por Edilberto Sena*
O governo reservou 75 milhões de reais do PAC para o saneamento básico da cidade de Santarém. Também facilitou recursos financeiros para o projeto Minha Casa, Minha Vida. A Companhia Docas do Pará (CDP) faz o contrário. Arrogantemente tira o direito ao lazer e bem estar da comunidade santarena.
A autarquia federal tomou anteontem uma decisão odiosa, botando a polícia armada para garantir a escavação de um sítio arqueológico, no campo esportivo da Vera Paz, no bairro do Laguinho.
E para quê? Certamente que não por um zelo com o patrimônio cultural, ou cuidado com o sítio arqueológico, mas para entregar de bandeja à empresa estrangeira o terreno limpo, após as escavações. Tudo isso “por trinta dinheiros”, como fez Judas.
Durante 30 anos, o instituto de pesquisas arqueológicas nacional (IPHAN) nunca se preocupou de zelar pela área arqueológica da Vera Paz, inclusive quando a CDP arrendou o primeiro lote à Cargill em 1999. Ali, segundo a arqueóloga Anna Roosevelt, havia relíquias indígenas. Agora, subitamente, vem o IPHAN e pressuroso exige cuidar das escavações.
E vem mais coisa pela frente. Segundo informações, os pesquisadores estão identificando as relíquias arqueológicas, que logo serão escavadas, desenterradas e levadas a Belém para um museu. Em Santarém, não ficará nada. E depois, o terreno será recomposto e entregue à empresa que já paga um aluguel e ali será feito um estacionamento para caminhões a serviço da Cargill.
E tem mais: o plano da CDP é colocar portão com vigia à altura das avenidas Tapajós com a Cuiabá. Então só os funcionários da CDP e os da empresa estrangeira terão entrada livre. O resto da população terá que esperar os passageiros que chegam nos barcos interestaduais ali longe. E assim, a CDP vai se isolando do povo, expulsando a população local para gerar mais lucros e servir ao capital estrangeiro.
E o trágico dessa atitude é que a CDP é um órgão do governo federal, que liberou 75 milhões de reais para servir ao bem da população. Que gesto odioso, chamar pelotão de polícia para expulsar os moradores do bairro.
Resta à população santarena reagir a tal agressão, através do MPF, ou da prefeita, ou baixar a cabeça humilhada e calada aceitar mais essa agressão cultural, social e ofensa à dignidade coletiva.
* É padre diocesano e diretor da Rádio Rural AM de Santarém.
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