domingo, 30 de novembro de 2008

Débora Mabel disse...

...sobre a postagem Reforma Agrária: do ruim ao ainda pior

"Os Projetos de desenvolvimento na Amazônia são sempre polêmicos, e não poderiam ser diferentes, desde a época da colônia o povo da Amazônia é considerado inexistente, as soluções são sempre moldadas e empacotadas em gabinetes bem distantes dali, e depois arremessadas para o colo desse povo ignorado, ou melhor, inexistente. Isso quando os problemas também não são criados dentro dos gabinetes, afinal, há séculos a Amazônia precisa de “heróis”, e heróis sem problemas não existem.

Atualmente o grande problema a ser resolvido por nossos heróis é a falta de dono para a Amazônia, hoje a pobre da Amazônia é apenas uma menina abandonada que precisa de pai e mãe para não morrer de fome e frio. Afinal não há “ninguém” ocupando aquelas terras, não há nem pais nem mães para dela cuidar.

Para entender os planos mirabolantes de desenvolvimento da Amazônia, antigos ou recentes, é preciso voltar alguns séculos na história e entender como a Amazônia foi vista e entendida pelos governantes no Brasil, sejam eles imperadores ou presidentes.

No Brasil colônia o norte do país foi mitificada como uma região quase vazia ocupada apenas por canibais e bestas indomáveis, os que ali habitavam eram tidos como atrações turísticas, objeto de curiosidade pública. Criou-se a idéia que lá nada tinha, era apenas um vazio paraíso coberto por riquezas naturais infindáveis.Essa idéia foi reproduzida mais tarde pela ditadura militar, que via a região como um rico paraíso exposto aos empreendimentos capitalistas.

Para viabilizar o uso da riqueza desconhecida, os militares deram início à fabulosa aventura das estradas da integração. A soberba das estradas que cortaram a Amazônia era que a região não passava de um espaço vazio; sem gente, sem história, sem inteligência, sem vigilância. As estradas levaram para lá a cultura do migrante, e consigo o maior desmatamento da história da humanidade.

As estradas trouxeram o migrante caboclo, e a S.A, o primeiro com limitado poder de destruição, o segundo com assustadora capacidade destrutiva, o primeiro virou escravo do segundo. As estradas remodelaram a Amazônia, trouxeram a ocupação massiva, expulsaram os ribeirinhos para os centros urbanos.

Historicamente a colonização no Brasil, em especial na Amazônia, se apresentou como eficaz alternativa para evitar a reforma agrária nas regiões de ocupação antiga, assim como para construir os canteiros de mão-de-obra barata ou “quase” escrava para os empreendimentos que migravam para a “fronteira do desenvolvimento”.

Os trabalhadores por sua vez deram início à luta pela reconquista da terra perdida, coube ao Estado conter as tensões sociais, e para isso os projetos de colonização e os assentamentos de reforma agrária foram as válvulas de escape.

Uma característica marcante do avanço para o norte é o tom monopolista, o processo recente de ocupação se estrutura na imposição do monopólio, e a moeda que conduz esse processo é a propriedade privada da terra, dai nasceu a urgente necessidade de regularização fundiária da Amazônia Legal.

Hoje maior parte do território amazônico destinado ou não, está sob domínio público. O IRFAM proposto pela SAE, ou o Programa Terral Legal, a contra proposta do MDA/Incra, terá como missão transferir o domínio da terra pública para o capital privado. O IRFAM de Mangabeira fez muito barulho, assustou, mas esse parece não ser mais o maior inimigo. O programa Terra Legal também se propõe fazer a regularização da grilagem, da devastação, do monopólio das terras, sem, no entanto sofrer o desgaste público do esquartejamento de uma autarquia pública- É O HERÓI PERFEITO. A Regularização do Terra Legal será silenciosa, mas não menos inescrupulosa."
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