quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A crise de (des)-governabilidade

Por Edilberto Sena*

Há algum tempo os meios de comunicação falavam bastante de uma ameaça à governabilidade, que o país corria perigo de ficar parado por falta de condições de seus governantes trabalharem a administração pública. O tempo passou, o país continuou funcionando, os interesses dos com poder de barganha foram atendidos, os pobres continuaram mais pobres e a imprensa silenciou. A governabilidade continuou porque a estrutura da desigualdade foi respeitada. A corrupção continuou e os poderes da república se mantiveram sem mais ameaça.

Olhando agora à situação do Estado do Pará, será que a governabilidade está ameaçada, mesmo que os meios de comunicação não falem? Alguns sintomas estão no ar. Um clima de insatisfação em vários grupos da sociedade civil já é manifesto: a Cosanpa em Santarém não atende às necessidades de água nas casas dos usuários, que protestam e são enganados; vários grupos manifestam indignação com o INCRA inoperante e com órgãos do Estado, como Ideflor, Sema e Iterpa, ausentes com os problemas fundiários se repetindo; O programa de hidrelétricas do governo federal já causa manifestações resistentes de grupos da sociedade regional; escolas estaduais em péssimas condições já levam estudantes a fazerem passeata de protesto nas ruas.

Por fim, a quase tragédia do Hospital Regional do Oeste do Pará. Começou como hospital de média e alta complexidade e está caminhando a se tornar um posto de saúde regional. São demissões em massa, médicos fazendo greve, equipamentos parados, com risco de enferrujar. Quando os vereadores assumiram sua legítima responsabilidade de visitar o hospital para dialogar com a administração foram agredidos e ao final da visita, veio ordem de Belém, da Secretária de saúde para não darem nenhuma explicação aos vereadores.

Dias depois, intimada a vir a Santarém para esclarecer a situação da crise do hospital regional, a Secretária mandou um subalterno que nada explicou. Afinal, por que tanto subterfúgio? Qual mesmo é a razão dessa crise no hospital de média e alta complexidade?

Tudo indica que a complexidade não está na falta de dinheiro, nem na inoperância da empresa administradora, que é respeitada pelo país inteiro. Então, onde está a complexidade? Por que a secretária esconde a real informação das causas? Diz ela que virá a Santarém dentro de poucos dias para esclarecer. Terá ela coragem de revelar a verdade? Poderá ela revelar a verdade verdadeira, sem que abale a governabilidade estadual e regional? Há quem pense que as causas estão dentro do poder político e se reveladas, poderão abalar a “pequena república da região”. Então, vale a pena aguardar a vinda da secretária à Câmara de Vereadores nos próximos dias, se ela tiver vaga nos vôos de linha, ou se os aviões do governo do Estado estiverem disponíveis.

*Pároco diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 15.10.2009
Comentários
0 Comentários

0 comentários: