iniciaram.

No início do ano, o Incra teve uma significativa redução em orçamento para a regularização de terras quilombolas. O corte afetou os procedimentos de identificação e delimitação dos territórios e também a obtenção das áreas desapropriadas – o valor disponível para a desapropriação é 86% menor do que em 2015.  As limitações orçamentárias comprometem o andamento não apenas os 4 processos de abril, mas de várias outras terras quilombolas cujos decretos de desapropriação foram assinados em anos anteriores.


Foto: Carlos Penteado
Incertezas e processos paralisados 
Até o momento, no governo do presidente interino Michel Temer não foi titulada nenhuma terra quilombola. Além disso, não se registraram publicações de decretos de desapropriação, portarias de reconhecimento ou relatórios de identificação (RTID). O único andamento mais significativo foi a outorga de Concessão de Direito Real de Uso para a comunidade quilombola São Pedro (Ibiraçu – ES), no início do mês de junho.  

Em São Pedro, vivem um total de 43 famílias, e área declarada como quilombola pela Portaria do Presidente do Incra publicada em 2011 é de 314 hectares. Os contratos de Concessão de Direito Real de Uso do Incra são referentes a duas áreas em processo de desapropriação que totalizam 54,5 hectares; 

O cenário de indefinição e paralisia motivou o Ministério Público Federal a encaminhar ofício, ao ministro interino da Casa Civil Eliseu Padilha, no dia 16 de junho, o indagando sobre “qual a atual estrutura, condições de funcionamento e continuidade de políticas, programas e ações relativas à reforma agrária, à delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos e determinação de suas demarcações, e à promoção do desenvolvimento sustentável dos agricultores rurais familiares”.

Terras Quilombolas - placar 2016:
0 titulações.
4 decretos de desapropriação assinados. 
14 Portarias de Reconhecimento da Presidência do Incra publicadas.
06 Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação publicados.
1.517 processos em curso no Incra. 
Fonte: Comissão Pró-Índio de São Paulo

Leia também: Realizada 1ª reunião do SindPFA com o novo Presidente do Incra(SindPFA)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Servidores do Incra em Santarém farão eleição para escolha de novo Superintendente


Os servidores da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em Santarém realizarão eleição interna para escolha do novo Superintendente Regional. A decisão foi aprovada em assembleia geral convocada pelos dois sindicatos que representam os servidores do INCRA: o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público no Estado do Pará (SINTSEP) e o Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários (SindPFA).

Em 1999, um decreto presidencial (n° 3.135) determinou que os Superintendentes Regionais do INCRA fossem prioritariamente escolhidos entre os servidores efetivos do quadro de pessoal da autarquia, cujos nomes constem de lista tríplice aprovada pelo Conselho Diretor do órgão em Brasília. Somente excepcionalmente, o decreto estabelece o preenchimento do cargo por pessoa sem vínculo com a Administração Pública, ainda assim com “ilibada reputação e comprovada experiência técnica e administrativa”.

No último dia 10, a Medida Provisória n° 731 da Presidência da República determinou que cargos de confiança pertencentes ao Grupo-Direção e Assessoramento Superiores (DAS) de níveis 1 a 4 deverão ser extintos e transformados em funções gratificadas, que deverão ser preenchidas obrigatoriamente por servidores públicos.


A Superintendência do INCRA de Santarém possui um longo histórico de instabilidade administrativa gerada por indicações políticas. Criada em 2005, inúmeros foram aqueles sucessivamente indicados e logo em seguida afastados, seja pela conveniência política do momento, seja por condutas irregulares e até criminosas.

Em 24 de agosto de 2015, o então superintendente Luiz Bacelar Guerreiro Júnior foi preso pela Polícia Federal durante a operação “Madeira Limpa”, acusado de corrupção e de favorecer a entrada de madeireiras em projetos de assentamentos de reforma agrária. Barcelar era indicação política do deputado federal, José Priante (PMDB).

Em 15 de setembro, o servidor do Incra, Claudinei Chalito, assumiu a Superintendência, sendo exonerado em 29 de março de 2016, para acomodar um indicado político do deputado Federal Chapadinha (PTN), Adaías Cardoso Gonçalves. Este, por sua vez, foi exonerado logo após a “mudança de lado” do deputado que o indicou, durante o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Desde então, a SR30 encontra-se sem titular, sendo comandada interinamente pela servidora de carreira e Superintendente Substituta, Elita Beltrão.

Neste cenário de grande instabilidade política e sentindo a necessidade de definir os rumos do INCRA em Santarém, os servidores discutiram que não é hora de deixar esta história se repetir mais uma vez e decidiram, por unanimidade, desencadear o processo para escolha do novo Superintendente Regional entre os seus pares.

A Superintendência Regional do Incra de Santarém atua em 19 municípios do Oeste do Pará, em 156 projetos de assentamentos criados ou reconhecidos.
         
              
Veja abaixo como será o processo:

O que é?
– Eleição para formação de lista com três servidores de carreira para escolha do novo Superintendente Regional do Incra de Santarém.

Condução do processo:
 – Comissão eleitoral com 3 membros, escolhidos em assembleia geral dos servidores.

