quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meu Pai, Meu Herói, que Deus o Tenha.

Por Claudemir Gilberto Ramos*

Meu pai era um líder, meu herói, cumpriu sua missão! Deus deu a missão do bem e o demônio deu a missão do mal para cada ser humano cometer a maldade que quiser; Deus deu a missão do bem para todos, mas os do mal preferiram ficar com a missão da maldade, e sei que muitos dos ideais da esquerda da qual faço parte não acredita em Deus. Eu acredito e sirvo a este Deus do bem, todo poderoso.

Seu filho, Jesus Cristo, morreu por nós. Para mim, o maior revolucionário do mundo, que morreu de braços abertos, ressuscitou no terceiro dia e vive em nós. Cada um tem seu livre arbítrio, eu sou do caminho de Deus, da justiça para todos, da moradia digna, do salário digno, da saúde e da educação para todos. E terra para trabalhar, terra da qual ninguém e dono, e sim Nosso Deus, que deixou a terra para ser igualitária para todos.

Deixou a natureza para ser respeitada, a floresta para gerar vida, água para beber, ar puro para refrescar do calor, para nos alimentar, para os animais viverem, assim como para os nossos irmãos índios viverem em seus lares, viverem sua liberdade. Tudo isso Deus nos deixou, mas não está sendo respeitado por homens do mal, gananciosos, poderosos, assassinos da floresta, de seres que vivem na floresta assassinando os que defendem a floresta, assim como Chico Mendes.

Meu pai, como tantos outros no mundo todo, como o casal do Pará, José Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa, Maria do Espírito Santo, que vivia da extração de castanhas, denunciava a ação de madeireiros e carvoeiros na região.

Pela luta em defesa da natureza, pela construção de um país mais humano, caiu em combate no dia 24 de maio de 2011 no assentamento Praia Alta da Piranheira, executados a tiros por pistoleiros a serviço de madereiros.

Como dizia seu Zé Castanha: “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci”.

Na construção de um outro mundo justo, igual e cheio de alegria, lembraremos os companheiros que caíram em combate e gritaremos com alma e coração: "José Claudio e Maria - PRESENTES!"

Meu pai não morreu, foi assassinado, tiraram sua vida na marra, da maneira mais covarde possível. Mataram a tiros na frente de suas filhas de dois e quatro anos, na frente de sua esposa. Ainda bem que não matou as filhas e a esposa. Ele ia vender verduras produzidas em sua terra para dar sustento à família, afinal os sem terra querem a terra para isso para produzir e alimentar sua família, não como alguns que pegam a terra para negócio de exploração.

É verdade, tem muitos sem terra que não dão valor à luta e se vendem. Esses são os maus sem terras, baderneiros, mas temos que separar o joio do trigo.

Meu pai foi um bom exemplo para a sociedade. Deu sua vida para o bem do ser humano e de nossas causas sociais. Pai, meu querido, o capitalismo nos separou por onze anos, e com muita tristeza que digo isto, nem no seu enterro pude ir. Sei que o senhor morreu, mas mesmo vendo as fotos que foram publicadas pela imprensa eu não consigo acreditar que o senhor se foi. Tenho que aceitar a realidade. Muitas vezes me deu vontade de ir com o senhor para lutar, mas como o senhor sabia, se eu tivesse ido teria morrido muito antes do senhor, pois minha cabeça estava a prêmio por latifundiários de Rondônia.

Fui condenado em um julgamento da justiça de Rondônia. Pra mim, injustiça é lutar por meu direito a Reforma Agrária e tantos outros que estavam pela Fazenda Santa Elina, em Corumbiara. Hoje vivo fugindo como se fosse bandido, por lutar por meus direitos de cidadão. Não cometi crime algum, até porque não existe prova nos autos do processo. Fui torturado, dado como morto pela Polícia Militar e jagunços fardados que assassinaram vários na Fazenda Santa Elina, inclusive a menina Vanessa, de 6 anos, morta a tiros por homens covardes.

Assim como o senhor, Pai, uma semana antes de sua morte sonhei com o senhor assassinado por tiros. Fiquei a semana toda angustiado, mas como não podia prever o futuro mataram o senhor, meu pai, meu herói, meu exemplo de vida. Honrarei a lei de Deus como está na Bíblia Sagrada: honrarás seu pai e sua mãe, e farei seguindo seu bom exemplo, pois sei que o senhor tinha erros, como todos os seres humanos.

Pai, o que eu não pude pedir em vida pedirei agora, e espero que o senhor esteja junto de Deus, pois oro a Deus para perdoar seus pecados e o receber como um anjo no céu. Pai, me perdoa pelos erros que cometi, que magoaram o senhor e que não foi do seu bom exemplo e assim. Peço perdão a Deus!!!

Em toda a esfera da sociedade, comunidade, povoados, família, temos que ter um líder, seja mulher ou homem, para nos orientar, se organizar, se formar, se unir para trabalhar e lutar por nossos direitos de ser humanos que somos, e um destes líderes foi meu pai, meu herói.

Te amo, Pai, eternamente em nome de nossa família descanse em paz no paraíso e ao lado de nosso Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hasta la victoria, siempre!!! (Che Guevara). Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás

A luta de meu pai terminou, mas peço a Deus forças para que eu possa cobrir o vácuo que ficará com a morte do Dinho. Povo de Rondonia, não esmoreça, não tenham medo, pois o que eles mais querem é um povo medroso, covarde e que aceite tudo como eles querem. Covardes são eles, medrosos são eles, por que quanto o povo se revoltar, pode tomar tudo o que é de vocês por direito.

E para aqueles que necessitam de dinheiro, perde a honra e o caráter de matar por dinheiro. Sonho um dia ver esses matadores de aluguel pegarem um lavrador no braço para ver quem sobrevive. Como dizia Martinho da Vila, “você com um revolver na mão é um homem feroz, feroz. Sem ele anda de lado...”

Lutem, Avante Povo Sofrido, povo de Deus, A LUTA NÃO PARA, CONTINUA!!!


* Filho de Adelino Ramos, camponês assassinado na semana passada em Rondônia por denunciar a ação de madeireiras. É sobrevivente do massacre de Corumbiara em 1995. Claudemir não pôde comparecer ao sepultamento do pai, no último domingo (29) em Theobroma, interior de Rondônia, por ser considerado foragido da Justiça desde 2004.
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