quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Antigamente o escravo, ao trabalho; hoje o trabalho faz o escravo

Por Edilberto Sena*

Soa estranho certamente para uns ouvir falar em trabalho escravo hoje no Brasil. Outros nem admitem, como é possível? Um país democrata, nona economia mais rica do planeta, permitir trabalho escravo? Parece acusação de quem é contra tudo e contra todos. Acontece que contra fatos não se pode negar. Pesquisadores do Ministério do Trabalho e inclusive pesquisadores da Organização das Nações Unidas (nem tanto), constataram que é grande número de trabalhadores já libertados do regime de escravidão no Brasil em recentes anos. E mais, a maior concentração de trabalhadores em regime de escravidão tem sido constatada na Amazônia. E para vergonha do povo paraense, 48 por cento dos trabalhadores libertados da escravidão são do Estado do Pará, isso mesmo, 48 % entre os libertados no Brasil.

Qual a diferença entre o escravo do tempo do Brasil colônia e o atual escravo da colônia Amazônia? A principal diferença é que o escravo daquele tempo sabia que era escravo, era pau para toda obra, sem direitos, porque afinal, tinha sido vendido lá na África e trazido para o Brasil. O escravo de hoje, nem sabe que é escravo antes de sentir o peso lá na fazenda sem poder retornar. Fora disso, as semelhanças são iguais. O trabalhador escravo hoje, trabalha sem carteira assinada, sem limite de oito horas de trabalho, mas vai do amanhecer ao anoitecer, dorme em tapiri, sem ao menos privada descente, nem banheiro, não tem alimentação correta, come o que colocar o patrão, é vigiado por um capataz rigoroso, já entra na fazenda endividado pelo chamado gato e só sai de lá fugido escapando dos tiros do rifle do capataz.

É por tudo isso que o Ministério do Trabalho considera esses trabalhadores, escravos. Pela lei trabalhista, o fazendeiro, ou dono de agronegócio flagrado em tal situação é punido, mas apenas com uma tapinha nas costas, uma multa pequena, obrigando-o a indenizar o trabalhador escravizado pagando passagem para ele retornar à sua origem.

Num país sério e justo, um patrão que explorasse trabalhador, perderia a posse da terra, teria que indenizar por danos morais o escravo e ainda passar 10 a 15 anos no presídio. Infelizmente isso não acontece no Brasil, herdeiro da Casa Grande. O máximo que se admite hoje é que são centenas de trabalhadores vivendo em regime de escravidão e aqui e acolá alguns são libertados pela força tarefa.

Não se faz justiça real porque lá no Congresso nacional há uma bancada organizada de políticos a serviço do latifúndio e do trabalho escravo, que não permite ser criada a lei de proteção absoluta do trabalhador explorado.

*Pároco diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 25 de setembro de 2010.
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