Se o próximo governo eleito mantiver a tendência de continuar privilegiando os empreendimentos hidrelétricos para dar conta do aumento da demanda nesta década, a região Norte, que concentra 70% do potencial hidrelétrico do país, deverá assistir à construção de novas usinas.
No lugar da bacia do rio Xingu, onde será erguida Belo Monte, e da bacia do rio Madeira, onde serão instaladas as usinas de Jirau e Santo Antônio, o foco estará nas bacias dos rios Teles Pires, Tapajós e Juruena, que, somadas, podem ter um potencial superior a 20 mil MW.
Um dos maiores projetos a serem licitados nos próximos anos é o da usina de São Luiz dos Tapajós, no rio Tapajós, no Pará, com capacidade de 6.133 MW, praticamente a mesma capacidade da usina de Santo Antônio e Jirau e que deverá receber mais de R$ 7 bilhões em investimentos, segundo estimativas do mercado. Outro projeto é a hidrelétrica de Teles Pires, no rio Teles Pires, em Mato Grosso, com capacidade de 1.820 MW, que poderá ser licitada ainda neste ano. O rio que corta Mato Grosso deve também assistir à construção de outros empreendimentos: São Manoel, Sinop, Colíder, três usinas, que, somadas, têm capacidade instalada de cerca de 1400 MW.
Para reduzir o impacto ambiental dos empreendimentos na região Norte, uma ideia para a construção das usinas da bacia do rio Tapajós, com pouco mais de 10.500 MW de capacidade, é a utilização do conceito de usinas plataformas, que se inspira nas plataformas de exploração de petróleo em alto mar. O desmatamento se restringe apenas à área da usina e pequenos canteiros de obras.
Ainda é feito um trabalho por turnos longos como nas plataformas de petróleo, sendo que os funcionários se acomodam em alojamentos temporários. Durante a construção, a permanência dos trabalhadores no local é de curto prazo, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental e evita a atração de contingentes populacionais. Com o novo conceito, estima-se que a população do entorno seja dois terços menor do que a da vista com a construção de uma hidrelétrica comum. Na conclusão da usina, o canteiro de obras é desfeito, sendo que todos os equipamentos, construções e trabalhadores que não forem essenciais à operação do empreendimento serão retirados do local.
Quem está de olho nessas licitações não são apenas construtoras e fundos de investimentos, mas também autoprodutores de energia elétrica, um grupo que reúne grandes empresas como Vale, Alcoa, CSN, Samarco. Desde a implementação do modelo do setor elétrico em 2004, a participação desses agentes foi reduzida, mas a licitação da usina de Belo Monte pode ter marcado um ponto de inflexão, ao ter estabelecido que um percentual da capacidade do megaempreendimento fosse destinado para a autoprodução.
"Isso tornou o autoprodutor um parceiro atraente para os demais empreendedores interessados no projeto e eliminou a barreira econômica existente representada pelo subsídio do mercado livre", diz o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel.
Os olhos dos autoprodutores miram os novos empreendimentos hidrelétricos que poderão ser licitados na região Norte. "Temos esperança de que o governo mantenha, para projetos de maior porte como o são os de Teles Pires e do complexo do Tapajós, o mesmo modelo de Belo Monte, ou seja, incluindo cláusula de destinação exclusiva para autoprodutores. Sem condição restritiva de ordem econômica, certamente haverá interesse dos autoprodutores em participar desses leilões."
Hoje, cerca de 48% da carga das grandes empresas é suprida por projetos próprios de geração, sendo que os 52% restantes são comprados de distribuidoras ou do mercado livre. Para aumentar sua competitividade, as autoprodutoras estimam que seria necessário atingir em 2020 uma parcela de 56% de carga suprida por projetos próprios de geração.
Para chegar a esse número, as empresas podem investir R$ 27 bilhões nesta década para aumentar em 6 mil MW sua capacidade, sendo que 65% desse montante seriam supridos com investimentos em geração própria.
"Pretendemos investir R$ 27 bilhões até 2020 para atender essa matriz ideal de autoprodução e temos como prioridade a energia hidrelétrica, mais competitiva", avalia Menel, ao apontar que o consumo de energia representa entre 30% e 35% do custo final de produção nas atividades de mineração e siderurgia.
Fonte: Valor Econômico - 20/10/2010
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