A Polícia Federal está investigando em Anapu denúncias de existência de áreas dentro do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança em que madeira extraída ilegalmente esteja sendo estocada para retirada clandestina. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no município, toras de madeira ilegal estão sendo retiradas à noite do PDS, quando a fiscalização é menos intensa. Madeireiros do município estariam aliciando trabalhadores rurais para que derrubem e vendam árvores do PDS, área de exploração controlada.
Segundo o delegado da Polícia Federal Paulo Kisner, duas equipes da PF estão atuando em Anapu. Uma está no centro do município para impedir atos de violência e outra permanece no PDS Esperança investigando as denúncias. As duas entradas do PDS ainda permanecem bloqueadas, a partir da determinação da superintendente do Incra, Cleide Souza, que esteve em Anapu no início da semana para tentar apaziguar os ânimos entre os dois grupos contrários: os que defendem a ideia original do PDS - agricultura familiar, com o uso sustentável da floresta - e o grupo ligado aos madeireiros, que reivindicam a exploração de madeira no PDS.
A superintendente do órgão chegou a ser intimidada pelos trabalhadores rurais ligados aos madeireiros. Cleide Souza optou pela criação de guaritas nas duas entradas do assentamento para “coibir a entrada e saída de caminhão que não seja autorizado pelo Incra ou pela associação”, segundo ela. Por conta disso, acabou sendo retida no local por grupos que apoiam os madeireiros, situação que ela relatou ao Ministério Público Federal.
A superintendente relatou ainda que os madeireiros, ao impedir a saída tanto do Incra quanto de religiosos ligados à CPT, ameaçaram bloquear a rodovia Transamazônica e “expulsar” a CPT da região.
O caso foi relatado pelo MPF, via ofício, ao secretário de Segurança Pública Luís Fernandes Rocha, ocasionando o envio de soldados da Polícia Militar ao município. “O nível de tensão de que esse episódio é demonstração clara nos leva, novamente, a solicitar especial atenção à situação em Anapu, com garantias de segurança para os assentados do PDS Esperança, das irmãs da Congregação de Notre Dame e para o padre Amaro Lopes Souza, da Comissão Pastoral da Terra, bem como das demais pessoas que estão no local”, afirma no documento o procurador-chefe em exercício, Alan Mansur.
GUERRA ANUNCIADA
A tensão que se estabeleceu em Anapu poderia ter sido evitada caso as autoridades e órgãos ligados à questão houvessem desde o início dado atenção aos ofícios encaminhados pelo MPF. No dia 15 de outubro de 2010, o Comando Geral da Polícia Militar recebeu um ofício relatando o clima no município. Dois caminhões que transportavam madeira haviam sido incendiados por colonos do PDS que não aceitam a extração de madeira da área.
Além disso, as operações de fiscalização do Ibama estavam sendo feitas sem o acompanhamento do Batalhão de Polícia Ambiental, apesar da solicitação feita e dos sete veículos cedidos pelo Ibama para que o BPA apoiasse as operações contra o desmatamento.
“O clima é semelhante ao que originou o assassinato de irmã Dorothy”, avalia o procurador da República Felício Pontes Jr. Os agricultores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, que são apoiados pela Prefeitura de Anapu, querem a expulsão do padre José Amaro, ligado à CPT.
Fonte: Diário do Pará