Publico abaixo carta do Professor e Engenheiro Agrônomo Pinheiro Machado, na qual ele declima do convite para uma homenagem a ser feita no Congresso Brasileiro de Agronomia pela CONFAEAB, entidade outrora combativa e hoje controlada pelo agronegócio.
Porto Alegre, 15 de outubro de 2009.
Engs. agrs. ANTONIO DE PADUA ANGELIN e ARCÃNGELO MONDARDO
Presidente e Coordenador do XXVI Congresso Brasileiro da Agronomia
Senhores:
Dia 13 de outubro passado, recebi correspondência do XXVI CBA que, embora sem assinatura - naturalmente por um lapso compreensível – contém honroso convite “ a fim de receber a merecida homenagem”, que me leva a esta resposta.
Declino da homenagem e não desejo que meu nome seja “vinculado ao ato mencionado, no material de divulgação do XXVI CBA”, pelos motivos que seguem:
1- Como co-fundador da FAEAB – Federação das Associações de Engenheiros do Brasil – nos idos das décadas de 1950/1960, sempre pontuei minha conduta profissional na defesa dos mais altos interesses da agricultura brasileira, como foi a atuação da FAEAB, enquanto FAEAB.
2- Nessa linha, organizamos vários congressos nacionais de agronomia, sempre com ampla participação de milhares de engenheiros agrônomos e, sempre, com posições explicitamente contra o modelo dominante da desastrosa “revolução verde”, como atestam as diversas “Cartas”, que foram homologadas pelas respectivas assembleias de encerramento desses congressos.
3- Nessa linha de ação e conduta, realizamos os EBAAs – Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa – posteriormente encampados pela FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – Nesses encontros, nas décadas 70 e 80 do século passado, contestávamos o paradigma do agronegócio, por ser insustentável social e ambientalmente, mas ainda não dispúnhamos de tecnologia capaz de confrontar esse modelo. Hoje dispomos de recursos tecnológicos, que nos permitem produzir alimentos e matérias-primas limpas, em escalas que a humanidade demanda.
4- Não vejo nessa reunião – XXVI CBA – qualquer coerência e ou vinculação com a história da FAEAB. Ao contrário, salvo as honrosas exceções, os diferentes atos, palestras, conferências e seminários são a negação do passado glorioso da FAEAB. Não posso participar de um encontro onde defensores dos agrotóxicos e dos alimentos transgênicos têm posição de relevo. Seria negar minha história e meu passado.
5- A FAO lança o alerta de que a “paz e a segurança alimentar mundial” são ameaçadas pela “crise silenciosa da fome”. Segundo a ONU (2009), mais de um bilhão de seres humanos padecem de fome e a cada segundo a erosão leva 2420t de solo!(FAO, 2006). Em 1997/99 havia 6 bilhões de habitantes no Planeta e dispúnhamos de 0,21 ha de terra arável/habitante; para o ano de 2030, a previsão da FAO(2007) e de que teremos 8.3 bilhões de habitantes e, apenas, 0,16 ha de terra arável/habitante. E ainda a FAO(2007) que nos informa que ocorem 20.000 mortes/ano por agrotóxicos!
O agronegócio está destruindo a biodiversidade brasileira, uma das maiores, se não a maior do mundo: os biomas da Mata Atlântica, do Cerrado, do Pantanal, do Pampa Gaúcho, da Caatinga, da Amazônia são agredidos com severas consequências sociais, políticas e ambientais; as monoculturas de soja, de cana-de-açúcar, de eucalipto e de pinus, invadem áreas de alto risco, tudo para atender às exigências de economias no norte, como aliás nossas elites o fazem,, desde mesmo, antes do descobrimento...
Estas são questões vitais que dizem respeito diretamente aos engenheiros agrônomos, como de resto, à toda a sociedade.
E esses são problemas que, certamente, não serão tratados na reunião em foco.
Como poderei receber ”homenagem” de um evento alheio às questões pungentes da humanidade?
Não! Não posso!
Continuarei na pregação da agronomia pela vida, pois é dela, com as indispensáveis ações políticas, que a humanidade espera a solução de seus angustiantes problemas de soberania alimentar.
Sem mais, sou,
Luiz Carlos Pinheiro Machado, eng. agr. Mérito Agronômico do Brasil, FAEAB, 1984.
PS 1 - Como recebi o material da XXVI CBA apócrifo, estou devolvendo-o.
PS 2 – Autorizo a divulgação deste texto, dentro e fora do CBA.
