"Não somos peixes para morar no fundo do rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em paz" – Índios Munduruku.
Os caudalosos cursos d’água de três dos mais importantes afluentes do Amazonas – Xingu, Madeira e Tapajós –serão interrompidos por imponentes barragens. Florestas, rochas, árvores, fauna e flora que desde tempos imemoriais formam ecossistemas singulares serão sepultados para sempre. Águas barrentas criarão lagos artificiais ecom ele milhares de pessoas serão deslocadas, cidades serão encobertas e aldeias indígenas desaparecerão.
Habituados ao percurso milenar de suas águas, os rios certamente lutarão até o final de suas forças para recuperar sua liberdade, porém chegará o momento em que serão vencidos pelas barreiras artificiais e no lugar das corredeiras apenas um lago, silencioso e estancado.
A construção das hidrelétricas de Belo Monte (Xingu), Santo Antonio e Jirau (Madeira) e São Luiz de Tapajós, Jatobá, Cachoeira dos Patos, Jamanxim e Cachoeira do Caí (Tapajós) anunciam, entretanto, muito mais do que um simples duelo entre as águas e as barragens. O duelo das águas simboliza, sobretudo uma disputa de modelo econômico para a região e para o país. O debate em torno das hidrelétricas opõe concepções e projetos de sociedade e revelam visões de mundo.
A principal luta social que se trava hoje no país se dá na região Amazônica. A “vanguarda” da luta se deslocou para o Norte do país – é lá que se dá o debate do “Brasil que queremos”. O surgimento do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Movimento Rio Madeira Vivo e Aliança Tapajós é a manifestação visível dessa luta.
Acompanhar esse debate e essa luta é estar sintonizado com o que há de novo no movimento social brasileiro. É de lá que vem a inquietante e pertinente indagação: Que tipo de modelo econômico e de sociedade queremos?
*Conjuntura da Semana. Uma leitura das ‘Notícias do Dia’ do IHU de 01 a 09 de março de 2010 – UNISINOS – Rio Grande do Sul. (http://www.ihu.unisinos.br/).
Leia mais: Xingu, Madeira e Tapajós: Barragens da discórdia
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