sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Agronegócio usa Ibope para fazer disputa com o IBGE

Por Cristóvão Feil*

A política espetaculosa do CNA é legítima, o inadmissível é a mídia querer cotejar as duas instituições - IBGE e Ibope - em condições de igualdade e fazendo crer que ambos estão habilitados para a extração e análise de dados do mundo rural brasileiro. A qualificação do IBGE é indiscutível, já a do Ibope não se pode dizer o mesmo. Comportamento do lulismo tem sido lamentável .

No último 30 de setembro, portanto há 14 dias, o IBGE divulgava o Censo Agropecuário 2006. Logo em seguida, a CNA (Confederação Nacional da Agricultura), entidade patronal que organiza latifundiários e agronegociantes brasileiros, divulgou uma enquete onde foram ouvidas cerca de mil pessoas (eles dizem que são "famílias") pelo Ibope, para saber o que essas pessoas pensam sobre os assentamentos da reforma agrária. Se configura aí, uma clara e indesmentível disputa entre o Ibope e o IBGE. Aquele, a soldo do latifúndio, este, um órgão estatal, reconhecido historicamente, idôneo, com um corpo profissional capacitado e experiente.

Entretanto, a mídia oligárquica tem feito divulgação cerrada dos números apresentados pelo Ibope, para tentar desconstituir e rebaixar as ações da reforma agrária nos assentamentos pelo Brasil afora. Nem é preciso chamar a atenção para o caráter ideológico e desqualificado da ação provocada pela CNA, dirigida pela algariada senadora Kátia Abreu (Dem-TO). A política espetaculosa do CNA é legítima, o inadmissível é a mídia querer cotejar as duas instituições - IBGE e Ibope - em condições de igualdade e fazendo crer que ambos estão habilitados para a extração e análise de dados do mundo rural brasileiro.

A qualificação do IBGE é indiscutível, já a do Ibope não se pode dizer o mesmo. O método de trabalho do IBGE é o recenseamento universal e científico dos dados recolhidos do campo de estudos. O método do Ibope é a enquete, com amostra reduzida, uma base de dados desconhecida e fundada em critérios adequados ao resultado que o cliente deseja divulgar, de preferência, da maneira mais espetaculosa possível. A tradição do Ibope é a pesquisa em segmentos de consumo de bens não duráveis e processos eleitorais - onde arrecada visibilidade e posição no trivial mercado de sondagens de consumo.

A todas essas, o governo do presidente Lula se comporta de forma lamentável diante das atuais tensões no campo. Prometeu a assinatura do decreto federal que atualiza os novos índices de produtividade na agropecuária e ainda não cumpriu, não se sabe o motivo. Semana passada, quando da desocupação judicial por parte de um contingente de sem-terra numa terra grilada pela transnacional de sucos Cutrale, vários ministros e o próprio Lula tiveram um comportamento reprovável, sob qualquer aspecto. Foram apressados em condenar os sem-terra, preferiam acreditar na farsa armada pela polícia paulista em combinação com os grileiros da Cutrale. A submissão do governo federal à hegemonia do capital financeiro aliado ao agronegócio será uma marca indelével do lulismo de resultados.

O capital político conquistado com a sua extraordinária popularidade de nada tem servido para modificar a estrutura de classes no Brasil - reconhecidamente a mais desigual do mundo. Por enquanto, só tem adornado o ego do próprio presidente Lula, fugaz compensação pessoal que a História jamais contabilizou.Agronegócio usa Ibope para fazer disputa com o IBGE

*Recebido por correio eletrônico.
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