sexta-feira, 25 de março de 2011

Disputa sindical mantém paradas as obras do Madeira

Em uma inesperada reviravolta, os 16 mil operários da usina de Santo Antônio, em Rondônia, suspenderam ontem (24 de março) a volta ao trabalho.  Na quarta-feira, os funcionários haviam decidido, em duas assembleias, retomar as obras, paralisadas há exatamente uma semana.

Diante do que considera descumprimento de acordo e "greve branca", uma equipe de advogados da Odebrecht deve acionar a Justiça do Trabalho para pedir a declaração de ilegalidade do movimento grevista.  A empresa, que lidera o consórcio construtor da usina, deve pedir a suspensão do pagamento de salários, o desconto dos dias parados, o corte de horas extras e uma multa diária ao sindicato da categoria pela paralisação sem justificativas.  "Vamos dar o troco", disse uma fonte.  Os advogados avaliam que o sindicato da categoria faz "jogo duplo", ora elogiando, ora criticando a empresa.
A surpresa foi, na verdade, provocada por uma feroz disputa pelo controle do sindicato da construção civil.  Os ânimos estão acirrados.  Operários ligados à Força Sindical boicotaram a assembleia realizada na quarta-feira.  E acusam a atual direção sindical, sob intervenção branca da rival Central Única dos Trabalhadores (CUT), de realizar uma reunião "fajuta" para legitimar as demandas da Odebrecht.

"Eles fizeram uma assembleia sem o pessoal da construção civil.  Lá, só tinha gente da área administrativa, da montagem e os encarregados.  Pedimos para ninguém participar porque a gente queria desmascarar isso", afirmou o presidente estadual da Força, Antonio Acácio Amaral.  Apenas 25% dos operários teriam participado da assembleia, segundo ele.
Amaral foi destituído do sindicato em abril de 2010, acusado de irregularidades pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).  O caso foi adiante e hoje está no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para julgamento.

Enviado da CUT para comandar as negociações, o secretário de Finanças, Vagner Freitas Moraes, informa que os operários resolveram paralisar novamente as atividades porque a Odebrecht teria descumprido um compromisso firmado na quarta-feira para atender a "questões emergenciais".  "Até onde soube, eles pararam por causa de um não cumprimento do acordo.  E nossa assembleia foi legítima.  Teve, inclusive, a presença do MPT", disse Moraes.  A procuradora do trabalho Paula Moura confirmou ter acompanhado a reunião no canteiro de obras.  Em nota, garantiu que as "atividades laborais" deveriam, pelo acordo, ser "restabelecidas" ontem.

O Palácio do Planalto já avisou às centrais sindicais que não admitirá atrasos em obras fundamentais ao país, como as duas usinas, por causa de disputas políticas sindicais.  Nos bastidores, avalia-se que as usinas estão no meio de uma renitente briga por cargos no alto escalão do governo federal.  Na terça-feira, haverá reunião de sindicalistas e empresários, convocada pelo governo, para avaliar a situação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) afetadas por greves.

Uma prolongada paralisação de Santo Antônio também poderia colocar em risco a meta de antecipação da geração de energia, prevista para dezembro deste ano.  Em 2010, a usina passou pela mesma situação.  A briga dos sindicalistas provocou uma greve e alguns tumultos.

Fonte: Valor Econômico

Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Marcelo Apel disse...

este título é ótimo... como se as disputas sindicais fossem responsáveis pela paralisação das obras....

imprenssazinha irresponsável