Como funcionará:
- O edital publicado no dia 20 de junho determinou que as inscrições de candidatos ocorram até o dia 23 de junho e as eleições no dia 30 de junho. Poderão se candidatar e votar servidores do Incra lotado na sede da Superintendência em Santarém e nas unidades avançadas situadas em Rurópolis, Monte Alegre e Itaituba, que não possuam condenação ou investigação em processos disciplinares. Os votos serão secretos e depositados em urnas na sede em Santarém e nas unidades avançadas. Cada servidor poderá votar em até três candidatos. Os três candidatos mais votados irão compor uma lista a ser encaminhada para o Incra em Brasília, para escolha do novo Superintendente Regional.

domingo, 3 de abril de 2016

Carta de reivindicações dos servidores da SR 30 – Santarém (PA)


Santarém, 1° de abril de 2016.

Os servidores da Superintendência Regional do Incra com sede em Santarém, reunidos em assembleia geral realizada no dia 31 de março de 2016, com a presença de todas as carreiras e setores do órgão, refletiram, caracterizaram e debateram o momento de mais uma mudança brusca na gestão local.

Ainda no ano passado, caracterizamos por meio de uma carta produzida no contexto de outra mudança, que a exoneração do então Superintendente após a sua prisão em função da “Operação Madeira Limpa” demonstrava um quadro de graves irregularidades no âmbito desta regional, as quais se somavam as diversas denúncias protocoladas pelas nossas entidades sindicais junto ao Ministério Público Federal, denúncias estas que inclusive foram entregues em mãos a Presidente do Incra, Maria Lúcia Falcón, por meio de uma carta pública, quando esta esteve na cidade em 28 de maio de 2015. Não somos sabedores, até a presente data, quais providências foram tomadas por parte da Presidência da autarquia em relação a estas denúncias.

Na mesma ocasião, anunciou-se a partir da Presidência, que o órgão entraria em uma nova fase, com nomeações técnicas para as gestões, valorização das carreiras da casa e qualificação das ações do órgão. Assim foi encarada e divulgada amplamente pela instituição a nomeação do Superintendente Claudinei Chalito da Silva em setembro de 2015.

De fato, Claudinei Chalito conduziu ao longo de sua gestão, um trabalho onde a montagem de sua equipe se deu com o diálogo com servidores, e mais importante ainda, cumpriu a obrigação de seguir princípios éticos, de dar continuidade a trabalhos em curso, de buscar qualificar a ação do órgão e ao menos tentar recuperar a imagem tão desgastada do Incra na região Oeste do Pará. Sua relação com os movimentos sociais, entidades de representação, órgão públicos, servidores, terceirizados e prestadores de serviço, foi a mais honesta e sincera que vimos nesta SR desde que ela foi criada, ainda mais que esta curta passagem se deu num dos momentos mais difíceis, pela falta de recursos humanos e financeiros e pelo passivo deixado pelas gestões anteriores.

Neste sentido, os servidores da casa vêm agradecer o compromisso deste servidor com o órgão, com trabalhadores da casa e especialmente, com a grande diversidade de público com o qual a SR30 se relacionada: colonos, parceleiros, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas, etc.

A duros passos, os servidores começavam a vislumbrar um cenário propício, ainda que tímido, de mudanças. Porém, surpreendentemente, pouco mais de seis meses depois do episódio da prisão do dirigente do órgão e desta promessa de “Novo Incra”, o “Velho Incra” reaparece com as práticas de aparelhamento político-partidário. A exoneração abrupta, sem qualquer discussão com os servidores e movimentos sociais da reforma agrária na região, sem processo de transição de gestores, são métodos velhos e autoritários que nós repudiamos.

A opção política do governo federal em acomodar nos interesses de uma pretensa e volátil base no Congresso, acima de qualquer critério ou princípio, se realmente materializada com indicações politiqueiras para o Incra, só demonstra que a real política de reforma agrária e o “Novo Incra” foram enterrados de vez.

Nos últimos onze anos de Superintendência tivemos nove Superintendentes, o que indica, na melhor das hipóteses, uma grande descontinuidade no desempenho das obrigações institucionais. Contudo, este quadro ainda é piorado, pois justamente nos momentos em que critérios da conveniência política do momento suplantaram critérios mínimos para a condução do órgão, obteve-se como resultado três ex-superintendentes afastados judicialmente, estando um deles preso até os dias de hoje. Estas mudanças abruptas e esses afastamentos, são episódios traumatizantes para o quadro de servidores da SR30.

Esta prática não se verifica em vários órgãos da Administração Pública Federal, onde a ocupação dos postos de gestão faz parte da própria dinâmica interna das instituições, que possuem mecanismos claros e transparentes para a ocupação destes cargos. No caso do Incra, no que pese a existência de mecanismos previstos para isso, simplesmente se ignora a determinação legal.

Portanto, reafirmamos o nosso repúdio a interrupção do processo que vinha se construindo na SR30 através do diálogo com os servidores, prestadores de serviço, público beneficiário, movimentos sociais, órgão de controle e outros órgãos públicos da região e exigimos o imediato cumprimento dos critérios do Decreto Presidencial n° 3.135/1999 para escolha dos Superintendentes. 

De nossa parte, continuaremos defendendo o fortalecimento da instituição, sua real reestruturação e o cumprimento das obrigações legais e administrativas, e reafirmamos a nossa pauta entregue em 15 de setembro de 2015 ao então empossado Superintendente Claudinei Chalito.

