domingo, 9 de junho de 2013

“Solução definitiva”: Contra indígenas e com cumplicidade do governo, ruralistas prometem fechar estradas em todo o país

Fotografia: João Paulo Vieira

A queda da presidente da Funai e a suspensão da demarcação de terras indígenas no Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul eles já conseguiram. Mas, assim como foi para aprovar o Novo Código Florestal, os ruralistas já criaram o clima apocalíptico por meio de matérias na grande imprensa, promessas de mobilizações da categoria e ameaças contra o governo federal para suspender o direito dos povos indígenas aos seus territórios em todo o país.

“É mais do que hora de o governo federal suspender o processo de demarcação de terras indígenas, conduzido de modo arbitrário, e frequentemente ilegal, pela Funai, e aguardar que o Supremo Tribunal Federal estabeleça em definitivo o regime jurídico de demarcações de terras indígenas no país”, diz nota oficial da Confederação Nacional da Agricultura e Agropecuária (CNA). A Confederação, presidida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), diz ter advertido setores do governo “para o risco de uma tragédia”. Atribui o acirramento dos ânimos à “notória política de confronto” que seria promovida “pela Funai e ONGs aliadas ao CIMI (Conselho Missionário Indigenista)”.

A senadora e dmais ruralistas veem usando as redes sociais, 
blogs e as páginas de suas entidades para criarem histórias fantásticas contra indígenas, como “importação de indígenas do Paraguai” e até um complô internacional comunista, “agora fantasiados de verde”, contra a agricultura brasileira. Pedem uma “solução definitiva” para o “problema”. Curiosamente e não por acaso, “solução definitiva” é o nome que Hitler deu para a operação que eliminou milhões de judeus no auge da II Guerra Mundial.

No próximo dia 14 de junho, os ruralistas anunciaram a paralisações de rodovias pelo país. No mesmo dia, seria feita um ato denominado “Onde tem Justiça, tem Espaço para todos”, em Nova Alvorada , no Mato Grosso do Sul. A Bancada Ruralista prepara ainda uma “caravana pelo país para conferir in loco as novas reservas”. Há visitas agendadas à região da usina de Belo Monte, no Pará, no próximo dia 17, e a Passo Fundo (RS) no dia 20. “Se o governo não age, nós vamos tentar apontar o melhor formato para as demarcações”, diz o deputado ruralista Nilson Leitão (PSDB-MS).

Por meio do twitter, Katia Abreu pediu que os seus representados se manifestem “com firmeza e determinação, mas de forma pacífica, usando todos os espaços que a democracia nos proporciona”. Para ela, a paz no campo “só virá com segurança jurídica e respeito ao direito de propriedade”.

A bancada ruralista também promete intensificar a pressão sobre o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para que instale a CPI da Funai.

Os pré-candidatos ao governo do Mato Grosso do Sul e do Paraná, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e Gleisi Hoffmmann (também petistas) viraram verdadeiros porta-vozes dos ruralistas junto ao governo. “As soluções existem, falta decisão política”, afirma Delcídio Amaral (PT-MS), que participou das conversas com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. O senador diz que “há anos os produtores rurais alertam o governo para a evolução do problema” e afirma que o que aconteceu “não foi por falta de aviso”. Por sua vez, Gleisi Hoffmmann encaminha junto ao resto do governo o esvaziamento da Funai, a criação de várias medidas administrativas para deixar mais lentas, os já demorados processos de identificação, delimitação, demarcação e homologação de terras indígenas e a militarização dos conflitos, com envio da Força Nacional de Segurança para “acalmar” os indígenas.


A “solução” apresentada pelo governo agora também é defendida pela bancada ruralista. De acordo com o presidente em exercício da “Frente Parlamentar Agropecuária”, deputado Luiz Carlos Heinze (PP/RS), “o objetivo desse movimento é sensibilizar a sociedade e revelar as conseqüências das demarcações de terras produtivas sem a participação de órgãos como os Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Embrapa.”

“Já identificamos 14 estados onde os problemas são mais graves, onde a FPA está orientando o pessoal para se unir e protestar. Estamos pedindo o apoio das nossas entidades para essa mobilização. Então, a recomendação é que nos estados onde os índios estão em conflito com produtores rurais que se manifestem para chamar a atenção”, disse Heinze.
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