Por Edilberto Sena*
Quando três ou quatro anos atrás se fez um comentário profético sobre o destino da população do município de Juruti, por causa da presença da multinacional mineradora ALCOA, houve reações de contrariedade de vários ouvintes radiofônicos. O comentário de então, utilizou a parábola do Lobo Mau e Chapeuzinho Vermelho, para contextualizar a vida daquele município.
A presença na Amazônia, de uma empresa capitalista de ambição sem medida por enriquecimento, mineradora louca para se apossar dos minérios da região, ainda que tenha todas as licenças da “generosa” legislação brasileira, até hoje nunca trouxe melhoria de qualidade de vida para as populações locais.
Exemplos não faltam, como a do manganês no Amapá, a do ferro e outros minérios de Carajás, a de bauxita do Trombetas e agora da bauxita de Juruti. O negócio só é bom para as empresas que retiram um bem não renovável, enchem seus cofres e deixam a desgraça para os locais, com algumas migalhas. Elas não sentem responsabilidade pela melhoria da qualidade de vida dos moradores tradicionais que existiam ali antes de sua chegada. Alegam que pagam os royaties (migalhas diante do que arrecadam para si) e o Estado que assuma sua parte.
Hoje a população de Juruti sofre conseqüências que só vão aumentar nos próximos anos (70 anos pensa a empresa ficar no município saqueando todo o minério que for possível). A cidade, antes tão pacata, boa de se viver, cuja preocupação maior eram as terras caídas na frente do porto, hoje é um foco de violência, mortes e insegurança. Lá dentro do canteiro da empresa a segurança é total, é a paz quase celestial. Na cidade são vários os tipos de crimes e violências, drogas, violência sexual, muitos acidentes de trânsito, crimes passionais, prostituição, entre outros.
É o preço do progresso, dizem alguns e a empresa que começa a exportar minério bruto nos próximos dias, não sente nenhum resquício de responsabilidade moral por isso. Já era previsível tal situação? Sim, embora muitos evitavam tocar no assunto.
Chapeuzinho Vermelho tem mesmo que ser devorada pelo Lobo Mau? Enquanto a Amazônia continuar como colônia avalizada pelos governos federal, estadual e municipal, com as leis favorecendo o saque das riquezas, realmente não tem jeito, o Lobo Mau continuará devorando a vovozinha, chapeuzinho vermelho e quem mais se meter na frente.
Mas poderia ser diferente? Sim. Como já deu um sinal, ainda que pequeno, a Associação de Moradores de Juruti Velho, que foi à luta e tudo indica que terá um pouco mais de usufruto das riquezas, se os compromissos forem cumpridos. Também numa visão mais ampla, têm-se os exemplos da Bolívia, Equador e Venezuela, que tentam novos caminhos de partilha das riquezas com seu povo.
Podem criticar Hugo Chaves, ele tem sim defeitos, mas tenta um caminho em que seu povo usufrui da sua maior riquezas, o petróleo. Quem lê e ouve um pouco mais do que diz a TV Globo, percebe que há um novo caminho trilhado pelo bem dos mais pobres.
Mas na Amazônia brasileira, o que prevalece é o saque das riquezas, o usufruto das grandes empresas, maior parte delas, multinacionais e para os povos locais, as migalhas e os impactos negativos sócio-ambientais.
Diante do panorama hoje revelado em Juruti, quem precisa acordar e reagir? Enquanto o poder público municipal continuar como a vovozinha, deitado na cama, conformado com as migalhas, enquanto Chapeuzinho Vermelho, os moradores do município, continuarem passivos, conformista, aí não tem jeito, serão todos comidos, porque o Lobo Mau é feroz.
*Padre diocesado e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém, Pará. Editorial de 19 de agosto de 2009.
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