Assembleia Geral dos Servidores do INCRA em Santarém.


Acompanhe o caso:

30 de março de 2016:

Crise política provoca “turbulência” e Superintendente do Incra de Santarém é exonerado (O Impacto)


Nota de apoio à gestão de Claudinei Chalito no Incra – SR30 (Terra de Direitos)


31 de março de 2016:



01° de abril de 2016:

Servidores e movimentos sociais fazem protesto no Incra em Santarém (G1)






02 de abril de 2016:

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Carta aberta sobre a Operação “Madeira Limpa”

O Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado do Pará (SINTSEP) e a Delegacia Sindical do Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários (SindPFA), entidades sindicais dos servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Superintendência Regional de Santarém – SR 30 – vêm a público se manifestar sobre a Operação “Madeira Limpa” desencadeada pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal e decretada pela Justiça Federal, que resultou na prisão do Superintendente Regional, Luiz Bacelar Guerreiro Júnior, e outras dezenas de mandados de prisão e busca e apreensão em diversos órgãos, inclusive no Incra, nesta segunda-feira, 24 de agosto.

As entidades declaram total apoio a operação e as investigações, à medida que nos últimos dois anos foram encaminhadas diversas denúncias ao Ministério Público Federal solicitando investigações de possíveis irregularidades no âmbito da Superintendência, denúncias estas que inclusive foram entregues em mãos a Presidente do Incra, Maria Lúcia Falcón, por meio de uma carta pública, quando esta esteve na cidade no último dia 28 de maio.

Na ocasião, foi ressaltado na citada carta:

Em recente texto sobre a situação da Superintendência Regional do Incra de Marabá, o jornalista Felipe Milanez destacou que não entendia como “(…) um órgão federal tomado por corrupção e descaso – era usado, de maneira eficiente, para a concentração de terras”. Destaca esse mesmo jornalista: “O INCRA veste o que antropólogo Eduardo Viveiros de Castro me disse ser uma suposta impotência estratégica” do Estado. Finge não dar conta do problema, finge uma ‘ausência’, que na verdade, nada mais é do que uma aliança com certos interesses ilegítimos”.

Senhora Presidente, a situação da SR de Santarém não difere muito desta fotografia retratada pelo jornalista sobre Marabá. Infelizmente, a atual gestão do órgão em Santarém é ausente para dar conta dos problemas institucionais, mas muito presente para apontar soluções para seus interesses particulares e para grupos antagônicos à reforma agrária, de interesses ilegítimos. Portanto, a paralisia das obrigações institucionais na região é complementada por uma espantosa agilidade em atender a esses interesses antagônicos.

Somos sabedores que a maioria dos servidores de nossa carreira e do conjunto dos servidores da casa não compactua com essa forma de gerir. Contudo, os mecanismos internos de controle são extremamente lentos e frágeis e pior ainda, não encontrávamos na presidência anterior qualquer espaço institucional e político para formalizar qualquer denúncia. Mas, para além de nossa vontade, é nossa obrigação fazer chegar até Vossa Senhoria o conjunto de denúncias fundamentadas já protocolizadas por esta Delegacia Sindical junto ao Ministério Público Federal, que indicam e comprovam o que estamos apontando. Estes substanciosos documentos são apenas uma fração do que se presencia nesta SR, direcionando as ações para ao inverso do que determina a lei e missão institucional.

Senhora Presidente, é preciso promover uma séria investigação na conduta de gestores e de alguns servidores desta casa sob o risco da completa desmoralização do Incra na região. Também é preciso promover profundas mudanças na gestão do Incra de Santarém, não só trocando seis por meia dúzia, mas fazendo valer os princípios da Administração Pública para a escolha de dirigentes.

Por isso, declaramos que apoiamos totalmente a Operação, assim como, tornamos claro para a sociedade e para o público do programa de reforma agrária que a maioria dos servidores da casa não compactua com as irregularidades e crimes cometidos por uma minoria alçada às chefias da Superintendência por indicações político-partidárias, que com seus cargos usaram a instituição para proveito próprio, e que conforme o próprio MPF, transformaram o Incra da região num verdadeiro balcão de negócios para atender seus interesses particulares.

 Santarém, 24 de agosto de 2015.


Regina Maria Martins Brito 
Coordenadora Geral Adjunta – SINTSEP/PA 


Deivison de Jesus Barbosa
Delegado Sindical – SINDPFA/Santarém


quinta-feira, 9 de julho de 2015

No aniversário do Incra, servidores paralisam por 24 horas em Santarém


Esta é a segunda paralisação na semana pedindo melhorias. Eles reivindicam melhorias salariais e reestruturação da autarquia.

Os servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Santarém, oeste do Pará, paralisam as atividades nesta quinta-feira (9), quando a autarquia completa 45 anos no país. Esta é a segunda paralisação na semana. A primeira ocorreu na terça (7).

Eles reivindicam o fortalecimento da autarquia, valorização dos servidores, melhoria dos padrões remunerativos com equiparação ao Ministério do Meio ambiente, reestruturação e ampliação do orçamento para a autarquia, concurso para novos servidores, ampliação de benefícios auxílio transporte, alimentação, creche, entre outros.

