segunda-feira, 14 de julho de 2008

Uma viagem por um interior do Brasil


No dia 1º de julho iniciei uma jornada de ônibus entre Belém e Betim, zona metropolitana de Belo Horizonte, em Minas. Apesar de ter cruzado quase todo o país quando era militante estudantil, a BR-010 para mim era conhecida apenas de leituras sobre a Amazônia. Destas leituras, aprendi que a BR-010 foi a pioneira da chamada “integração da região Norte” e possibilitou a expulsão de milhares de camponeses que iriam formar a grande periferia de Belém.

Como partimos à 1 hora da manhã, o sono e a escuridão me impediram de conhecer da janela essa periferia. Acordei já no Nordeste Paraense. Paragominas, Uianópolis e Dom Elizeu são imensas pontilhadas pintadas de branco. Diferentemente da Transamazônica, onde a floresta está num horizonte distante, aqui, nem esse horizonte existe mais.

À beira da rodovia, placas pedem a criação de um estado do Carajás. Fenômeno repetido quando adentro em Açailândia, pedindo a criação de um tal Maranhão do Sul, cuja a capital seria Imperatriz, por onde também passei. Essa região é próxima ao chamado “Bico do Papagaio”, onde morreram centenas de camponeses em conflitos fundiários nos anos setenta e oitenta.

A presença da Vale também se faz sentir na excelente qualidade do asfalto, sinalização, trilhos e placas de propaganda.

Na divisa com Tocantins, a hidroelétrica de Estreito é uma das vitrines do Plano de Aceleração do Crescimento de Lula. Está paralisada por decisão judicial por problemas ambientais.

Ao cruzar a ferrovia Norte-Sul, lembro que esta obra do governo Sarney aproximou de forma sinonímia os termos empreiteiros e corrupção.

À beira da estrada a lona preta e as bandeiras vermelhas indicam que ali tem um acampamento do MST. Entre o asfalto e as cercas, uma agricultura marginal se contrapõe ao horizonte ora de pasto, ora de soja.

Os lindos cerrados são intercalados com pastagens. À noite, estes cerrados queimam nas dezenas de incêndios, alguns gigantescos.

Amanheço em Goiás. Aqui já há não somente forrageiras. Imensas áreas com algodão, soja e eucalipto dão cara ao “moderno” agronegócio brasileiro. Almoço no Distrito Federal, na periferia de uma cidade satélite, construída para instalar o povo que migrou para a construção de Brasília.

Saímos da BR-010 e rumamos para o oeste mineiro. Passamos próximo a Unaí, onde um “moderno” fazendeiro produtor de feijão mandou matar 3 fiscais do Ministério do Trabalho. Hoje ele é prefeito. Mais a frente, passo por Três Marias, onde o então “moderno” Juscelino Kubitschek construiu a hidroelétrica de Furnas e inundou terras de camponeses, criando os primeiros atingidos por barragens do Brasil.

Chegamos em Betim, cidade operária com montadoras e metalúrgicas. É 1 hora da manhã e faz muito frio. No mesmo dia começaria o I Congresso da Conlutas.


Cândido Neto da Cunha.
De Santarém-PA.
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1 Comentários

1 comentários:

Arnaldo José disse...

Querremos mais ! ! !! ! está muito resumido sô!