segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Flona Jamanxim: Ainda tem carne suja na mesa


Às margens da BR-163 e nas beiradas do Arco do Desmatamento, a Floresta Nacional do Jamanxim, no Sul do Pará, está sob proteção oficial desde 2006. Mas, passados quatro anos, isso não impediu que a área de 1,3 milhão de hectares continuasse ameaçada. Em sobrevoo pela região na última semana, ativistas do Greenpeace constataram que os velhos problemas continuam por ali. E têm nome: gado, queimadas e ocupações irregulares de terra.

De acordo com monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Flona de Jamanxim passou o mês de agosto liderando a lista de unidades de conservação com mais queimadas na Amazônia: foram mais de 800 focos registrados. A equipe cruzou as coordenadas dos incêndios com dados do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) e percebeu uma clara associação entre fogo e áreas de expansão da pecuária.

Prática antiga na agricultura brasileira, as queimadas servem para renovar o pasto e limpar áreas recém-desmatadas a um custo baixo. “Encontramos grandes focos. Na região da BR-163, o fogo começou no pasto e já atingiu a floresta. E a mesma coisa acontece no Norte de Mato Grosso”, conta Paulo Adario, diretor da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

Encravada numa das principais fronteiras de avanço do agronegócio, a Flona do Jamanxim foi criada para conter o desmatamento que avançava por suas bordas. A unidade é uma área de uso sustetável, sendo ilegais quaisquer atividades econômicas ou propriedades particulares em seu interior.

Em meados de 2009, o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou em altos brados a Operação Boi Pirata II, que iria coibir a criação de gado principalmente dentro de áreas protegidas. À época, mil cabeças de gado foram tiradas do Jamanxim.
Mas hoje,
segundo o Sindicato Rural do município de Novo Progresso – onde se encontra a Flona – pelo menos 100 mil cabeças continuam pisoteando a área, como mostram as imagens documentadas pelo Greenpeace.

Frigoríficos e supermercados
O problema não é novo, e nem é restrito à Floresta Nacional do Jamanxim. Com a falta de governança, a criação de gado em unidades de conservação e terras indígenas é coisa comum pela Amazônia. O setor da pecuária começou a se mexer apenas no final do ano passado, quando os três maiores frigoríficos do Brasil se comprometeram a não comprar mais boi de fazendas que criam os animais dentro de áreas protegidas ou recém-desmatadas.

No último mês de julho, JBS/Bertin, Marfrig e Minerva anunciaram ter deixado de comprar gado de 221 fazendas com essas características. Outras 1.787 propriedades estão em averiguação. As empresas afirmam, também, ter o ponto georreferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.
O movimento das gigantes da pecuária, no entanto, não resolve o problema por inteiro. Juntas, elas respondem por 36% dos abates feitos na Amazônia Legal. Deixando-as de lado, existem ainda 259 frigoríficos registrados atuando na região, entre pequenos, médios e grandes. Isso sem falar nos clandestinos. Até agora, eles não assumiram qualquer compromisso com o desmatamento zero, e continuam escoando seus produtos por meio de supermercados que ainda não limparam suas prateleiras dos passivos ambientais e sociais.

A Associação Brasileira de Supermercados, por sua vez, comprometeu-se, em 2009, a excluir fornecedores
que têm ligação com a devastação da floresta tropical brasileira. O prazo definido pelas redes varejistas termina na próxima terça-feira, 31, mas os resultados não estão aparecendo. É o que diz o Instituto de Defesa do Consumidor. Segundo o Idec, o consumidor ainda não encontra informação disponível para saber se a carne que chega à sua mesa vem de fazendas com desmatamento ilegal ou uso de trabalho escravo.
Fonte e fotos: Greenpeace
Leia ainda: Projetos ameaçam unidades de conservação -Valor Econômico - 06/09/2010
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