Em uma inesperada reviravolta, os 16 mil operários da usina de Santo Antônio, em Rondônia, suspenderam ontem (24 de março) a volta ao trabalho. Na quarta-feira, os funcionários haviam decidido, em duas assembleias, retomar as obras, paralisadas há exatamente uma semana.
Diante do que considera descumprimento de acordo e "greve branca", uma equipe de advogados da Odebrecht deve acionar a Justiça do Trabalho para pedir a declaração de ilegalidade do movimento grevista. A empresa, que lidera o consórcio construtor da usina, deve pedir a suspensão do pagamento de salários, o desconto dos dias parados, o corte de horas extras e uma multa diária ao sindicato da categoria pela paralisação sem justificativas. "Vamos dar o troco", disse uma fonte. Os advogados avaliam que o sindicato da categoria faz "jogo duplo", ora elogiando, ora criticando a empresa.
A surpresa foi, na verdade, provocada por uma feroz disputa pelo controle do sindicato da construção civil. Os ânimos estão acirrados. Operários ligados à Força Sindical boicotaram a assembleia realizada na quarta-feira. E acusam a atual direção sindical, sob intervenção branca da rival Central Única dos Trabalhadores (CUT), de realizar uma reunião "fajuta" para legitimar as demandas da Odebrecht.
"Eles fizeram uma assembleia sem o pessoal da construção civil. Lá, só tinha gente da área administrativa, da montagem e os encarregados. Pedimos para ninguém participar porque a gente queria desmascarar isso", afirmou o presidente estadual da Força, Antonio Acácio Amaral. Apenas 25% dos operários teriam participado da assembleia, segundo ele.
"Eles fizeram uma assembleia sem o pessoal da construção civil. Lá, só tinha gente da área administrativa, da montagem e os encarregados. Pedimos para ninguém participar porque a gente queria desmascarar isso", afirmou o presidente estadual da Força, Antonio Acácio Amaral. Apenas 25% dos operários teriam participado da assembleia, segundo ele.
Amaral foi destituído do sindicato em abril de 2010, acusado de irregularidades pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O caso foi adiante e hoje está no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para julgamento.
Enviado da CUT para comandar as negociações, o secretário de Finanças, Vagner Freitas Moraes, informa que os operários resolveram paralisar novamente as atividades porque a Odebrecht teria descumprido um compromisso firmado na quarta-feira para atender a "questões emergenciais". "Até onde soube, eles pararam por causa de um não cumprimento do acordo. E nossa assembleia foi legítima. Teve, inclusive, a presença do MPT", disse Moraes. A procuradora do trabalho Paula Moura confirmou ter acompanhado a reunião no canteiro de obras. Em nota, garantiu que as "atividades laborais" deveriam, pelo acordo, ser "restabelecidas" ontem.
O Palácio do Planalto já avisou às centrais sindicais que não admitirá atrasos em obras fundamentais ao país, como as duas usinas, por causa de disputas políticas sindicais. Nos bastidores, avalia-se que as usinas estão no meio de uma renitente briga por cargos no alto escalão do governo federal. Na terça-feira, haverá reunião de sindicalistas e empresários, convocada pelo governo, para avaliar a situação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) afetadas por greves.
Uma prolongada paralisação de Santo Antônio também poderia colocar em risco a meta de antecipação da geração de energia, prevista para dezembro deste ano. Em 2010, a usina passou pela mesma situação. A briga dos sindicalistas provocou uma greve e alguns tumultos.