Em carta endereçada ao ministro da Justiça, Tarso Genro, o agricultor Marionaldo Rodrigues da Silva denuncia o que classifica como trabalho escravo na Gleba Nova Olinda, região do rio Arapiuns, município de Santarém. De acordo com o agricultor, um paranaense conhecido na região apenas como “Milton”, estaria mantendo em sua propriedade cerca de 30 trabalhadores em regime de escravidão, pois são obrigados a pagar até mesmo pelas ferramentas (terçados, machados e foices) que utilizam no trabalho.
Segundo o relato do denunciante, essas pessoas, em sua maioria homens, foram contratadas para trabalhar na “juquira”, ou seja, na derrubada da mata para o plantio de grãos e capim para pastagem de gado. Seriam trabalhadores braçais oriundos de comunidades da própria região do Arapiuns e até de outros Estados, como é o caso de Nelrivan Moura, natural do município de Timon, no Maranhão. Ele conta que conheceu em Santarém um outro trabalhador conhecido como Valdecir que o convidou para trabalhar nas terras de Milton. Sem emprego e sem imaginar que seria submetido a trabalho degradante, Nelrivan aceitou o convite e já na chegada à Gleba Nova Olinda foi obrigado a comprar ferramentas, tabaco, botas e até o alimento que iria consumir. Todos esses produtos são fornecidos por um comércio pertencente ao próprio Milton.
De acordo com Marionaldo, ao fazer as compras o trabalhador contrai sua primeira dívida com o “patrão”, sendo que o valor nunca é inferior a R$ 300,00. “Uma bota de má qualidade é vendida a R$ 60,00”, relata o denunciante. E ainda pior são as acomodações dos trabalhadores, pois são barracos cobertos com lona e cercados com paredes de palha.
Trabalho escravo chega ao garimpo de Itaituba
O caso de maior repercussão, pois virou notícia nacional, foi o do garimpo “Bom Jesus”, de propriedade do madeireiro Valmir Climaco, no município de Itaituba. A situação virou notícia nacional porque foi denunciada pelas próprias vítimas ao então ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) durante uma visita feita por ele, no último mês de maio, à região garimpeira de Itaituba.
Encorajados pela presença do ministro, da imprensa e de policiais federais, os garimpeiros denunciaram que Valmir Climaco ficava com maior parte do ouro extraído a duras penas pelos trabalhadores e ainda cobrava R$ 400,00 pela energia elétrica consumida em cada barraco.
Segundo os garimpeiros, a estrutura de poder no local era assegurada por seis homens armados, que seriam trabalhadores de Valmir Climaco. Entre os garimpeiros que tiveram coragem de fazer a denúncia, destaque para Francisca de Carvalho, a “Kika”, que afirmou categoricamente que naquele local pessoas eram mantidas como escravas, pois tudo o que ganhavam era repassado ao dono das máquinas (Valmir).
Kika contou ainda a Mangabeira Unger que três pessoas já haviam morrido no Bom Jesus por falta de atendimento médico. A causa das mortes teria sido malária, doença comum nos garimpos de Itaituba.
Fonte: Diário do Pará
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