domingo, 28 de março de 2010

1958 – Suécia: Afinal, a taça!

Dirley Santos, do Rio de Janeiro (RJ)*

O mundo em 1958 já vivia uma nova situação revolucionária. Dois anos antes eclode na Hungria uma grande revolução anti-burocrática, com as tropas da URSS sufocando o levante. Na URSS, Nikita Kruchev assume o posto de primeiro-ministro para depois denunciar os crimes de Stálin, a quem servira servilmente por mais de 30 anos.


Na Indochina (atual Vietnã) os franceses assassinam milhares para tentar manter o controle da colônia insubordinada, derrotas como a Die Ben Phu, para os guerrilheiros, já comandados pelo general Niag e por Ho Chi Min, põem em cheque a sua presença na região. Explode a sangrenta guerra Civil no Líbano, até então considerado a “Suíça do Oriente Médio”. A Argélia e outros países africanos ardem em busca de sua independência, que conquistariam na década seguinte.

Em Cuba, os guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Che avançam contra a ditadura sanguinária de Fulgêncio Batista. Na Colômbia uma guerra civil de dez anos entre liberais e conservadores é capitalizada pela reação democrática, abrindo caminho para o surgimento de uma guerrilha de esquerda que daria origem às FARC’s e ao ERP.

No Brasil, ainda repercute os ecos do suicídio de Getúlio Vargas, que morre para “entrar na história”. Tanto é que seu afilhado político, João Goulart – o Jango, é eleito como vice-presidente (a chapa presidencial não era casada). O presidente eleito, Juscelino Kubitscheck, governaria com a espada do golpe militar pairando sobre sua cabeça. O que aconteceria alguns anos depois.

Depois do Brasil em 50 e da Suíça em 54, mais uma vez foi escolhido como sede um país que não esteve no centro da segunda guerra. A Suécia, que, comparativamente a outros países, sofrera menos com o conflito, foi a escolhida. Os fantasmas da destruição nazista ainda assombravam o velho continente.

Além da Suécia, participaram França, Alemanha Ocidental, País de Gales, URSS, Irlanda do Norte, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Hungria, Inglaterra, Escócia, Áustria e, pelas américas, Brasil, Paraguai, Argentina e México.

Pernas tortas
No Brasil, João Havelange acabara de ser eleito presidente da CDB, a Confederação Brasileira de Desportos, que englobava vários esportes, em uma época em que a CBF não existia. Havelange era um “craque” da natação e quando novo, disputara torneios nas águas, então límpidas, do Rio Tietê. Após um início desastroso, a seleção brasileira se redime e faz uma preparação física e psicológica primorosa, incorporando desta vez dirigentes e craques paulistas.
Claro que, em meio a essa preparação, os cartolas não deixariam de cometer suas gafes, como ao colocar o extraordinário Garrincha na reserva por conta de suas pernas tortas (que entortavam os “Joãos” da vida) e por não conseguir passar nos rígidos testes psicológicos do Dr. João Carvalhaes. Bem, esse acabaria como mais um “João” no caminho de Garrincha que voltaria ao time titular a pedido dos jogadores mais experientes.

Essa copa revelou lendas do futebol mundial como Didi, “o príncipe etíope”, Nilton Santos, “a “enciclopédia do futebol”, Garrincha, “a alegria do povo” e um garoto de apenas 17 anos e futuro rei do futebol, Pelé. Jogadas antológicas, como o gol de Nilton Santos contra a Áustria. O botafoguense avançou pela esquerda, ignorou os berros do treinador Vicente Feola, mandando-o voltar, e atuou como um moderno ala, o “lençol” seguido de gol do menino Pelé em cima de um boquiaberto zagueiro sueco.

Mas Pelé, Garrincha e Vavá só foram efetivados no time titular após pedidos de Didi e Nilton Santos. Os dois primeiros estavam barrados certamente

por serem jovens e negros, já que seus titulares (também bons jogadores) eram brancos e mais experientes. Porém ambos, assim como Vavá, estavam inspirados e puseram abaixo sólidas defesas como a da URSS (do lendário goleiro Lev Yashin), do País de Gales e da França (uma das zagas menos vazadas).


Estes craques comandaram um time que encantou o mundo; na primeira fase: 3 x 0 na Áustria, 0 x 0 com a Inglaterra, 2 x 0 na URSS; nas quartas-de-final: 1 x 0 no País de Gales; na semifinal: 5 x 0 na França e 5 x 2 na Suécia na finalíssima. Com esta campanha, o Brasil mostrou ao mundo um futebol-arte mais desenvolvido e organizado e faturou a taça.

O resultado elástico pode esconder a qualidade da equipe sueca, perigosa não só por que jogava diante de sua torcida, mas também por que vencera a sensação França do craque Kopa e do artilheiro da Copa Just Fontaine (até hoje o maior artilheiro de uma só edição com 13 gols). A França obteria a terceira colocação, seguida da Alemanha.

