Os dirigentes da Eletrobrás, os executivos da Eletronorte e os técnicos do setor, ligados ou não ao governo, identificam o bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler, e o Ministério Público no Pará, como os núcleos centrais de resistência à execução do projeto da usina de Belo Monte.
É em torno deles, acreditam os técnicos, que gravitam mais de uma centena de ONGs que, como células ativas, tratam de mobilizar segmentos minoritários – porém ruidosos – da população para tentar impedir a construção da usina.
De público, os dirigentes da Eletrobrás e da Eletronorte evitam fazer ou mesmo insinuar qualquer crítica ao bispo do Xingu ou aos membros do MPF. Em conversas reservadas, porém, a avaliação mais amena que se faz é a de que eles estão trabalhando contra o interesse nacional.
Chega a ser emblemático, por exemplo, o caso de José Antonio Muniz Lopes, o presidente da Eletrobrás. Durante sua estada em Tucuruí, de segunda a quarta desta semana, ele falou muito sobre Belo Monte, mas pelo menos uma vez encerrou friamente a conversa quando um repórter insistiu em obter dele uma resposta às críticas do Ministério Público.
O máximo que se permitiu foi observar que alguns procuradores – e aí citou nominalmente Felício Pontes Júnior – já não estão mais se pronunciando sobre Belo Monte. Muniz Lopes associou o silêncio do procurador à recente decisão da Advocacia Geral da União de confrontar os membros do Ministério Público. De acordo com a Advocacia-Geral da União, ações infundadas movidas contra os agentes públicos serão rebatidas, inclusive por meio de representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que é o órgão de controle dos membros do Ministério Público.
Sobre uma recente entrevista concedida à imprensa pelo procurador da República Ubiratan Cazetta, em que este sustentou a continuidade da batalha judicial contra Belo Monte e sugeriu o recurso a fontes alternativas de energia, entre elas a eólica, José Antonio Muniz Lopes foi mordaz. “Eu não saberia interpretar uma lei, porque não sou preparado para isso”, disse ele. E acrescentou: “Se a geração eólica ou o aproveitamento da biomassa fossem suficientes para resolver os problemas energéticos do país, seria uma enorme irresponsabilidade dos órgãos que fazem o planejamento do setor não terem ainda pensado com exclusividade nessas alternativas”.
O presidente da Eletrobrás disse que o projeto de Belo Monte é o melhor arranjo de engenharia já feito até hoje no Brasil para um empreendimento hidrelétrico e se declarou convicto de que a usina vai sair. “Vai sair nem que seja na gestão dos meus netos”, disse ele, reafirmando a importância estratégica que confere ao projeto. Ele disse que Belo Monte, na concepção atual, terá capacidade instalada de 11.300 MW, para geração de energia firme de 4.500 MW.
Quando foi projetada na década de 1980, o complexo do Xingu tinha capacidade prevista para a geração de 17 mil MW. Era um empreendimento gigante, com lagos também gigantescos. Babaquara, a montante de Altamira, teria um reservatório de 6.700 quilômetros quadrados (quase duas vezes e meia o tamanho do lago de Tucuruí) e deveria gerar seis mil MW.
A usina de Kararaô, a jusante da cidade, teria um lago muito menor, de 1.200 quilômetros quadrados, mas geraria quase o dobro de energia – cerca de 11 mil MW. No arranjo atual, Belo Monte vai produzir apenas dois terços do volume previsto no projeto original e seu reservatório, com menos de 500 quilômetros quadrados, será seis vezes menor que o de Tucuruí.
Fonte: Diário do Pará
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