Já a partir das 18 horas de terça-feira a greve geral tinha início com a paralisação das atividades dos jornalistas da imprensa escrita. Ao final da tarde (que na Espanha nesta época do ano se estende até as 21 horas), trabalhadores já iniciavam o fechamento de indústrias. Pela madrugada, centenas de piquetes fecharam garagens, portas de fábricas e centros de distribuição de alimentos evitando assim a ação de fura-greves.
Pararam ainda os serviços de coleta de lixo, correios, construção civil, grandes siderúrgicas, metalúrgicas, energia e montadoras.
Um dado curioso levantado pelo Diário Liberdade é que houve uma queda considerável no consumo de energia em todo o país devido à greve. Conforme dados da Rede Elétrica de Espanha (empresa encarregada da transmissão de eletricidade no Estado espanhol), o consumo de energia era 10.000 megawats menor do que nas duas últimas quartas-feiras por volta de 13 horas ou 26% a menos de consumo de energia. Para se ter uma idéia, a essa hora, o consumo é apenas 4.000 MW a mais que o consumo num domingo e quase idênticos a esse dia nas demais horas do dia.
Estima-se que aproximadamente 10 milhões de trabalhadores tenham aderido à paralisação ou entre 70 e 75% de todos os trabalhadores ativos do país, contando ainda com forte adesão em atos de desempregados, aposentados e de estudantes.
Houve atos de ruas nas principais cidades de todas as regiões. Em Madri, 95 mil manifestantes, segundo o jornal El País saíram às ruas. Em Barcelona, a estimativa é de 75 mil. Em Valência foram cerca de 30 mil manifestantes.
Ataques
A greve geral na Espanha ocorre em meio ao aprofundamento da crise e em conseqüência do pacote de ajuste fiscal do governo Zapatero, do PSOE (Partido Socialista Espanhol). Entre as medidas estão uma reforma da Previdência que pretende ampliar para os 67 anos a idade para se aposentar e uma reforma trabalhista que possibilita um empresário demitir um trabalhador pagando apenas 20 dias do ano (40% desse valor é financiado pelo próprio Estado). Essa medida facilita as demissões e vai ampliar o exército de desempregados que já somam 4,6 milhões de trabalhadores.
O papel da “esquerda” neoliberal
Na Galiza, o Estado espanhol por meio da Junta da Galiza, conseguiu impor a não suspensão de serviços mínimos nos setores de saúde (integral), transporte (22%) e educação (30%). Mesmo assim, a greve culminou em vigorosos atos nas principais cidades da região autônoma: Ferrol, Compostela, Narom, Corunha, Vigo entre outras.
O PSOE (uma espécie de PT da Espanha) atacou duramente a greve e defendeu as "medidas difíceis" e "dolorosas" (esqueceu dizer neoliberais) tomadas por Zapatero.
“Así no” é suficiente?
As duas maiores centrais sindicais à frente da greve geral (UGT e CCOO) adotaram como lema o slogan “Así no”, refletindo a sua disposição em chamar o governo à negociação. Para elas a “ausência de diálogo” com o governo é principal problema do pacote de ajustes fiscais e não as medidas em si. Esta posição se dar pela defesa da manutenção do governo Zapatero, embora esse esteja profundamente desgastado.
O secretário geral de CCOO, Ignacio Fernández Toxo, não esconde esse objetivo: "esta greve não está convocada para derrota o Governo, mas para que retifique e olhe a sua esquerda", disse neste dia 29, em meio à greve geral.
Relato de um enviado da CSP-Conlutas à Barcelona demonstra o grau de comprometimento destes setores com o governo e a sua completa integração à ordem: “O ódio à UGT e às Comissiones Obreras [centrais sindicais com posicionamento político mais à direita] é algo incrível. Estas centrais foram ao piquete pra controlar a saída do efetivo mínimo e eram vaiadas pelos demais setores, que faziam piadas num megafone”, comenta, salientando ainda, que os representantes das centrais mesmo sendo os setores majoritários do movimento sindical no Estado Espanhol, nada faziam.
Ao mesmo tempo, as organizações mais à esquerda e mesmo os trabalhadores espontaneamente compareceram aos atos de ruas com cartazes como “ZP, Adíos!”.
A greve superou todas as expectativas e abriu espaço para o sindicalismo à esquerda das grandes centrais avançarem para um projeto político mais ousado, colocando ainda o desafio de preparar novas respostas aos ataques do já enfraquecido governo.
S-29 sacode a EuropaAlém da Espanha, trabalhadores de outros países também protestam nesta quarta-feira contra medidas tomadas pelos governos para combater a crise econômica.Foram registradas manifestações nas capitais da Bélgica, Portugal, Itália, Letônia, Lituânia, República Checa, Chipre, Sérvia, Romênia, Polônia, Irlanda e França. *Com informações do Diário Liberdade, PSTU, Uol e Agências internacionais.
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