sábado, 20 de fevereiro de 2010

Matriz da Alcoa decide se vai à Belo Monte

Ivo Ribeiro e Josette Goulart*

A Alcoa, multinacional americana do alumínio, deve decidir até este fim de semana se participa do projeto de construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, na condição de autoprodutor. Segundo apurou o Valor com fontes dos setores de alumínio e elétrico, o presidente da companhia na América Latina, Franklin Feder, viajou para os EUA no início da semana para discutir o tema com altos executivos da empresa, sediada em Nova York.

Vários pontos cruciais para a decisão foram levados na bagagem do executivo. Um deles é o valor final da energia ao autoprodutor que compuser o consórcio que irá disputar a licitação, considerando os custos ambientais adicionais que vão resultar das condicionantes impostas na licença ambiental prévia concedida pelo Ibama. Nas contas da empresa, isso elevaria em 50%, para cerca de R$ 4,5 bilhões, o valor total de investimentos no quesito social-ambiental.

A multinacional já expressou em entrevistas anteriores que vê no projeto Belo Monte uma oportunidade única de oferta de energia para seus planos de expansão no Brasil. Com essa energia, poderá instalar uma nova fábrica e um local cotado é Altamira, próximo da obra da usina. Um dos fatores de limitação é o preço: para a empresa, acima de US$ 30 o Mwhora a rentabilidade da nova fundição fica comprometida frente ao preço do metal no mercado internacional. O peso da energia no custo de produção de uma tonelada de alumínio chega a até 35% do total.

Depois de atingir mais de US$ 3 mil a tonelada, a cotação do alumínio, no auge da crise, desabou para US$ 1,3 mil. Atualmente, está na faixa de US$ 2,2 mil a US$ 2,3 mil a tonelada, conforme negociações na Bolsa de Londres.

Outro fator que pesa contra a Alcoa no Brasil é a concorrência de investimentos dentro do próprio grupo. No momento, a companhia desenvolve em parceria um projeto de alumínio de US$ 10 bilhões na Arábia Saudita, onde o preço da energia, à base de gás abundante, sairá por cerca de US$ 20 o Mwh. Hoje, a empresa tem duas fábricas no Brasil: Poços de Caldas (MG) e Alumar (MA) e já garante 45% de energia própria. Com novos investimentos em curso em hidrelétricas, em 2011 chegará a 70%.

Além da questão do preço da energia e dos custos ambientais e sociais da obra, a Alcoa ainda não sente segurança no que chama de regra de entrada e saída do autoprodutor no consórcio. A empresa estava conversando com os dois consórcios existentes: um deles é liderado pela Andrade Gutierrez e outro pela Camargo Corrêa e Odebrecht.

Mas o consórcio da Andrade foi fechado na semana passada com a Neoenergia e os autoprodutores que integram o consórcio da construtora são Votorantim e Vale. Assim só restou o consórcio da Camargo e Odebrecht. Fontes das construtoras contam que além da Alcoa, a Braskem deve fazer parte do consórcio. Se a empresa de alumínio desistir de participar da disputa quem deve entrar na sociedade é a Camargo Corrêa Cimentos. O consórcio das duas construtoras só será fechado depois de publicado o edital do leilão, mas já tem como sócios a Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, e ainda o FI FGTS (fundo de infraestrutura). Até lá, ainda há pressão para que algumas regras sejam alteradas.

Quem está correndo por fora é a GDF Suez. Durante o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, o presidente da empresa no Brasil, Maurício Bahr, disse que é praticamente impossível que qualquer empresa vá sozinha ao leilão. Existia informações correndo no mercado de que a Suez formaria um terceiro consórcio e contaria apenas com a sociedade da Eletrobrás. A estatal federal deve ficar com 49% de qualquer um dos consórcios vencedores. Mas Bahr disse que mesmo os consórcios já fechados podem aceitar um novo sócio.

*Fonte: Valor Econômico
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