Em encontro realizado na cidade de Santarém nos dias 09 e 10 de abril de 2011, 14 entidades da região do Baixo Amazonas aprovaram uma Carta aberta dirigida à Reitoria da UFOPA repudiando a atitude do Reitor Seixas Lourenço em instaurar processos administrativos para punir estudantes, professores e técnicos envolvidos em manifestação ocorrida na aula magna no dia 18 de março
Leia a carta abaixo:
A criação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), oficializada em novembro de 2009, representou um grande avanço para nossa região. A instalação de uma Universidade com sede numa cidade do oeste paraense é uma demanda histórica da sociedade e dos movimentos sociais. Nosso povo e nossa juventude precisam de formação acadêmica para promoção do desenvolvimento econômico, social, cultural e humano da região do Baixo Amazonas.
Entretanto, os rumos que a UFOPA vem tomando são preocupantes. Administrada por Seixas Lourenço, um Reitor Pró-Tempore indicado pelo MEC, a UFOPA nunca abriu espaço verdadeiramente democrático para discussão e deliberação com os movimentos sociais. Os poucos eventos realizados, audiências e seminários, representaram uma “democracia de fachada”, em que a opinião dos movimentos não era levada em consideração. Quem batia o martelo era sempre o Reitor e sua equipe.
Por outro lado, a nova Universidade escancara suas portas às grandes empresas multinacionais que exploram os recursos naturais da nossa reiragião. Prova disso é o convênio firmado com a ALCOA, mineradora que atua no município de Juruti, extraindo bauxita e deixando migalhas ao nosso povo. Afinal de contas, a quem serve a UFOPA? Aos pequenos ou aos grandes?
Foi dentro desse contexto que os estudantes da UFOPA, organizados pelo Diretório Central dos Estudantes e pela União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém (UES), realizaram durante a aula magna do dia 18 de março de 2011 um ato público exigindo democracia na Universidade, através da abertura de um processo de eleições diretas para a Reitoria (Diretas Já!).
Já no dia 19 de março, em resposta a essa legítima manifestação, o magnífico Reitor instaurou um processo administrativo disciplinar contra o Professor Gilson Costa e duas sindicâncias para apurar quais eram os estudantes e técnicos envolvidos no “ato irregular”. Recentemente, após a identificação dos manifestantes, foram instaurados dezenas de processos administrativos contra estudantes, visando puni-los por ousarem desafiar os donos do poder.
Os movimentos sociais do Baixo Amazonas repudiam essa atitude autoritária da Reitoria da UFOPA, que, ao invés de abrir canais de diálogo com os setores descontentes, prefere puni-los. Ocorre que no Brasil é livre a expressão do pensamento, conforme prevê a Constituição de 1988, em seu art. 5º, inciso III. Portanto, os processos da Reitoria contra estudantes, professores e técnicos são ilegais, ilegítimos e imorais – um verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito.
Por tudo isso:
- MANIFESTAMOS nosso INTEGRAL APOIO ao movimento estudantil santareno, especialmente ao DCE da UFOPA e à UES, que tiveram a coragem de desafiar os donos do poder instituído na Universidade Federal do Oeste do Pará.
- REPUDIAMOS o ato do Reitor Seixas Lourenço devido à sua truculência política e à sua tentativa de criminalizar nossa juventude.
- EXIGIMOS a imediata anulação dos processos administrativos em curso e a mais urgente democratização da nossa universidade.
Por uma Universidade pública, gratuita e verdadeiramente democrática, onde estudantes, professores, funcionários e os movimentos sociais tenham voz e vez.
Santarém, 10 de abril de 2011.
Assinam:
Pastoral Social da Prelazia de Óbidos
Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE)
Comissão Pastoral da Terra (Núcleo de Óbidos)
Coletivo Puraquê
Movimento Juruti em Ação
Movimento em Defesa da Vida e da Cultura do rio Arapiuns (MDVCA)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Associação das Comunidades da Gleba Curumucuri (ACOGLEC)
Casa Família Rural de Óbidos
Associação dos Produtores do rio Mamuru (APRIM)
Federação das Associações da Gleba Lago Grande (FEAGLE)
Associação das Comunidades da Região do Planaldo Mamuru (ACRPM)
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alenquer (STTR)]
Cáritas – Prelazia de Óbidos.
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