Da séria “a hidrelétrica que só destrói e não
produz energia,” vem de Rondônia a notícia de que uma ponte metálica centenária
da histórica Estrada de Ferro Madeira-Mamoré pode desabar a qualquer momento
sob impacto da cheia do lago da hidrelétrica de Santo Antônio,
no rio Madeira que impactou também o rio Jacy, sobre o qual está a ponte, no
distrito de Jacy Paraná, há noventa quilômetros de Porto Velho.
Faltando
poucos centímetros para submergir na represa, nenhuma ação de preservação foi
realizada pelo Consórcio Santo Antônio Energia para proteger a ponte que data
sua construção do inicio do século passado. Com o aumento do volume d’água que
forçava a ponte sentido rio abaixo, há poucos dias a UHE Santo Antônio abriu um
valão na cabeceira da ponte para aumentar a vazão do rio, assim como para transposição
de pequenas embarcações. Trilhos foram arrancados e levados para lugar incerto.
Porém,
esta vala aberta está colocando em risco a cabeceira de outra ponte localizada ao lado, esta de concreto, que
está sofrendo ação erosiva, podendo colocar risco a trafegabilidade na BR 364.
Se persistir o canal improvisado, pode ser necessária uma ação reparatória na
cabeceira da ponte de concreto, isolando o estado do Acre do resto do Brasil.
Perdas
históricas
A
ponte de ferro Jacy Paraná foi importada dos EUA no inicio do século passado e é a
ponte metálica com o maior vão livre existente no país, com 83,90 metros. É parte do projeto da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré, o empreendimento tocado por americanos entre os anos de 1907 e
1912, com aproximadamente 20 mil trabalhadores em meio à floresta amazônica e
com objetivos de acessar o território boliviano para escoamento de látex de
seringais. A EFMM garantiu para o Brasil
a posse da fronteira com a Bolívia e permitiu a colonização de vastas
extensões do território amazônico, a partir da cidade de Porto Velho, fundada como
parte das obras. Milhares de trabalhadores morreram nas obras, principalmente
devido a doenças tropicais.
A Santo
Antônio Energia também foi à responsável pelo desaparecimento do chamado “Marco Rondon”, que ficava localizado
nas proximidades da barragem, a jusante do empreendimento. A abertura das
comportas provocou um forte banzeiro (ondas no rio) que acabou levando boa
parte do barranco. Como a empresa parece não ter previsto os impactos, também
não promoveram a retirada do marco histórico, que acabou sendo levado pelo Rio
Madeira. Uma operação de resgate do “obelisco centenário” foi realizada pela
Santo Antonio Energia, porém apenas dois “cacos” da peça histórica foi
resgatada.
O marco
afixado pelo sertanista em 1911, delimitando a então divisa entre os estados do
Amazonas e Mato Grosso. Além do monumento,
foram destruídas dezenas de casas de ribeirinhos.
O “Marco Rondon” era visitado constantemente por andarilhos, pessoas comuns, estudantes e até acadêmicos de história que queriam conhecer um dos símbolos significativos da historia local, tombado como patrimônio histórico dentro das delimitações do sítio arqueológico da Madeira Mamoré.
Veja o
vídeo do marco destruído: