sexta-feira, 2 de abril de 2010

Documentário faz boa contextualização do ativismo de John Lennon

Thiago Ney*

Em 1972, Richard Nixon buscava se reeleger presidente dos EUA em meio ao crescimento de movimentos populares contrários tanto à Guerra do Vietnã quanto ao preconceito racial. E por que raios um rockstar tinha que se meter no meio disso?

É mais ou menos o que diz um ex-agente policial norte-americano a respeito de John Lennon (1940-1980), em entrevista que está no documentário "Os EUA contra John Lennon".

Dirigido por David Leaf e John Scheinfeld, esse filme de 2006 finalmente estreia no circuito paulistano de cinema.

O documentário se debruça sobre uma vasta quantidade de material de arquivo, como fotos e vídeos, além de entrevistas com gente como Yoko Ono, agentes do FBI, os jornalistas Walter Cronkite e Carl Bernstein, enfim, pessoas que estavam próximas ao que ocorreu à época (final dos anos 1960/início dos 1970).

Desde a metade dos anos 1960, a vida de Lennon passou a sofrer "monitoramento" das autoridades tanto dos EUA quanto do Reino Unido devido ao seu constante envolvimento em causas como gente sendo presa sem passar por julgamento na Irlanda do Norte.

Panteras Negras
Ao mudar-se para Nova York com Yoko, o beatle tornou-se próximo de grupos como os Panteras Negras. Lennon, por exemplo, levou Bobby Seale, um integrante dos PN, a um "talk show" na TV americana e fez campanha pela libertação de John Sinclair, poeta e ativista que havia sido condenado a dez anos de prisão por ter dado dois baseados a uma policial disfarçada (Sinclair foi, também, empresário da banda proto-punk MC5).

Lennon ajudou a organizar um concerto para Sinclair, no qual estavam presentes Allen Ginsberg e Stevie Wonder (Lennon ainda compôs a faixa "John Sinclair"). Dias depois do evento, Sinclair foi solto.

Em lua de mel com Yoko, Lennon e a mulher fizeram o famoso protesto "bed-in" em hotel em Amsterdã, contra a Guerra do Vietnã. Repetiram a iniciativa em Montréal (Canadá). O autor de "Give Peace a Chance" estava se tornando inconveniente ao governo Nixon em um ano de eleição --e ano em que o direito a voto nos EUA baixou de 21 para 18 anos.

Então, em 1972, veio o processo de deportação de Lennon. A desculpa: Lennon havia sido pego com drogas no Reino Unido anos antes. O ex-Beatle e Yoko então contrataram um advogado especializado em imigração para defendê-los.

Polêmicas
O ponto central de "Os EUA contra John Lennon" é claramente o processo de deportação, embora o filme dedique relativamente pouco tempo ao processo em si.

O documentário procura buscar as causas que levaram Lennon a se tornar um rebelde, um rockstar que se tornou um ativista em favor da paz.

Assim, vai atrás desde a juventude em Liverpool até entrevistas nos anos 1960 em que ele fazia declarações polêmicas como "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo".
Há certa dose de sentimentalismos, saídas principalmente de Yoko e do escritor e ativista paquistanês Tariq Ali.

Mas o filme proporciona uma ótima contextualização política e social graças a depoimentos de nomes como o escritor Gore Vidal.

OS EUA CONTRA JOHN LENNON
Diretor: David Leaf e John Scheinfeld
Produção: EUA, 2006
Classificação: 18 anos

Veja onde assistir ao filme em São Paulo

*Fonte: Folha de S.Paulo
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