Os servidores se concentram na sede do órgão durante a manhã e permanecem mobilizados ao longo do dia como parte do movimento.

Em assembleia realizada no dia 6 de julho, os servidores também votaram pelo indicativo de greve a partir do dia 22 de julho.

O G1 pediu posicionamento do Incra sobre as reivindicações e aguarda posicionamento.

Fonte: G1 Santarém

Veja imagens da mobilização dos servidores do Incra pelos estados:

Brasília (sede):

Manaus - AM

Belém - PA

Goiânia - GO

Teresina -PI:

Florianópolis - SC:

Palmas - TO:


Leia também:
Cnasi: Servidores "descomemoram" os 45 anos do Incra com debates e paralisações pelo país

SindPFA: 45 anos do Incra são lembrados com mobilização

sábado, 6 de junho de 2015

Peritos denunciam gestores da Superintendência de Santarém à Presidência do Incra


Cumprindo agenda nas Superintendências Regionais (SRs) do Incra do Pará durante toda a semana passada, a presidente da autarquia, Maria Lúcia Falcon esteve nos dias 28 e 29 de maio em Santarém. As atividades fazem parte do chamado “Incra Itinerante”, proposta da nova gestão de reaproximação da autarquia com servidores, movimentos sociais e autoridades locais.

Além da própria presidente, fizeram parte da carava os diretores nacionais de Desenvolvimento de Projetos de Assentamentos, César Aldrighi e Ordenamento da Estrutura Fundiária, Richard Torsiano, o procurador-chefe da Procuradoria Federal Especializada, Júnior Fideles e assessores.

No dia 28 de maio, a primeira atividade pública da caravana foi uma reunião com servidores lotados em Santarém. A atividade ocorreu ao ar livre no pátio da Superintendência com a presença de todos dirigentes locais do Incra. Falcon fez uma fala em que destacou os desafios institucionais no momento de ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff, falou de novos conceitos de ruralidade, da necessidade de modernização tecnológica do Incra e da valorização das carreiras do órgão, entendendo isto não somente como valorização salarial, mas também como um plano de capacitação e fortalecimento institucional.
           
Convidado à mesa e sentado entre o Superintendente Regional e seu substituto, dois dirigentes locais indicados, o delegado sindical Deivison Barbosa procedeu logo após a fala da Presidente a leitura de uma carta aprovada e assinada pelo conjunto dos Engenheiros Agrônomos da Superintendência de Santarém.


O documento saúda a presença da dirigente máxima do órgão, faz um rápido panorama da situação fundiária local que levaram a criação da Superintendência e fez duras críticas a atual gestão local do órgão.

Infelizmente, a atual gestão do órgão em Santarém é ausente para dar conta dos problemas institucionais, mas muito presente para apontar soluções para seus interesses particulares e para grupos antagônicos à reforma agrária, de interesses ilegítimos. Portanto, a paralisia das obrigações institucionais na região é complementada por uma espantosa agilidade em atender a esses interesses antagônicos”, afirmam os peritos em trecho do documento.

Além da carta que foi recepcionada pela presidente do órgão, a Delegacia Sindical de Santarém entregou também cópias de várias denúncias já formalizadas junto à Procuradoria da República em Santarém.

“Para além de nossa vontade, é nossa obrigação fazer chegar até Vossa Senhoria o conjunto de denúncias fundamentadas já protocolizadas por esta Delegacia Sindical junto ao Ministério Público Federal, que indicam e comprovam o que estamos apontando. Estes substanciosos documentos são apenas uma fração do que se presencia nesta SR, direcionando as ações para ao inverso do que determina a lei e missão institucional.”


 A atual direção local do Incra, denunciada publicamente pelos servidores, não fez nenhuma fala durante o evento, nem mesmo após a leitura da contundente carta. A Presidente do Incra, ao recepcionar os documentos, afirmou que irá encaminhá-los para a Corregedoria do órgão para iniciar um processo apuratório.

Leia o documento na íntegra:

quarta-feira, 18 de março de 2015

Lúcia Falcón é a nova Presidente do Incra.

Depois de afundar o carro e o Incra, Carlos Guedes vai cuidar da regularização fundiária das unidades de conservação no MMA. Foto: Breno Fortes - Correio Braziliense

Foi publicado no Diário Oficial da União dessa quarta-feira, 18, o decreto de exoneração - a pedido - de Carlos Mário Guedes de Guedes do cargo de Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra.

O agora ex-presidente do Incra foi nomeado Assessor Especial da Ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, para auxiliar em questões como regularização fundiária, dada sua "conhecida expertise" no assunto e experiências "bem-sucedidas" como o Terra Legal. 

O Diário também anuncia Maria Lúcia de Oliveira Falcón para a Presidência do Incra. 

É baiana, Engenheira Agrônoma e Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e professora licenciada da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 

Foi Secretária de Planejamento de Aracaju e de Sergipe e ex-Secretária Nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Também presidiu a Comissão Nacional de Cartografia (Concar). Foi assessora no Sindicato dos Petroleiros e supervisora dos escritórios da Bahia e de Sergipe do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Lúcia Falcón foi sondada em 2010 para assumir o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas foi impedida por resistência da corrente petista Democracia Socialista.

