domingo, 2 de dezembro de 2007

Frei Cappio retoma greve de fome contra Transposição do rio São Francisco

O frei franciscano Dom Luiz Cappio, da diocese de Barra na Bahia, retomou a greve de fome contra a Transposição do rio São Francisco desde a última terça-feira, 27 de novembro. Em 2005, Frei Cappio já havia passado 11 dias em greve, pedindo que o governo abrisse diálogo com a sociedade sobre a necessidade ou não da obra. Na ocasião, o jejum foi suspenso após um acordo firmado com o presidente Lula.

O retorno à greve se deve ao fato do governo ter retomado as obras, descumprindo o acordo e rompendo o diálogo. Para Cappio, o presidente “enganou a nós todos”. Desde vez, Cappio promete só suspender a greve de fome com o cancelamento do projeto de Transposição.


Click http://www.mst.org.br/mst/documentos/cartaaopovodonordeste.jpg e leia a “Carta ao Povo do Nordeste” onde o frei explica as razões do retorno ao jejum e conclama apoio dos nordestinos dos estados que o governo propagandeia como beneficiários do projeto.


E ainda:
Em entrevista a Radioagência NP, o Frei Dom Luiz Cappio, esclarece as razões de seu protesto.
Radioagência NP: O senhor afirma que o presidente não cumpriu o pacto feito com a sociedade. Qual foi o pacto feito?

Frei Cappio: Nós só encerramos o jejum há dois anos atrás, porque assinamos um documento em que nós nos comprometíamos em abrir um amplo diálogo na construção de um projeto de desenvolvimento sustentável para o Nordeste e também para o encerramento do processo de transposição de água. Ele assinou, eu assinei. Eu pela sociedade civil brasileira, o presidente pelo governo brasileiro. Dois anos se passaram, o diálogo foi apenas iniciado e logo em seguida interrompido. No início deste ano nós protocolamos um pedido de reabertura do diálogo e a resposta foi o início das obras através, veja que absurdo, do exército brasileiro. Então, é por isso que nós estamos aqui. Porque ele não atendeu ao que assinou e enganou a nós todos.

Radioagência NP: Houve algum retorno do governo sobre os pedidos de reabertura do diálogo?

FC: Não teve nenhum outro tipo de retorno. E olha que os movimentos populares se manifestaram e continuam se manifestando. O povo se mobilizou. E o governo se manteve surdo diante do clamor do povo. Então, quando a razão se extingui, quem sabe a loucura não é o caminho? Radioagência NP: O presidente Lula conhece a região, onde viveu parte de sua infância. Na sua opinião, ele acha que este projeto é o mais adequado ou existem interesses políticos e econômicos que norteiam esta decisão?

FC: Infelizmente, foi aquilo que eu disse pra ele [o presidente Lula]. Ele foi eleito para ser o presidente de todos os brasileiros, especialmente dos pobres deste país. E de modo especialíssimo, os seus irmãos conterrâneos. Só que infelizmente, o presidente Lula se tornou refém do capital e hoje ele governa o Brasil não para o povo, mas para pequenos grupos de interesse econômico.

Radioagência NP: O governo prometeu também um processo de revitalização do rio, junto com a transposição, recuperando as áreas degradadas. Como está este processo?

FC:Infelizmente o projeto de revitalização está atrelado com o projeto de transposição. E uma coisa não tem nada a ver com outra. Nós queremos que haja um projeto de revitalização, mas não atrelado a o de transposição. Mas, todos os projetos ligados à revitalização acontecem via prefeituras municipais. E você sabe que existe prefeitura e existe prefeitura. Então, tem muito recurso que está sendo aplicado e tem muito recurso que a gente não vê nem o cheiro dele.

Radioagência NP: E as 530 obras previstas no Atlas do Nordeste para solucionar o problema da seca no semi-árido, como estão?

FC: A isso daí eles não dão valor. Por quê? Porque não corre dinheiro. O projeto de transposição corre muito dinheiro que pode ser usado para outras coisas paralelas. E a previsão do Atlas é muito mais voltada para os reais interesses da população do Nordeste, mas infelizmente não se dá o valor devido.

Radioagência NP: O senhor pretende falar pessoalmente com o presidente Lula?

FC: Não tenho interesse nenhum em falar com ele. Só quero que ele arquive o projeto e mande o exército sair dos eixos. Agora, se ele quiser falar comigo, a gente está aqui à disposição, mas desde que ele atenda aquilo que está sendo exigido.
De São Paulo, da Radioagência NP, Vinicius Mansur.



Fontes: Agência Notícias do Planalto, MST, FEAB-Grupos.
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