Desta copa em diante, para muitos, como o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, o Brasil teria superado o seu “complexo de vira-lata” e ascendido à elite do futebol mundial no primeiro pedestal. O presidente Juscelino Kubitscheck telefonaria para Havelange ao final do torneio - “Durante a Copa do Mundo na Suécia, substituí vários ministros e não houve uma única palavra a respeito nos jornais. Estou pensando em fazer novas mudanças em futuro próximo. Qual a data da próxima Copa do Mundo?”.

O que ficou no imaginário da Copa de 58 é o triunfo de uma das melhores gerações de jogadores brasileiros, e o nosso primeiro título, o “espanta vira-lata”.


*Publicado em 2006 no sítio

http://www.pstu.org.br/ e em forma de artigos no Jornal Opinião Socialista por oportunidade da Copa da Alemanha.


Mais informações sobre a Copa de 1958*:

- País-sede: Suécia

-Data: 08 a 20 de junho de 1958

- Participantes: Alemanha Ocidental, Argentina, Tchecoslováquia, Irlanda do Norte, França, Iugoslávia, Paraguai, Escócia, Suécia (vice-campeão), País de Gales, Hungria, México, Brasil (campeão), União Soviética, Inglaterra, Áustria.

- Jogo de abertura: Suécia 3 x 0 México (Estocolmo)

- Final: Suécia 2 x 5 Brasil (Estocolmo)

- Curiosidades:

- A Copa do Mundo de 1958 foi a sexta Copa do Mundo disputada, e contou com a participação de 16 países. 51 países participaram das eliminatórias; a União Soviética participa das eleminatórias e se classificou para um mundial pela primeira vez; As quatro nações que constituem o Reino Unido da Grã-Bretanha também se classificam para a Copa: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Esta última elimou a Itália ainda nas elimitórias européias; Outro favorito, o Uruguai, foi eliminada nas elimatórias sul-americanas pelo Paraguai;

- A Hungria, de protagonista em 54 chegava como mera coadjuvante em 58, sendo que sem os seus principais craques, a equipe pouco pode fazer na copa: a invasão soviética ao território húngaro para reprimir a a Revolução de 1954 fez com que seus principais jogadores fugissem do país, e se refugiassem em clubes da Espanha. Com isso, a Hungria iria para a Suécia com uma equipe que perdera seu brilho, e contava com uma mistura de remanescentes de 1954 e novatos não-testados em competições internacionais.

- O francês Just Fontaine marcou 13 gols e se tornou o maior artilheiro numa única copa até os dias de hoje;

- A vitória do Brasil na Copa da Suécia é o único caso de um tim não europeu a consquistar o torneio nas ediçõe
s realizadas na Europa;

- Depois do sucesso de transmitir a Copa anterior de 1954, esse torneio também foi televisionado. O lançamento da segunda versão do satélite Sputnik pelos soviéticos, em janeiro de 1958, possibilitou a transmissão televisiva do torneio para os países europeus. No total, 11 países europeus aderiram ao consórcio liderado pela

Sveriges Radio, estatal de Rádio e TV, que detinha os direitos de transmissão;

- Após ser eliminada na primeira fase da Copa, com uma goleada de 6 a 1 para Tchecoslováquia, a equipe da Argentia foi recebida em Buenos Aires com uma chuva de pedras e moedas;

- Em uma semi-final, um grande duelo. A melhor defesa (Brasil) contra o melhor ataque (França). O Brasil faz uma exibição brilhante, com Pelé, Garrincha e Didi em um grande dia. Ainda que os franceses tivessem saído na frente, grandes atuações do time brasileiro se refletiram no resultado: 5 a 2 Brasil.


- A final seria disputada entre Brasil e Suécia em frente a um público de 50.000. O Brasil perde o sorteio e joga de azul, ambos os times tinham o uniforme nº 1 em amarelo. Nem o gol sueco que inaugurou o placar abalou a equipe. Resultado: uma partida excepcional que, mesmo com a derrota por 5 a 2 em casa, foi aplaudida de pé pela torcida sueca, ao saudar como campeões do mundo Pelé, Vavá, Zito, Mazzolla, Garrincha, Didi, Gilmar, Zagallo, entre outros. Assim o Brasil sagrava-se pela primeira vez campeão mundial de futebol.

*Fonte: Wikepédia

Leia o que já foi publicado aqui no blog sobre a história das copas:
1930 - Uruguai: A bola rola, com o mundo em frangalhos

1934 – Itália: O futebol como peça de propaganda do fascismo

1938 – França: O diamante negro e a copa da guerra

1950 – Brasil: A copa tupiniquim

1954 – Suíça: A Guerra Fria vai à final

Comentários
0 Comentários

0 comentários: