domingo, 5 de maio de 2013

Imprensa é impedida de registrar ocupação em Belo Monte

Homens da Força Nacional de Segurança e Policiais Militares do Pará, acompanhados de um oficial de justiça, cumpriram esta tarde de sexta-feira (03 de maio) mandado de reintegração de posse para a retirada de "não índios" da área onde fica o escritório do CCBM - Consórcio Construtor de Belo Monte.

O local foi ocupado por um grupo de cerca de 120 índios de várias etnias, a maioria da tribo Munduruku, em protesto contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, e de dezenas de outras usinas nos rios Tapajós e Teles Pires. Os índios protestam também contra a decisão do governo de não dialogar com as comunidades locais e de não realizar a consulta prévia prevista por lei. Os militares retiraram três jornalistas que registravam a movimentação, entre eles um cinegrafista de uma TV francesa e um fotógrafo freelancer da Agência Reuters.

Os índios tentaram impedir que os jornalistas fossem expulsos, alegando que eles eram as únicas testemunhas no caso de uma ação violenta por parte dos militares, que usavam coletes à prova de balas, capacetes e escudos para situações de confronto e estavam armados com fuzis e escopetas. Mas os jornalistas decidiram cumprir a ordem judicial, mesmo não concordando com ela, para evitar confronto.

Não é a primeira vez que o Consórcio Construtor e a Norte Energia, empresa responsável por Belo Monte, recorrem a liminares judiciais para cercear o trabalho da imprensa. No ano passado, em situações semelhantes, as empresas obtiveram na justiça liminares de "interdito probitório", para impedir que jornalistas e ambientalistas acompanhassem manifestações contrárias à construção da usina.

Os homens da Força Nacional e da PM esperaram a saída da equipe da TV Liberal, que também trabalhava no local do protesto, para cumprir a ordem de expulsar os outros jornalistas que permaneciam ali e evitar que a ação fosse gravada. Mas os jornalistas fizeram imagens e fotos da chegada dos militares e do momento em que foram expulsos.
Neste domingo (04 de maio), os indígenas divulgaram uma carta na qual pedem a permanência de jornalistas no local.

Confira a íntegra da carta abaixo:

Deixem os jornalistas aqui
Ontem o governo enviou um assessor para apresentar uma proposta a nós que estamos ocupando o canteiro de obras. Junto com eles vieram 100 policiais militares, civis, federais, Tropa de Choque, Rotam e Força Nacional.

Nós não queremos assessores. Queremos falar com a sua gente de governo que pode decidir. E sem seus exércitos.


O funcionário queria que saíssemos do canteiro e que só uma pequena comissão falasse com gente de ministério. Nós não aceitamos. Nós queremos que eles venham para o canteiro e falem com todos nós juntos.


Ontem a Justiça expediu liminar de reintegração de posse apenas para os brancos. Com essa decisão, a polícia e o oficial de justiça expulsaram dois jornalistas que estavam nos entrevistando e filmando, e multaram um jornalista em mil reais. E expulsaram um ativista.


A cobertura jornalística ajuda muito. Nós exigimos que a juíza retire o pedido de reintegração de posse, não aplique multas e permita que jornalistas, acadêmicos, voluntários e organizações possam continuar testemunhando o que nós passamos aqui, e ajudar a transmitir nossa voz para o mundo.

Ocupação do canteiro de obras Belo Monte, Vitória do Xingu, Sábado, 4 de maio de 2013
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