Nas primeiras décadas do século passado, o futebol já vinha se transformando em um dos mais importantes esportes do mundo. Idealizada desde 1905, um ano após a fundação da Fifa, a Copa do Mundo de futebol, pretensamente idealizada para simbolizar a união entre as nações, foi impedida de ser realizada por causa da Primeira Grande Guerra Mundial.
A crise econômica e a escolha do Uruguai
Na América Latina o crack da Bolsa afundava economias e derrubava governos como os de Bolívia, Argentina e República Dominicana, instalando ditaduras militares. Vigorava a política do Big Stick de Roosevelt nos EUA, enviando marines para combater os revolucionários liderados por Augusto César Sandino na Nicarágua.
No Brasil, após os levantes da Revolta dos Tenentes (1922) e da Coluna Prestes e da crise do café, estoura a Revolução de 30 que derruba a República Velha e o pacto entre as elites paulista e mineira e leva ao poder Getúlio Vargas e as elites até então periféricas.
Nestes anos, do outro lado do Atlântico, setores da burguesia derrotados na guerra encontram no fascismo um regime para reconstruir suas economias e controlar a população e o movimento operário. O mundo observa a ascensão do fascismo na Itália, com Benito Mussolini e o crescimento do nazismo de Adolf Hitler na devastada Alemanha.
Com os países europeus, mais tradicionais no futebol, devastados pela guerra e pela crise econômica, coube ao Uruguai sediar a primeira copa. Somente quatro seleções européias aceitaram participar: Bélgica, Iugoslávia, Romênia e França, país do então presidente da Fifa, Jules Rimet. Mesmo as promessas do governo uruguaio de custear as despesas não conseguiram furar o boicote e atrair outras seleções do velho continente. Além dos quatro países e do país-sede, também se inscreveram Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru, EUA e México.
O campeão Uruguai, que derrotou na final a Argentina por 4 x 2, era considerado a melhor equipe da época, pois fôra bicampeão olímpico (daí o apelido Celeste Olímpica) em 1924 e 1928 e tinha em seu escrete dois grandes jogadores - Andrade e Héctor Castro.
Estas disputas na cartolagem refletiam as divisões políticas nacionais, com a elite paulista em pé de guerra com o governo federal, o que dois anos depois levaria a explodir no levante conhecido como a Revolução Constitucionalista de 32. Por conta desta briga, quem saiu perdendo foi a seleção que não pôde contar com craques como Arthur Friedenreich (filho de um alemão com uma brasileira negra) e disputou somente duas partidas: perdeu para uma sofrível Iugoslávia por 2 x 1 e ganhou de uma ainda mais sofrível Bolívia por 4 x 0.
*Fonte: PSTU. Fotos: El pais (Espanha)