terça-feira, 21 de setembro de 2010

Floresta Amazônica, mercadoria barata.

Por Edilberto Sena*

O mercado é o local de compra e venda de produtos de uso. Mercado também tem o sentido de negócio, transações comerciais. Daí se fala de bens não negociáveis, como a vida humana, o ar que se respira, a água da natureza. São bens não negociáveis, embora já estejam sendo transformados em mercadoria com preços estabelecidos de acordo com a oferta e a procura.


As florestas são outro caso de violência humana. Elas são originalmente inegociáveis por serem parte essencial da natureza que mantém a vida, o equilíbrio do sistema ecológico. Ao ponto de alguns países chamarem a floresta Amazônica de pulmão do mundo e outros povos tratarem a terra como mãe, a Pacha Mama.

Como então aceitar que o governo brasileiro transforme a floresta amazônica em mercadoria?

Aqui mesmo no Oeste do Pará já foram leiloados 140.000 hectares de floresta, no platô Saracá-Taquera, em Oriximiná.

Agora mais 93.000 hectares da mesma região Saracá-Taquera estão oferecidos em leilão. Literalmente, quem pagar o melhor preço terá direito de usar a mercadoria por 40 anos. Poderá retirar e vender no mercado 79.000 metros cúbicos de madeira por ano. Pode-se calcular o que restará da floresta após 30 anos derrubando 79.000 metros cúbicos de árvores por ano? Como pode os governos: federal e estadual negociar um patrimônio desses? Governos que duram 4 ou 8 anos, entregar um bem natural por 30 anos de exploração comercial.

Visto que a floresta é um tipo de pulmão respiratório de purificação da natureza, como pode um servidor público temporário, seja presidente, governador ou prefeito, lançar mão de um patrimônio universal, como a floresta e a água, e transformá-los em mercadorias?

Surpreende o conformismo e a passividade da sociedade paraense, que aceita tal absurdo, tal crime social e ambiental. Como sendo cristão, se aceita continuar a Amazônia colônia de pirataria oficial. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça diz a Bíblia, mas muitos se conformam com tal absurdo de mercantilizar um patrimônio sagrado.


*Pároco diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial 16 de setembro de 2010.
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