sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Gleba Nova Olinda: indígenas denunciam violência à ONU

Os povos indígenas Borari-Arapiun entregaram nesta sexta-feira (19/11/2010) uma carta para a Relatora Especial das Nações Unidas sobre a situação dos Defensores de Direitos Humanos da ONU, Margaret Sekaggya. Além da carta aberta, foi encaminhado um dossiê prévio sobre a situação de violência e criminalização em que vivem os indígenas na Gleba Nova Olinda, em Santarém, Pará.

A carta foi entregue durante o I Seminário Internacional do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, que ocorreu entre os dias 17 a 19 de novembro em Brasília. No evento, o cacique Dadá Borari, atendido pelo Programa Estadual de Proteção, pôde expor as ameaças que ele e seu povo sofrem e as dificuldades enfrentadas para a demarcação e homologação da Terra Indígena Maró, localizada no interior da Gleba Nova Olinda, palco de muitos conflitos entre várias comunidades e madeireiras e grileiros que se instalaram na região nos últimos anos.

Denúncias
“Os povos indígenas Borari-Arapiun, da Terra Indígena do Maró, com território na Gleba Nova Olinda I, Santarém, Pará, Amazônia, Brasil, na defesa e na luta pela demarcação e homologação de nosso território, vêm denunciar a invasão de nossas terras, rios e florestas, as ameaças e violências cometidas contra indígenas e a criminalização do movimento indígena e apoiadores cometidas por madeireiras e grileiros que invadiram esta região. Denunciamos ainda a omissão, letargia e a conivência de órgãos do Estado brasileiro ante nossa situação e a propaganda enganosa de sustentabilidade ambiental e social de certificação promovida para uma madeireira nesta região”, denunciam os indígenas na parte introdutória da carta.

O documento cita as ameaças e espancamentos cometidos contra Dadá Borari e relata que o cacique já responde a sete processos judiciais promovidos por esses grupos que tentam a todo custo impedir a homologação do território tradicional. É citado inclusive que todos aqueles que apóiam os indígenas também vêm sendo alvos de processos judiciais, inclusive sindicalistas, assessores e professores universitários.

É relatado ainda que o estado do Pará não oferece todos os meios necessários para a proteção do cacique ameaçado. A Funai é denunciada pela demora no processo de delimitação territorial. Outros órgãos são citados por omissão, promoção, letargia e conivência, como é o caso do Instituto de Terras do Pará (Iterpa). No documento, é exigido que o Estado faça valer os direitos indígenas e das demais comunidades tracionais, e que sejam tomadas providências urgentes no sentido de compeli-lo a atuar na concretização dos direitos já assegurados em leis e convenções internacionais assinadas pelo Brasil.

Dossiê
Juntamente com a carta foi entregue um longo e detalhado dossiê, em que se narra o processo ocorrido na Gleba Nova Olinda, bem como se enumeram diversos casos de violência física, ameaças, agressões e violências simbólicas.

O dossiê também expõe como são usados argumentos discriminatórios e difamatórios por grupos madeireiros apoiados pela mídia local e instituições policiais com o intuito de intimidar as lideranças dos movimentos sociais e representantes de entidades.

Para as entidades que assinam o documento em conjunto como a representação indígena, o não atendimento dos direitos dessas populações pelo Estado e a campanha de difamação e criminalização promovida por esses grupos empresarias vêm colocando as populações tradicionais indígenas e não indígenas dessa região em situação de vulnerabilidade e sob o risco de deixarem de existir como grupo culturalmente distinto.

Para os Boraris e Arapiuns da Terra Indígena Maró, “há toda uma lógica que se manifesta no impedimento ao direito de livre organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupamos”.

“Até mesmo em matérias na imprensa promovidas pelas madeireiras e nos processos judiciais movidos por elas contra os indígenas e seus apoiadores constam expressões e argumentos carregados de violência simbólica”, denunciam a representação indígena e as entidades que apóiam a carta: Conselho Indígena Tapajós – Arapiuns, Comissão Pastoral da Terra de Santarém, Frente em Defesa da Amazônia e Terra de Direitos.

Madeireira certificada
A Madeireira Rondobel Indústria e Comércio de Madeiras Ltda, uma entre várias que atuam na área, é citada tanto na carta como em várias partes do dossiê. Recentemente essa empresa recebeu a certificação de sustentabilidade social e ambiental do chamado FSC (“Forest Stewardship Council” ou “Conselho de Manejo Florestal”).

Nos documentos, questiona-se o processo que levou à concessão desse selo a uma empresa que invade terras indígenas, ameaça e processa indígenas e professores universitários, gera conflitos, entre outras ações.

Pressão
Ao final do documento é solicitada uma análise cautelosa da situação em que vive o povo indígena Borari-Arapiun para que enseje um pedido de providências por parte do Estado brasileiro face à situação.

A Relatora da ONU sobre a situação dos defensores de direitos humanos, Margaret Sekkagya, esteve presente no Seminário e pôde tomar contato com a situação de diversos defensores de direitos humanos ameaçados no Brasil. Diante dessa situação, o diagnóstico de Sekkagya foi emitido como forma de um sinal de alerta: “Os problemas para proteger os defensores ainda são muitos. As iniciativas são louváveis, mas precisamos levar em consideração a complexidade dos fatores das violações. Quero reconhecer a importância do trabalho dos defensores de direitos humanos em todos os níveis, mas como já disse, apesar da declaração formular o direito de todos de promover e defender os direitos de todos, os defensores ainda são criminalizados, rotulados como inimigos do Estado, como criminosos. Esses ataques contra sua reputação são um ataque muito perigoso, que contribui para a discriminação contra os defensores, o que os torna ainda mais vulneráveis.”

Por fim, a Relatora ressaltou o quanto é fundamental para a socieade como um todo que os defensores tenham condições seguras de trabalho: “É muito importante que a segurança dos defensores seja abordada, pois seu trabalho, e sem todo o trabalho desses defensores o processo de democratização não pode prosperar. Então, desde 2000, fizemos progressos, mas também restam desafios, que todos vocês elencaram nesse seminário e quero assegurar que vamos continuar a trabalhar juntos para fazer diferença nesse mundo”.

A entrega da carta e do dossiê prévio sobre a situação das comunidades indígenas e ribeirinhas da Gleba Nova Olinda para a Relatora representa um grande passo na afirmação do direito dessas populações. Espera-se que a Relatoria tome providências no sentido de garantir a segurança das lideranças ameaçadas e também o encaminhamento, junto ao governo brasileiro, de uma solicitação de prioridade ao processo de demarcação e homologação das terras indígenas na região.

Leia a Carta aberta

Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Anônimo disse...

Nãp existe mais indios por lá e sim espertalhões.

Lucas Silva disse...

A julgar pelo que dizem madeireiros, faendeiros, donos de empresas, e políticos, os índios brasileiros já foram todos extintos, pois, basta que um grupo deles se oponha aos interesses dos poderosos para logo vir alguém dizer que eles não são mais índios. Inclusive com o apoio comprado de muitos "pesquisadores", que de antropologia não sacam nada. Se não viver numa maloca, tocando maraca, semi-nu e de cocar na cabeça, então não é índio... Ora anônimos do Brasil, tenham paciência... Vão estudar e descobrir porque tem tanto índio por aí lutando por um pedaço de chão sem ter mais sequer sua língua nativa... São 500 anos de invasão e dominação.