Com informações do SindPFA

quarta-feira, 4 de março de 2015

Qual o legado da DS para a política agrária brasileira?

Uma análise das ações da corrente demissionária do Incra / MDA

Por Sávio Silveira Feitosa*

Nos últimos dias, o ainda presidente do Incra "desceu ao chão da fábrica" para falar com os que até há pouco tempo não falava nem no elevador. O objetivo era despedir-se, numa tentativa de deixar uma boa visão de sua gestão, para a qual havia prometido transformar a autarquia em um órgão de excelência mundial. Entretanto, perdeu a oportunidade de sair "à francesa", sem mais esse desgaste, pois poucos serão os saudosos desse tempo último.

A Democracia Socialista, corrente do Partido dos Trabalhadores - PT, ocupou a pasta do Desenvolvimento Agrário nos últimos 12 anos. Em meados de 2012, passou a ocupar também o Incra com o presidente Carlos Guedes de Guedes, quebrando um certo equilíbrio político de forças existentes até então. A DS deixa agora ambos os órgãos, ao alçar voos mais altos no Planalto. Deixa para trás um legado da sua passagem no MDA e no Incra no qual se faz oportuna uma análise na perspectiva de reestruturação dos órgãos agrários.

Sem titubear, podemos afirmar que não era sem tempo a sua saída. Especialmente nos últimos dois anos, em que a corrente deteve o total domínio da pasta, o órgão passou por momentos angustiantes. Definhamento da política agrária, redução do orçamento para a pasta, desvalorização dos servidores - com acentuada visão depreciada da carreira dos Peritos federais Agrários -, ausência total de perspectiva diante da redução das suas atribuições.

Uma de suas últimas ações foi criar um nome fantasia para o Incra. Sim, em uma proteção de tela instalada nos computadores do órgão e no seu site, a sigla agora significa Cidadania e Reforma Agrária. Ora, este é um órgão criado por lei e não se muda sua missão institucional simplesmente criando uma nova marca. Mais um exemplo dos já costumeiros factoides, sem nenhum resultado prático.

Interessante que a DS intitula-se como a corrente mais à esquerda do PT. Isso não se verificou, porém, na sua atuação no Incra e no MDA. Numa pasta voltada essencialmente para um trabalho de justiça social, foi justamente onde se verificou os maiores retrocessos. A política do governo era outra. Cada vez mais próxima de setores expressivos e poderosos do campo, em detrimento dos menos privilegiados, a DS não só concordou com essa ótica, sem resistência, como pôs em execução um desmonte dos órgãos agrários, estritamente como lhe fora encomendado. Não há como conceber que quem faça isso esteja numa linha política mais à esquerda.

No recente Relatório de Acompanhamento das Metas Institucionais do Incra do período de maio a dezembro de 2014, publicado no último dia 23/2, é apontado que o número de famílias com crédito instalação concedido alcançou apenas 8% da meta. Tarefas relativamente simples como a confecção da Relação de Beneficiários que precisam acessar as políticas de desenvolvimento, a exemplo do Programa Minha Casa Minha Vida Rural, e envio às entidades organizadoras foi de apenas 40%.

Ora, é especialmente no desenvolvimento de assentamentos, área que a atual direção prometeu priorizar, onde se encontram os piores resultados. A qualificação dos assentamentos já criados, artifício utilizado pelos gestores para desapropriar menos, provou ser uma falácia. Não foi verificada a melhora propalada na qualidade de vida das pessoas já assentadas e os resultados mostram isso. Na assistência técnica, vimos o governo anunciar a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - Anater, que não saiu do papel.

Já os resultados na área de obtenção de terras chegam a ser risíveis. Em uma notícia veiculada em 8 de janeiro na rede interna, o Incra se vangloriava por ter assentado 32.019 famílias em 2014, ante a uma meta de assentamento de 30 mil famílias. Entretanto, desse total, apenas 7.399 foram em assentamentos novos e as outras 24.620 em assentamentos já existentes (o que conhecemos como reassentamento). Ou seja, a direção da Autarquia comemora ter cumprido a meta assentando apenas 23% das famílias em novos assentamentos.

Na gestão territorial não foi diferente. Depois de 12 anos da Lei 10.267/2001, por exemplo, foi que o Incra resolveu lançar um sistema eletrônico para recepcionar as coordenadas dos polígonos georreferenciados das parcelas rurais (o Sistema de Gestão Fundiária - SIGEF) e ainda o fez precariamente, sem as conexões necessárias com os sistemas existentes e subvertendo as atribuições que a legislação lhe impõe. Só a ausência de batimento do código de imóvel rural com o Sistema Nacional de Cadastro Rural - SNCR (criado pela Lei 5.868/72), o cadastro oficial, já denota uma grande irresponsabilidade em relação à segurança jurídica, vez que os imóveis rurais "certificáveis" à luz da legislação somente são cadastradas no SNCR após uma cuidadosa conferência documental.

O Programa Terra Legal - vejam só que beleza - uma atribuição do Incra foi-lhe retirada com prazo de validade, como se essa fosse uma atividade temporária. Todavia, depois de cinco anos, a execução foi de 15% do que prometeram fazer em três. Sem falar de uma série de irregularidades apontadas recentemente pelo Tribunal de Contas da União - TCU, que pode alcançar a metade do pouco que foi feito.

