Por Edilberto Sena*
O preço da farinha deu um salto enorme para os consumidores e, mais grave, já não se encontra facilmente no mercado. Uma razão da falta de farinha em Santarém, dizem os produtores, é o verão foi forte e as plantas não produziram normal. Como diz o caboclo – “a mandioca insuou”. E continua ele dizendo que agora, com a chegada das chuvas, a coisa vai melhorar, vai voltar a ter farinha abundante. Não se sabe se o preço vai baixar, ainda mais porque quem controla os preços são os atravessadores e não os produtores.
Mas por falar em falta de farinha na região, não se pode esquecer de como os pobres produtores são enganados facilmente. Um exemplo é o que acontece atualmente com algumas comunidades quilombolas. Há um tempo, os moradores daquelas comunidades ficaram tão agradecidos por um presente grande que receberam. A empresa estatal Eletronorte, que se dedica a gerar energia elétrica a qualquer custo, fazendo barragens em rios, inundando florestas e prejudicando ribeirinhos, teve a falsa dor de consciência e decidiu financiar várias casas de farinha modernas, a algumas comunidades quilombolas, como compensação por danos causados por barragens.
No início, o gesto até pareceu um ato penitencial honesto. Mas o tempo passou, as máquinas até vieram, os quilombolas trabalharam nas construções das casas de farinha, com a promessa de que seriam pagos pelo trabalho. Então tudo parou, as máquinas estão enferrujadas sem uso, porque não foram instaladas.
O ato penitencial revelou-se mais um desencargo de remorso temporário e não um arrependimento sincero. Enganaram com facilidade os pobres quilombolas. O interesse era, e ainda é, puramente gerar lucros, vendendo energia elétrica, destruindo florestas, rios e expulsando populações inteiras das áreas a serem inundadas. No Brasil são mais de 800.000 os atingidos por barragens e até hoje mal indenizados eabandonados. Entre eles, os quilombolas do município de Santarém.
Mas, o que se pode esperar de tal empresa, que após enganar os quilombolas agora faz de tudo para destruir os rios Xingu e o Tapajós para construir imensas barragens. Só na bacia do Tapajós o plano da Eletronorte é de inundar 1.930 quilômetros quadrados em cinco barragens. Serão atingidas populações desde os Munduruku, vindo por Jacareacanga, Itaituba, Miritituba, Aveiro e Santarém.
Se as populações consentirem esse desastre, provavelmente a Eletronorte virá depois com financiamentos de casas de farinha, de motores de luz e algumas outras quinquilharias num outro falso gesto de penitência. Mas os povos da bacia do Tapajós estão avisados e quem avisa, amigo é.
*Padre diocesano e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 01.03.2010
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