O medo de um confronto entre trabalhadores rurais, madeireiros e caminhoneiros que agem ilegalmente no âmbito do Projeto de Desenvolvimento Social Esperança, em Anapu (PA), levou representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do governo estadual e de movimentos sociais a se reunirem, hoje (18), com famílias assentadas na área de preservação ambiental.
A conversa foi uma exigência dos próprios trabalhadores. Desde a semana passada eles bloqueiam as estradas de acesso ao assentamento, em protesto contra a falta de fiscalização que impeça a extração ilegal de madeira na região. Os assentados exigem a instalação de guaritas de segurança nas entradas como forma de impedir madeireiros e caminhoneiros de continuarem invadindo o local. Medida parecida já foi adotada em outro assentamento de Anapu, com a vigilância sendo feita por uma empresa de segurança contratada pelo Incra.
A expectativa é que com a mediação da superintendente do Incra de Santarém, Cleide Antonia de Souza, os trabalhadores aceitem liberar as estradas. Além disso, desde a semana passada efetivos da Companhia Regional da Polícia Militar de Altamira estão de prontidão.
Para o procurador da República em Altamira (PA), Bruno Gutschow, que, na sexta-feira (14), pediu ao governo estadual reforço e policiamento ostensivo na região a fim de evitar um conflito, a instalação dos postos de vigilância seria a maneira mais eficaz e permanente de impedir a ação ilegal de madeireiros.
Por telefone, o chefe substituto da Unidade Avançada do Incra em Altamira (PA), Elói Farias de Oliveira, admitiu à Agência Brasil que a localização do assentamento e a dificuldade de acesso ao local atrapalham a fiscalização, mas que a instalação das guaritas não depende apenas da vontade do instituto, sendo necessária a aprovação de outros órgãos públicos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A cidade de Anapu fica a 150 quilômetros de Altamira, de onde, eventualmente, reforços policiais são deslocados para evitar possíveis confrontos. Porém, para chegar ao assentamento ainda é necessário percorrer mais cerca de 50 quilômetros de uma estrada de terra em meio à vegetação amazônica do sudeste paraense. Além disso, a comunicação é difícil, já que nem mesmo telefones celulares funcionam na área.
Anapu se tornou mundialmente conhecida quando, em 2005, a missionária católica norte-americana Dorothy Stang foi assassinada a tiros por matadores de aluguel. Dorothy foi uma das criadoras do projeto de destinar áreas para que trabalhadores rurais desenvolvessem projetos sustentáveis na Amazônia. O grau de tensão causado pela questão fundiária é destacado por Oliveira. “Os vigias [das guaritas] teriam que obrigatoriamente portar armas porque senão os caras passam por cima deles”.
No ano passado, os trabalhadores já haviam promovido manifestações contra a ação dos madeireiros, bloqueando estradas de acesso ao assentamento e incendiando ao menos dois veículos. Na época, o Ibama foi até o local para fiscalizar a área, chegando a apreender caminhões carregados de madeira ilegal. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ações esporádicas são insuficientes para resolver o problema, pois os madeireiros tornam a invadir a área tão logo os fiscais deixam a região.
Fonte: Agência Brasil