Não foram raras as tentativas desses gestores de atribuir a culpa por esses fracassos aos servidores, principalmente aos Peritos Federais Agrários, por lutarem - de maneira justa - pela qualificação de procedimentos, como o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs). Solicitados há 10 anos, a ausência desses equipamentos tem causado paralisia no funcionamento do órgão. Somente agora quando ordenado judicialmente, o órgão começa a atender (embora parcialmente) essa reivindicação histórica. Ora, que fique claro: a direção desconsiderou essa demanda e não a fez porque não quis; porque executou um inequívoco comando de paralisar a autarquia e suas atividades. Nada mais transparente que essa realidade, os fatos assim demonstram.

Quando se fala em servidores, é de dar tristeza o clima organizacional da Autarquia. Uma desmotivação sem precedentes causada por esses anos todos de ausência de perspectiva e de comprometimento com a política pública. Uma combinação de falta de clareza no objetivo, tratamento autoritário, inexistência de diálogo e transparência, salários baixos e aposentadorias precoces. Talvez esteja aqui o legado mais nefasto deixado por estes gestores. Resgatar a autoestima dos servidores será uma tarefa grandiosa da nova gestão do MDA e Incra.



Diante disso, o que esperar daqui pra frente?

Parece que o novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, tem muita disposição ao diálogo e um discurso mais firme para a missão da pasta; as mudanças de comando no MDA já vêm ocorrendo e as do Incra estão próximas. Não obstante a necessidade de haver critérios na escolha de novos gestores, a indefinição, já no terceiro mês do ano, não é coisa muito boa. Vê-se o Incra ainda completamente parado, à espera de alguém que estabeleça uma linha de trabalho, um rumo. À espera de um milagre, talvez.

O que o SindPFA espera é que o Ministro não se deixe levar pelo canto da sereia da DS e suas ideias mirabolantes de excelência mundial que ainda o cercam. Que esse legado nefasto não seja um balizador das ações do Ministério. Esperamos que Patrus Ananias escolha bons gestores, compromissados com as mudanças necessárias, a partir de um diagnóstico real e não das "maravilhas" virtuais vendidas pelos demissionários, em algum power point bonitinho, como a proposta de atualização do Incra, já tratada aqui.

A realidade ainda é cruel no campo. Milhares de famílias ainda sofrem embaixo de lonas, pequenos agricultores continuam à espera de crédito, infraestrutura, assistência técnica e outras políticas públicas que garantam o real desenvolvimento. A insegurança jurídica ainda permeia no rural brasileiro, sem a adequada governança de nossas terras. No Incra, as estruturas estão esvaziadas e os poucos servidores que restam estão desmotivados, sem perspectivas, amargando os piores salários da Esplanada. Há muito trabalho pela frente. Temos a esperança de poder contar com a gestão que assume agora para, juntos, reorganizar e reestruturar os órgãos agrários no Brasil.

*Presidente do SindPFA. Publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Peritos Federais Agrários do Incra

sábado, 17 de janeiro de 2015

Nota sobre a proposta de "atualização" do Incra


Direção consolida o processo de desmonte da autarquia, em desacordo com o discurso de Patrus Ananias*

O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, Carlos Mário Guedes de Guedes, entregou ao novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, um documento com o que chama de proposta de "atualização" do Incra. É uma autodefesa de sua gestão, com o propósito de "se encaixar no novo governo", agora sob uma orientação diferente de sua corrente partidária (DS) no comando do MDA.

De plano, percebe-se que o documento colide frontalmente com o que se ouviu do novo ministro em seu discurso de posse. Faz um balanço positivo no mínimo exagerado da atual gestão e apresenta propostas para a autarquia sem ter havido qualquer processo de discussão com os servidores e suas entidades representativas nem tampouco com a sociedade civil, com lhe tem sido de praxe. 

No centro da proposta, está a clareza da continuidade do processo de desmonte e paralisia do órgão, que já é uma realidade. O chamado "marketing de fumaça", com muito anúncio e pouco conteúdo. A consolidação de uma maquiagem para a indubitável opção de governo de não fazer reforma agrária e preterir o ordenamento do território. 

O SindPFA, na expectativa de contribuir com o aprimoramento do debate, das relações e decisões acerca da reestruturação da autarquia tão necessária ao desenvolvimento do país, faz uma análise crítica pontuada sobre as atividades da atual gestão, contidas no documento apresentado, e chama ao debate a categoria, os demais servidores, organizações e autoridades. 

Reforma Agrária e democratização do acesso à terra
Alardeia grandes resultados na democratização do acesso à terra no período em que raras foram as criações de novos assentamentos e, sem constrangimentos, utiliza-se até de substituição de assentados em lotes vagos de terras já reformadas para alavancar as estatísticas. Os números de programas como a reforma agrária nos últimos quatro anos só não são piores que os de Collor desde a redemocratização. Dilma Rousseff é responsável por apenas 3% do total das áreas desapropriadas para esse fim desde 1995.



São perfeitamente justas as reclamações dos movimentos sociais nesse sentido - vide notas da CPTMST. É sintomático que, no documento, a Diretoria de Obtenção de Terras, responsável pelos processos de desapropriação, foi solenemente esquecida no expediente. 

