terça-feira, 31 de março de 2015

Dilma assentou menos famílias que Lula e FHC; meta é 120 mil até 2018

No 1º mandato, foram 107 mil; nova presidente do Incra tomou posse. Para CPT, há retrocesso e abandono da reforma agrária; governo nega

Thiago Reis e Renan Ramalho*

A nova presidente do Incra, Lúcia Falcón, afirmou após tomar posse nesta segunda-feira (30) que até o final do ano pretende realizar o assentamento de 11 mil famílias em áreas destinadas à reforma agrária. Ao final dos quatro anos do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, disse, a meta é assentar 120 mil famílias, conforme compromisso da própria presidente.

No primeiro mandato de Dilma, o número de famílias assentadas é menor que o registrado por Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro e em seu segundo mandatos e por Fernando Henrique Cardoso em cada um de seus dois governos.

De 2011 a 2014, 107.354 famílias sem-terra foram beneficiadas pelo governo federal, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nos governos Lula e FHC, o número de assentados jamais foi inferior a 200 mil. No ano passado, por exemplo, 32 mil famílias foram assentadas, superando a meta estipulada pelo governo de 30 mil. Mesmo assim, o número é inferior ao de todos os anos dos antecessores de Dilma.

Para José Batista Afonso, da Comissão Pastoral da Terra, foi consolidado no governo Dilma um movimento de abandono da reforma agrária. “O governo elegeu como modelo de desenvolvimento no campo o agronegócio. Além disso, houve acordos com a bancada ruralista no Congresso que fizeram com que o governo sacrificasse não só o assentamento de famílias sem-terra, como também a demarcação de terras indígenas e a regularização de áreas de comunidades remanescentes de quilombos. Houve um retrocesso imenso.”

O total de área incorporada para a reforma agrária no governo Dilma também é bem menor que nos governos anteriores. Foram 2,9 milhões de hectares de terra em quatro anos. Antes, a pior marca era a do segundo governo FHC (8,6 milhões de hectares).

Questionada sobre como avalia o ritmo menor de assentamento nos últimos anos, a nova presidente do Incra disse que a prioridade foi a qualidade do processo de reforma agrária.
“Tivemos necessidade, em alguns momentos, de acelerar o assentamento e, nestes últimos anos, foi priorizada a qualificação desses assentamentos. Foi priorizado investimento para agregar valor no processo produtivo. Agora, estamos entrando numa terceira fase, eu diria, em que precisamos fazer as duas coisas ao mesmo tempo”, disse Falcon ao G1.

A nova presidente do Incra disse que em 30 dias apresentará uma proposta para desburocratizar a obtenção de terras, uma das metas de sua gestão.
“[Temos] que providenciar não somente o assentamento dessas famílias, mas principalmente agregar valor ao processo produtivo. Temos que pensar no desenvolvimento dos territórios. Eu não acredito no desenvolvimento de um assentamento isolado. Como uma fábrica isolada não muda o desenvolvimento de uma região, ela precisa formar uma cadeia produtiva, um arranjo produtivo. É assim que eu penso os assentamentos, formando cadeias de proteção, com produção de alimentos saudáveis, segurança alimentar, segurança hídrica inclusive”, completou.

Qualidade e quantidade
Antes mesmo da posse da nova presidente, o discurso do Incra no governo Dilma sempre foi o de "combinar quantidade e qualidade", convertendo os assentamentos em comunidades rurais autônomas integradas, um diferencial em relação a governos anteriores.

O órgão diz alcançar ano a ano uma maior cobertura de assistência técnica, com mais e mais famílias atendidas em todo o país. Em 2014, o Incra diz ter atendido o maior número de famílias de toda a sua história: 332.941. Foram feitos investimentos de R$ 369,4 milhões.

Para José Batista Afonso, o discurso é “falso”. “Na verdade não melhorou a qualidade dos assentamentos. Boa parte das políticas executadas pelo Incra foi retirada do órgão, como a construção de casas, que ficou sob responsabilidade do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. Aqui em Marabá (PA), por exemplo, o resultado é que nos últimos dois anos não foi feita nem uma casa sequer nos assentamentos. E não adianta dar assessoria técnica se não houver recursos para abertura de estradas e construção de pontes e crédito para investir na produção.”

Em nota, o Incra informa que as obras de infraestrutura, como acesso a estradas e pontes, são executadas por meio de uma chamada pública nacional que possibilitou ao órgão fazer convênios com governos estaduais e municipais. Por meio dos convênios, em 2014 foram contratadas obras para recuperação e abertura de estradas vicinais, com investimentos de R$ 221 milhões, afirma. Para 2015, o Incra diz que o orçamento para a área “será de igual valor ou com perspectivas de crescimento”.

Sobre a nova política do Minha Casa, Minha Vida, o Incra diz que “a inclusão dos assentados entre o público atendido, sob a responsabilidade do Ministério das Cidades, representou um passo significativo para a ampliação dos investimentos em infraestrutura já realizados”. “Contratos assinados por quase 5,3 mil famílias com Banco do Brasil ou Caixa Econômica para construção ou reforma de casas e projetos entregues nessas entidades financiadoras relativos a 18,7 mil famílias demandaram recursos de R$ 474,5 milhões”, diz a nota.

O Incra cita ainda outros programas, como o Água para Todos, que abastece 55 mil famílias assentadas, e o Terra Forte, que fomenta a agroindústria em assentamentos e alcança 26 mil famílias, como exemplos de investimentos no país.

*Fonte: G1

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