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Kreen-Akorore
Carlos Drummond de Andrande – 1977
Gigante que recusas encarar-me nos olhos
Apertar minha mão temendo que ela seja
Uma faca, um veneno, uma tocha de incêndio;
Gigante que me foges, légua depois de légua,
E se deixo os sinais de minha simpatia,
Os destróis: tens razão.
Malgrado meu desejo de declarar-te irmão
E contigo fruir alegrias fraternas
Só tenho para dar-te em turvo condomínio
O pesadelo urbano de ferros e fúrias
Em continuo combate na esperança de paz
- uma paz que se esconde e se furta e se apaga
Medusa de medo, com tu, akorore,
Na espessura da mata ou no espelho sem fala
Das água do Jarina.
Carlos Drummond de Andrande – 1977
Gigante que recusas encarar-me nos olhos
Apertar minha mão temendo que ela seja
Uma faca, um veneno, uma tocha de incêndio;
Gigante que me foges, légua depois de légua,
E se deixo os sinais de minha simpatia,
Os destróis: tens razão.
Malgrado meu desejo de declarar-te irmão
E contigo fruir alegrias fraternas
Só tenho para dar-te em turvo condomínio
O pesadelo urbano de ferros e fúrias
Em continuo combate na esperança de paz
- uma paz que se esconde e se furta e se apaga
Medusa de medo, com tu, akorore,
Na espessura da mata ou no espelho sem fala
Das água do Jarina.
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Os Krenakore ou Kreen-Akorore como se autodenominam ou Panará (índios gigantes) como são mais conhecidos, habitavam o Norte do Mato Grasso e o Sudoeste do Pará, na região das cabeceiras do rio Iriri. Foram quase dizimados durante a abertura da BR-163 (Cuiabá-Santarém), em pleno ano de 1973, por epidemias de gripe, malária e verminose após o contato com a frente de abertura da rodovia.
Doentes após o contato, foram retirados de suas terras, levados de avião e colocados no Parque Indígena do Xingu, ao lado de grupos inimigos e num ambiente completamente diferente daquele tradicionalmente habitado.
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Em novembro de 1994, os Panará convocaram os líderes dos povos do Parque do Xingu para uma reunião na aldeia do rio Arraias, para apresentar e discutir o plano de retorno para o território original. Conseguiram retorno para parte daquilo que foram as suas terras, no que restou da devastação causada por pastagens e garimpos em Peixoto de Azevedo.
Em dezembro de 1994, a Funai concluiu o processo de identificação e delimitação da Terra Indígena Panará. Ao longo de 1995 e 1996, gradualmente, os Panará foram se mudando para uma nova aldeia, a qual batizaram de Nãs’potiti, nome panará para o rio Iriri.
Em agosto de 2003, os Panará foram protagonistas de um fato inédito na história do país: pela primeira vez, o Poder Judiciário reconheceu a um povo indígena o direito de indenização por danos morais decorrentes das ações do Estado.
Atualmente, são aproximadamente 300 indivíduos, quatro vezes mais o número dos sobreviventes que foram levados ao Parque do Xingu.
Os Panarás são símbolos de toda a tragédia que a sociedade brasileira promoveu e promove contra os povos indígenas, ao mesmo tempo que representam uma das muitas formas de resistência desses povos.
Saiba mais:
Panará: a volta dos índios gigantes -Resenha da antropóloga Elizabeth Ewart sobre o livro de mesmo nome autoria de Ricardo Arnt, Lúcio Flávio Pinto e Raimundo Pinto, com fotos de Pedro Martinelli. Para comprar o livro acesse a Loja Virtual - Instituto Socioambiental
Conheça mais sobre os povos indígenas do Brasil clicando em http://pib.socioambiental.org/pt
Baixe: PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL