Por Marcio Zonta*
Mais de
2.000 moradores dos assentamentos Novo Oriente, Francisco Romão, Planalto I e
II e do acampamento João do Vale, da zona rural de Açailândia, no Maranhão,
ocupam desde a manhã desta quinta-feira a estrada vicinal que dá acesso as
obras de duplicação da Estrada de Ferro de Carajás, sob concessão da mineradora
Vale.
O motivo
da interdição da estrada, que liberou das atividades 700 funcionários da
empresa, se dá pelo não cumprimento pela mineradora das contrapartidas que
foram acordadas com os moradores das comunidades há dois meses junto à
Prefeitura Municipal de Açailândia.
“Só
encerraremos o protesto se representantes da empresa vierem negociar com a
população. Estamos solicitando à Vale várias compensações diante de seus
projetos nas comunidades há muito tempo. Agora foi o estopim: ela descumpriu
prazos e o povo não agüenta mais e quer uma resposta”, afirma Ricardo
Amaro de Sousa, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia que habita
na região.
Documento
entregue ao Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pela Rede Justiça nos Trilhos, que
monitora os problemas provocados pela Vale nas comunidades que margeiam a
ferrovia no Maranhão, apresenta os impactos causados pela mineradora na zona
rural de Açailândia.
“Atropelamento
de pessoas e animais, trepidação e rachadura das casas, além do aterro de poços
com a passagem do trem, poluição sonora, aumento do trafego de carro, o
envenenamento das terras da comunidade pelo veneno jogado nas plantações dos
eucaliptos que cerceiam os assentamentos, devastação ambiental e constantes
incêndios provocados pela locomotiva”, diz o documento.
Diante
desse quadro, as contrapartidas requeridas pela comunidade e não cumprida pela
mineradora são: melhorias na escola, construção de túneis para passagens de
carros e passarelas para travessia de pedestres sob a estrada de ferro, valor
justo de indenização para remoção das casas, recuperação dos reservatórios de
água, trabalho de prevenção a incêndio, apoio às experiências ambientais,
pesquisas para avaliar impacto dos agrotóxicos vindo do eucalipto na plantação
dos assentamentos e um posto de saúde.
Prêmio
A Vale,
mineradora brasileira presente em 38 países e considerada hoje a maior
corporação de mineração de ferro do mundo, é uma das seis finalistas do prêmio
Public Eye Award, que todos os anos escolhe a pior empresa do planeta por voto
popular e anuncia a vencedora durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na
Suíça. É a primeira vez que uma empresa brasileira concorre ao prêmio.
A indicação da Vale para o Public Eye Award 2012 foi feita pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (International Network of People Affected by Vale) através da organização brasileira Rede Justiça nos Trilhos, sediada no Maranhão, em parceria com as ONGs internacionais Amazon Watch e International Rivers, e tem como base os inúmeros impactos ambientais, sociais e trabalhistas causados na última década pelas atividades da corporação no Brasil e no mundo.
A entrada da empresa, em meados de 2010, no Consórcio Norte Energia SA, empreendimento responsável pela construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no Pará, foi considerado pelos organizadores do prêmio, Greenpeace Suíça e Declaração de Berna, o fator determinante para a sua inclusão na lista das cinco finalistas do Public Eye deste ano. A Vale detém 9% das ações do Consórcio, que será responsável pelo deslocamento forçado de cerca de 40 mil pessoas, atingindo direta e indiretamente 14 comunidades indígenas do Médio Xingu, alagando 668 km2 e secando 100 km do rio na chamada Volta Grande do Xingu.