O Presidente do STTR de Anapu, Manoel Carvalho, que se seguiu no microfone logo após Pedrinho da Fetagri, declarou que naquele município não havia madeireiros, apenas agricultores que queriam trabalhar. Aliás, o discurso do setor que se opõe à CPT seguiu praticamente o mesmo roteiro: a negação da existência de conflitos entre agricultores e madeireiros (chegando alguns a falarem que madeireiras ali nem existiam) e ao mesmo tempo e contraditoriamente, responsabilizar agricultores e membros da CPT por provocarem conflitos e roubo de madeira.
A desqualificação de religiosos e assentados que se enfrentam com as madeireiras foi a tônica dos discursos iniciais, principalmente dos grupos petistas ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu e dos políticos locais, como o prefeito Chiquinho do PT.
O Padre Amaro fez uma intervenção muito rápida na audiência, citando a pauta dos agricultores apoiados pela CPT e que impedem a entrada e saída de caminhões madeireiros do PDS. O sacerdote lembrou que o bloqueio de rodovias, acusações contra os religiosos e promessas por parte do Estado lembravam muito o cenário de 2004, nos meses que antecederam o assassinato da missionária Dorothy Stang.
Ameaças explícitas
O vereador e sindicalista Luis Sena (PT) disse em sua intervenção que o problema do local é o Padre Amaro “que só quer aparecer” e que isto estaria atrapalhando inclusive o “desenvolvimento do município”.
O vice-presidente do STTR, Jozildo Costa, também não se limitou a explicar como um município sem madeireiras e sem conflitos está em pé de guerra devido ao roubo de madeira.
Novas acusações foram feitas contra membros da CPT, seguidas de ameaças. O vice-presidente da entidade sindical chegou a declarar publicamente que “o Padre Amaro tem que ir embora, para o seu próprio bem”. Seguiram-se ainda declarações explícitas contra o Agente de Pastoral, Fábio Lourenço, que segundo Jozildo Costa, “cheira a defunto”.
Jozildo também não poupou o responsável pelo posto do Incra em Anapu, Antônio José Ferreira, a quem acusou de ser um causador de conflitos e de agir em favor da CPT.
No rosário de ameaças, sobrou até para o Procurador do Ministério Público Federal, Felício Pontes. Para Jozildo, Felício estaria “acabando com a imagem do MPF” ao defender os religiosos e assentados.
Jozildo (STTR): denúncias e ameaças contra membros da CPT
A secretária de Associação do PDS, Jaqueline Torres Carvalho, que publicamente assumiu ser uma ocupante irregular do PDS, também não poupou críticas. Acusou as irmãs Jane Dwyer e Katia Webster de serem parciais, corruptas e de vender madeira.
“Tememos que venham acontecer coisas mais graves” e “as pessoas começam a ficar nervosas”, disse a Secretaria em mais uma ameaça explícita. A secretária ainda insuflou os presentes com frases tais como “se a gente não se unir contra esse povo eles vão tomar conta da gente”.
Na intervenção de Jaqueline, novamente servidores do Incra foram acusados. Deste vez, além de Antônio José Ferreira, sobrou também para o Chefe do Divisão de Desenvolvimento da SR30, Fagner Garcia, que para Jaqueline tomou partido contra a associação. “Essas pessoas não vestem a camisa do Incra. Não merecerem sequer ser chamados de servidores públicos”, disse.
Policia promete investigar ameaças
Fábio Lourenço da CPT: ameaças se tornaram comuns
“Os ataques feitos, na audiência, contra mim e o padre Amaro, são comuns. Não foi a primeira vez que nos ameaçaram, como fez o Jozildo Carlos. Até contra [o procurador] Felício Pontes eles falaram. Fomos orientados de imediato, pela Polícia Federal que estava lá, a abrir uma ocorrência e é isso que pretendo fazer”, afirma Fábio Lourenço,que filmou toda a audiência e gentilmente repassou todo o material para este blogueiro.
A presença de forças de segurança no município se faz necessário. O servidor Antônio José conta que antes da chegada dos efetivos da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal ao município, havia dificuldade até para registrar Boletins de Ocorrência na Polícia local.
De fato, há de se pensar se diante de uma audiência pública cercada de autoridades e forças policias se explicitam tantas ameaças e acusações, o que dirá no cotidiano de áreas mais remotas, como no PDS Esperança.
Fotografias: Incra-SR30