A visão equivocada da política de Estado e desalinhada com as afirmações de Patrus Ananias é evidenciada no documento, quando subestima deliberadamente a demanda para reforma agrária no Brasil. Estaria o presidente do Incra, órgão ligado ao MDA, concordando com a polêmica fala de Kátia Abreu de que o país não tem mais latifúndios?

Corrobora esse pensamento a dificuldade que coloca em desapropriar por improdutividade. No mês e ano em que o Estatuto da Terra completa 50 anos, o Presidente do Incra chegou a afirmar em audiência pública que não é possível mais fazer reforma agrária como definida na lei e que seria necessário mudar a Constituição. Em que pese a necessidade de debater os índices de produtividade utilizados pelo Incra - imutáveis desde a década de 70 e que não acompanharam o processo tecnológico -, o órgão não faz efetivamente a fiscalização da função social da terra, prevista na Constituição Federal, o que já seria capaz de promover uma grande distribuição de terras, incentivar o aumento de produção e combater a especulação no mercado de terras. 

Não é só isso que vai ao encontro do que prega a nova ministra da Agricultura, com quem o presidente do Incra reuniu-se no final de 2012, quando a prometeram "trabalhar com uma nova mentalidade" - veja a notícia -, a exemplo da titulação de assentamentos, simplificação da certificação do georreferenciamento de imóveis rurais, entre outros. 

SIGEF
A simplificação dos procedimentos do georreferenciamento não demorou a ser anunciada. A cúpula apresentou com pompa um pretenso sistema de gestão fundiária, o SIGEF, como a solução que o país precisava. No entanto, a menina dos olhos dessa gestão foi lançada precocemente e sem as conexões necessárias com os sistemas existentes, como o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) que, a propósito, já é bastante deficitário. 

O que deveria ser a base para um cadastro multifinalitário e contribuir para a segurança jurídica no campo na verdade a compromete. Seu atual funcionamento faz com que recaia unicamente sobre o profissional contratado a responsabilidade sobre as peças técnicas necessárias à certificação, o que não atende a legislação. Ele somente atesta que não há sobreposição. 

O sistema, da forma como está funcionando, é uma bomba-relógio: causará prejuízo à sociedade e à Administração Pública. O estrago já pode ser gigantesco: em dezembro, Incra e MDA informaram que 63,3 milhões de hectares foram certificados pela ferramenta em 2014. Não é atoa que o Ministério Público Federal abriu inquérito para apurar irregularidades a partir de denúncia do SindPFA. 

Desenvolvimento e titulação de Assentamentos
A questão da titulação de assentamentos já vinha sendo propalada pelo presidente do Incra e ressurge agora na proposta. É pacífico que o Estado não pode ser o tutor ad eterno dos assentamentos da reforma agrária e que a titulação dessas terras deve ser uma política permanente. Entretanto, propõe-se titular os assentamentos de reforma agrária em apenas três anos. Alguns cultivos levam esse tempo ou mais para atingir um nível de produção satisfatório. 

A titulação em massa não garante que a família do pequeno agricultor subsistirá com o afastamento precoce das políticas públicas e, mais que isso, pode contribuir com a reconcentração de terras e anular um dispendioso processo de reforma. A proposta passa por cima do processo de desenvolvimento e consolidação dos projetos, o que coloca em xeque a já desacreditada qualificação do processo de reforma agrária e instalação de assentamentos alardeada pelos governantes. 

Tal pretensão paralisa o processo de vistoria e identificação das áreas ocupadas irregularmente nos projetos de assentamento, sob a alegação que é um processo caro e com a falácia de que a Sala da Cidadania resolveria em parte esse problema. Na verdade, sem a presença do Estado, o espaço fica livre para todo o tipo de irregularidades na ocupação das terras. 

Outro ponto altamente questionável é o anúncio de que tomou-se a melhor das decisões quando decidiu confiscar o crédito de assentados que estavam apontados nas contas das associações. A medida parte da visão equivocada de que, para se destruir uma doença, mata-se o paciente ao invés de tratá-lo. Em detrimento da criação de instrumentos de gerenciamento e fiscalização, prefere-se culpar servidores, organizações e encerrar as políticas enquanto o real problema não é atacado. 

Sala da Cidadania
Resultado de um envelopamento de políticas já existentes, como as Unidades Municipais de Cadastro (UMCs) - e portanto, nada de novo -, a chamada Sala da Cidadania é outro ponto do qual vangloria-se. Entretanto, é um blefe: resolve pouco dos problemas do público-alvo, ainda tem um sistema precário e está longe de ser uma ferramenta eficaz ou uma revolução gerencial. 

Regularização Fundiária e gestão territorial
A promessa de fortalecer a gestão territorial não se sustenta. Além do desconhecimento completo da malha fundiária nacional - vide a existência de um sobrecadastro de 58 milhões de hectares nos sistemas do Incra -, de paliativos como o SIGEF, vê-se que se criou um programa de regularização fundiária na Amazônia (Terra Legal), uma atribuição que é do Incra e foi-lhe retirada com prazo de validade, como se essa fosse uma atividade temporária.

