quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Desmatamento: números não batem

Com a sua pirotécnica típica, o ministro do meio ambiente Carlos Minc anunciou e comemorou na semana passada a estabilização do desmatamento na região amazônica. Contudo, os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da ONG Imazon nunca foram tão discrepantes quando se referem ao assunto.

O INPE declara que durante os meses de outubro e novembro do ano passado, 247,6 quilômetros quadrados foram desmatados na floresta amazônica. Foi o que constatou o Deter, sistema de alerta baseado em satélites. Os dados mostram uma queda de 72,5% na devastação da Amazônia se comparado ao mesmo período de 2008.

Para o Imazon, de agosto a novembro de 2009, o desmate totalizou 757 quilômetros quadrados. No mesmo período do ano anterior, o desflorestamento somou 586 quilômetros quadrados. Ou seja, em vez de redução, a ONG avalia que houve um aumento de 29%.

Apesar das diferenças quanto ao período, o valor é extremamente diferente, mesmo se levarmos em conta a maior abrangência no período analisado pelo Imazon e a declaração do INPE de que “não pôde monitorar 1,2 milhão de km² em outubro e 2,6 milhões km² e novembro por causa da cobertura de nuvens, o que sinaliza que o desmatamento pode ser maior do que o registrado.”

Peguemos então os meses de outubro e novembro de 2009 como parâmetros:

Para o INPE, em outubro foram desmatados 175 quilômetros quadrados de floresta enquanto para o Imazon, foram 194 quilômetros quadrados.

Em novembro, há certa aproximação nos dados levantados: o INPE aponta 72 quilômetros quadrados, o Imazon indica 75 quilômetros quadrados.

Os número do INPE são utilizados pelo governo federal como oficiais e são obtidos pelos satélites Terra/Aqua e pelo Sensor WFI do satélite CBERS com resolução espacial de 250m. Pouco se comenta, mas só é contabilizada como áreas desmatadas a região onde pelo menos 25 hectares (ou 250.000 metros quadrados) tenha sua vegetação suprimida continuamente.

Já o Imazon, com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), utiliza imagens CBERS e Landsat, com resolução espacial mais fina, 20 e 30 metros, respectivamente. Obviamente o sistema também não é capaz de monitorar áreas cobertas com nuvens, mas obtém e contabiliza dados destes desmatamentos em áreas menores que 25 hectares.

Portanto, se os dados do Imazon estiverem corretos e as nuvens possibilitarem a obtenção de dados do INPE, haverá nos próximos dados oficiais um crescimento acentuado do desmatamento, devido a este acúmulo mascarado e às áreas desmatadas e não contabilizadas por nenhum dos dois sistemas de medição.

Conheça:

Relatório do DETER de outubro (INPE)

Transparência Florestal da Amazônia Legal (Outubro de 2009) (Imazon)
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Unknown disse...

Você tem um bolo inteiro sobre a mesa. Pega uma pá e arranca grosseiramente metade do bolo. No dia seguinte, com uma faca própria para cortar bolos, você retira cuidadosamente o equivalente a um quarto do bolo original... restam agora apenas 25% do que se tinha sobre a mesa.

Se usarem dados de sensoreamento acríticos e regurgitados na mídia a notícia seria algo argumentando a redução do consumo de bolo, mas na prática retaria pouco para se continuar consumindo.

São notícias divulgadas para que tenhamos a sensação de estarmos bem informados. De fato pouco se informa...

Queria ver dados do INPE ou do IBAMA contrastando a área licenciada para desmatamento e a área observada.