sábado, 28 de janeiro de 2012

O paradoxo na morte de Duvanier Paiva

Por Paulo Barela*

Morreu na manhã do dia 18 de janeiro, o Secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva, vítima de um ataque cardíaco.  Duvanier era um quadro político do PT de São Paulo e foi um dos principais diretores de entidades sindicais do ramo da saúde, como o Sindsaúde-SP, por exemplo. Também foi assessor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT e membro do governo de Marta Suplicy, na Prefeitura de São Paulo. Atuava como representante do governo nas relações de trabalho com os servidores públicos federais e era o principal negociador das questões trabalhistas com as entidades sindicais do funcionalismo federal. Sua morte poderia ter sido evitada se ele tivesse sido atendido a tempo no hospital Santa Luzia ou no hospital Santa Lúcia – ambos negaram o atendimento em virtude de não serem conveniados ao plano de saúde do secretário. O triste episódio nos remete a uma necessária reflexão sobre os projetos do governo para a saúde e os serviços públicos em nosso país.

Diferente dos trabalhadores do setor privado, em que a contribuição previdenciária é de 8%, todos os servidores da União contribuem com 11% de seu salário bruto para o Plano de Seguridade Social do Servidor – PSS. Uma parte dessa contribuição é destinada a subsidiar os gastos com assistência médica e hospitalar. Como o governo não oferece um plano de saúde de administração própria, retorna parte do valor pago ao PSS em pecúnia nos contracheques, hoje variando entre R$ 72,00 – R$ 129,00 por pessoa no grupo familiar. Dessa forma, o servidor deve se virar para garantir a proteção de sua saúde e a de seus familiares, através de planos de saúde privados.  Um dos mais populares é o GEAP, plano de saúde ao qual Duvanier era conveniado.

Ocorre que no sistema de mercado, que notadamente o governo incentiva, tanto para a saúde, quanto para a educação, a qualidade do serviço é proporcional ao número de reais que se tira do bolso para pagar por ele. Duvanier, apesar de ser Secretário de Estado, provavelmente recebia o mesmo valor de auxílio-saúde que os demais mortais ocupantes de cargos públicos na União. Por isso, utilizava o GEAP, plano que todos sabem têm uma limitação na rede hospitalar credenciada e na extensão de seus serviços. Evidentemente, porque o valor dispensado à contratação desse plano de saúde não permite, pelas regras do mercado, utilizar os hospitais mais qualificados.

Duvanier era o responsável pelas negociações com as entidades do serviço público e nele se reproduziram as políticas do governo Dilma, hoje, e de Lula, anteriormente, para os servidores públicos federais. E era um duro negociador. Chegou a afirmar em entrevista à imprensa, dias antes de sua morte, que reconhecia o direito dos servidores em fazer greve, mas que, de antemão, já anunciava o corte de ponto para todos que viessem a aderir a uma possível greve no serviço público federal. Também foi o interlocutor implacável do governo que se recusou a receber os grevistas das universidades federais e escolas técnicas e tecnológicas nos 110 dias de duração do movimento ocorrido no ano passado.

Ao longo da conflituosa relação dos servidores federais e o falecido Secretário, as entidades sindicais tentaram negociar melhorias salariais e benefícios sociais – dentre eles o aumento do valor do repasse para assistência à saúde. Duvanier e sua equipe, como de hábito, também “endureceram o jogo” na negociação desse item e os valores para subsídio à saúde do trabalhador público permaneceram nos níveis rebaixados de sempre.

A ironia, e o paradoxo dessa situação, é que a morte de Duvanier Paiva poderia ter sido evitada se um dos hospitais (Santa Luzia ou Santa Lúcia) o tivesse atendido, mas não o fizeram. E por quê? Porque o plano de saúde do Secretário, como de resto de todos servidores da União, não é conveniado com hospitais desse gabarito. Exagerando esse paradoxo, podemos aludir que Duvanier morreu porque seu plano de saúde é de baixa qualidade e porque o Governo Dilma paga uma miséria para seus servidores que, desta forma, não conseguem um atendimento médico e hospitalar de qualidade. Se o valor repassado fosse maior, talvez o Hospital Santa Luzia o tivesse atendido e, quem sabe, Duvanier ainda pudesse ter sobrevivido ao infarto.

A despeito desse fato, o certo é que o governo de Dilma Rousseff-PT vai seguir com uma política que mantém os interesses privados na área de saúde e por isso continuaremos a ver atrocidades como as desse triste episódio em que os hospitais colocaram na frente de uma vida seus interesses econômicos. Defendemos uma saúde pública, de qualidade e gratuita para todos. Fim aos subsídios e verbas para hospitais, clínicas e laboratórios privados.

*Paulo Barela é membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, responsável pelo Trabalho em Funcionalismo Federal e Servidor Público da Fundação IBGE
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