Entretanto, depois de cinco anos, só se fez 15% do que anunciaram que fariam em 3. 
Recente auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou em sua execução a existência de beneficiários que não atendem aos requisitos, falhas formais em processos, inércia na retomada de áreas, risco de fomento do mercado irregular de posse de terra, entre outros. Não se fala em regularização fundiária no Nordeste e na faixa de fronteira. A insegurança jurídica perpetua-se no rural brasileiro. 

relatório aponta uma perda estimada de R$ 230 milhões decorrente da desproporcionalidade do valor cobrado por imóveis titulados, entre outras irregularidades, como a expedição de títulos a pessoas indevidamente, a exemplo de cônjuges que teriam sido beneficiados com mais de uma área, pessoas já falecidas, beneficiários com renda diversa a atividades agropecuárias, beneficiários da reforma agrária e proprietários de terras. 

Interessante o registro de que, ao não dar destinação racional e adequada às suas terras, a própria União estaria descumprindo o princípio da função social das propriedades previsto na Constituição. Mais uma evidência de que o trabalho dos gestores caminharam - e caminham - em linha oposta à pregada pelo novo ministro do Desenvolvimento Agrário, que evoca o cumprimento do preceito constitucional. 

Com relação à regularização fundiária na faixa de fronteira, nada foi feito. Só no Paraná, são mais de 40 mil títulos à espera de ratificação da União há anos. É isso que se pode chamar de governança fundiária?

Gestão administrativa
O que se viu nos últimos anos foi uma direção centralizadora, que pouco conversa e não aceita críticas. Essa forma autoritária também se revela no trato com os servidores, tanto que o tema praticamente nem é tratado na avaliação de 2011-2014, pois foi vergonhoso. Nas propostas, também não é tratado como devia ser. 

A remuneração, em que pese ser uma variável importante, é só uma evidência disso. Hoje, os servidores do órgão amargam um dos piores salários de nível superior do serviço público federal. Para se ter uma ideia, as carreiras de Perito Federal Agrário do Incra e de Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura têm a mesma origem no serviço público federal, ambas compostas por engenheiros agrônomos. Até 2000, o salário das duas era idêntico. Hoje, porém, o salário do Perito do Incra é tão defasado que no final da carreira, depois de 16 anos de trabalho, é menor que o inicial do colega do outro ministério. Não se paga nem o salário mínimo profissional a algumas profissões. 

As negociações salariais foram um fracasso. No caso dos Peritos, além de não avançar nos valores, fizeram questão de destruir a estrutura da carreira com o aumento somente na gratificação. Não bastasse isso, trapalhadas em 2014 no Congresso resultaram na suspensão do acordo por seis meses, período em que o salário - ineditamente - foi reduzido. 

Uma questão emblemática é o fornecimento dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Os Peritos Federais Agrários solicitam formalmente ao Incra o seu fornecimento desde 2005 e, principalmente no período recente, os profissionais foram vítimas de diversas formas de assédio moral por causa disso; a direção foi capaz de atribuir aos servidores a culpa pela paralisia de atividades quando elas não puderam ser feitas pela ausência de proteção. 

A proteção do trabalhador é algo tão elementar que é de assustar ver ela sendo discutida no âmbito do "atendemos ou não?", "eles não vão conseguir reconhecimento assim", prova de quão arcaico é o tratamento dado ao servidor e quão atrasada é a cultura institucional. A situação levou à abertura de vários inquéritos civis no Ministério Público do Trabalho em diferentes estados e o Incra chegou a negar a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta para resolver a questão. Foi preciso que o SindPFA ingressasse com uma ação judicial para ver o Incra cumprir a lei. Em 2014, uma decisão liminar suspendeu as atividades de campo até que os EPIs sejam fornecidos aos servidores. Até hoje, porém, isso não ocorreu na sua integralidade. 

É límpido a realidade de uma desmotivação sem precedentes que assola as divisões de trabalho; não há quem tenha esperanças com o cenário que se impõe. Profissionais experientes que outrora foram responsáveis para tornar o órgão forte e reconhecido hoje amargam o desmonte e contam os dias para deixá-lo. 

Conclusão
Por fim, lembra-se que, em 2012, ao assumir o Incra, Guedes recebeu do seu antecessor um diagnóstico apurado do órgão e de suas atividades e uma proposta de fortalecimento institucional. Numa situação nitidamente mais agravada, porque o presidente apresenta um novo diagnóstico e propostas bem menos ousadas? É por isso que não dá pra acreditar que haja boa fé na apresentação de um plano de "atualização" de um órgão que está à beira da falência, ainda que sob o argumento de que uma proposta menos ambiciosa é mais factível. Não passa de uma dose de sobrevida, incapaz de tirar a Autarquia da UTI.

Com efeito, o que o Incra realmente precisa é de uma reestruturação completa. Precisa deixar de viver de factóides e assumir seu papel institucional. Ou se faz ou não se faz, mas não dá pra continuar parado e dizer que está fazendo. De modo imediatamente consequente, o órgão precisa de novos gestores, com coragem para admitir a inequívoca realidade e enfrentá-la; com alinhamento político que sejam capazes de tornar o discurso do novo ministro minimamente possível. 

O SindPFA espera que a autarquia tenha uma gestão com um perfil mais avançado, capaz de enfrentar os desafios que são difíceis, mas necessários para um verdadeiro desenlace positivo para a questão agrária no país.