por Roberto Malvezzi (Gogó*)
Vivemos uma época onde o bom senso não diz mais nada. É preciso oescândalo. Assim como o escândalo do pregado na cruz. Por isso os discursos formais tornam-se insignificantes diante do gesto dele.
Frei Luís não quer chamar a atenção sobre si mesmo. Quer que olhemos para nós e para nossos filhos. Afinal, em que país nossos filhos viverão? Em que planeta? Um país de rios devastados, sem florestas, sem biodiversidade, dominado por monoculturas, apropriado por uma elite nababesca e indiferente, tecnicista e predadora. Talvez em um planeta tórrido, onde a vida humana sobreviva em um número restrito e novamente primitivo.
Não há horizonte à vista, não há luz no fim do túnel. Ele costuma dizer que "um gesto profético a gente sabe onde começa, mas nunca onde termina". Pelos sinais até o momento, na sua própria morte. Se for, será vida dada, não tirada. Ele é o responsável pelo que acontecer. Mas a tarja preta do luto irá acompanhar definitivamente as autoridades que não se abrem para entender seu gesto.
Há outras possibilidades. Os 12 milhões do governo tornam-se pouco diante da possibilidade de beneficiar 44 milhões de pessoas com as obras do Atlas do Nordeste (34 milhões beneficiados por adutoras) e da Articulação do Semi-árido (10 milhões beneficiados pela coleta de água de chuva), tudo pela metade do custo e sem impactar ainda mais o rio São Francisco.
Ele sabe o que faz, sabe o que diz. As gerações futuras, num futuro muito breve, terão como referência dessa geração apenas pessoas como Chico Mendes, Anselmo, Dorothy, Frei Luís. Os omissos, ninguém saberá sequer que existiram. Quanto aos predadores, particularmente os que ocupam o poder, serão execrados pela crueldade da história, tamanha sua pequenez.
Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra - CPT, colaborador e articulista do EcoDebate
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/