PS 3 – Estou enviando cópia deste texto a algumas pessoas, a quem eu devo explicar porque declino da “homenagem”.
Porto Alegre, 15 de outubro de 2009.
Engs. agrs. ANTONIO DE PADUA ANGELIN e ARCÃNGELO MONDARDO
Presidente e Coordenador do XXVI Congresso Brasileiro da Agronomia
Senhores:
Dia 13 de outubro passado, recebi correspondência do XXVI CBA que, embora sem assinatura - naturalmente por um lapso compreensível – contém honroso convite “ a fim de receber a merecida homenagem”, que me leva a esta resposta.
Declino da homenagem e não desejo que meu nome seja “vinculado ao ato mencionado, no material de divulgação do XXVI CBA”, pelos motivos que seguem:
1- Como co-fundador da FAEAB – Federação das Associações de Engenheiros do Brasil – nos idos das décadas de 1950/1960, sempre pontuei minha conduta profissional na defesa dos mais altos interesses da agricultura brasileira, como foi a atuação da FAEAB, enquanto FAEAB.
2- Nessa linha, organizamos vários congressos nacionais de agronomia, sempre com ampla participação de milhares de engenheiros agrônomos e, sempre, com posições explicitamente contra o modelo dominante da desastrosa “revolução verde”, como atestam as diversas “Cartas”, que foram homologadas pelas respectivas assembleias de encerramento desses congressos.
3- Nessa linha de ação e conduta, realizamos os EBAAs – Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa – posteriormente encampados pela FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – Nesses encontros, nas décadas 70 e 80 do século passado, contestávamos o paradigma do agronegócio, por ser insustentável social e ambientalmente, mas ainda não dispúnhamos de tecnologia capaz de confrontar esse modelo. Hoje dispomos de recursos tecnológicos, que nos permitem produzir alimentos e matérias-primas limpas, em escalas que a humanidade demanda.
4- Não vejo nessa reunião – XXVI CBA – qualquer coerência e ou vinculação com a história da FAEAB. Ao contrário, salvo as honrosas exceções, os diferentes atos, palestras, conferências e seminários são a negação do passado glorioso da FAEAB. Não posso participar de um encontro onde defensores dos agrotóxicos e dos alimentos transgênicos têm posição de relevo. Seria negar minha história e meu passado.
5- A FAO lança o alerta de que a “paz e a segurança alimentar mundial” são ameaçadas pela “crise silenciosa da fome”. Segundo a ONU (2009), mais de um bilhão de seres humanos padecem de fome e a cada segundo a erosão leva 2420t de solo!(FAO, 2006). Em 1997/99 havia 6 bilhões de habitantes no Planeta e dispúnhamos de 0,21 ha de terra arável/habitante; para o ano de 2030, a previsão da FAO(2007) e de que teremos 8.3 bilhões de habitantes e, apenas, 0,16 ha de terra arável/habitante. E ainda a FAO(2007) que nos informa que ocorem 20.000 mortes/ano por agrotóxicos!
O agronegócio está destruindo a biodiversidade brasileira, uma das maiores, se não a maior do mundo: os biomas da Mata Atlântica, do Cerrado, do Pantanal, do Pampa Gaúcho, da Caatinga, da Amazônia são agredidos com severas consequências sociais, políticas e ambientais; as monoculturas de soja, de cana-de-açúcar, de eucalipto e de pinus, invadem áreas de alto risco, tudo para atender às exigências de economias no norte, como aliás nossas elites o fazem,, desde mesmo, antes do descobrimento...
Estas são questões vitais que dizem respeito diretamente aos engenheiros agrônomos, como de resto, à toda a sociedade.
E esses são problemas que, certamente, não serão tratados na reunião em foco.
Como poderei receber ”homenagem” de um evento alheio às questões pungentes da humanidade?
Não! Não posso!
Continuarei na pregação da agronomia pela vida, pois é dela, com as indispensáveis ações políticas, que a humanidade espera a solução de seus angustiantes problemas de soberania alimentar.
Sem mais, sou,
Luiz Carlos Pinheiro Machado, eng. agr. Mérito Agronômico do Brasil, FAEAB, 1984.
PS 1 - Como recebi o material da XXVI CBA apócrifo, estou devolvendo-o.
PS 2 – Autorizo a divulgação deste texto, dentro e fora do CBA.
PS 3 – Estou enviando cópia deste texto a algumas pessoas, a quem eu devo explicar porque declino da “homenagem”.