sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jirau: relato de quem esteve lá


Recebi este relato de um conhecido que trabalhava na obra de Jirau e agora me envia este relato. Na verdade, só tive notícias dele nesta semana e não divulgo o nome para não expô-lo:

“Amigo,
Estou bem, mas foi horrível. Acordei e tudo queimava. Foi um desespero total vê meu alojamento em chamas, mas deu tempo de tirar minhas coisas. Agora não sei o que fazer, pois estou desempregado de novo. Aceitei ir embora e receber meus direitos, mas só tinha quatros meses, nem seguro vou receber. Eles disseram pra voltarmos daqui a vinte dias se quiséssemos, mas eu não volto de jeito nenhum. Eu achava muito legal trabalhar lá. Podia ter fila pra tudo, mas não faltava comida e ônibus para todos. Não tenho o que reclamar da empresa. Mas não hora do quebra-quebra só via uns caras encapuzados. Eram em grupos. Entraram no Bradesco que ficava atrás do refeitório e cortaram o caixa eletrônico no meio com um maçarico. Nunca vi coisa assim. Parecia cena de cinema. Tinha gente desmaiando. Isso por volta das 6 da manhã, pois a polícia só chegou às 2 horas tarde, soltando pimenta nos nossos olhos, como se nós fôssemos culpados. Isso na portaria que fica a 16 quilômetros do alojamento. Já tínhamos andado 5 quilômetros, pois lá não dava pra ficar, a fumaça era muita. Depois de quatro horas de caminhada, chegamos no portão principal, “Pioneiro”, cansados com bolsas e mochilas nas costas e sem comer nada. Os ônibus estavam todos queimados. Fomos maltrados pelos fardados com cachorros enormes, dizendo que não podíamos sair, que iriam revistar nossas bolsas. Tiravam nossas roupas de qualquer jeito das malas e jogavam no chão. Virou uma bagunça. Isto com os repórteres filmando. Parecia uma guerra. Isso já era já era 3 da tarde. Por volta da 5 da tarde chegaram os ônibus pra tirar nós de lá. Nisso muita gente já tinha resolvido ir a pé pra Porto Velho que a mais ou menos uns 120 quilômetros, pois o tumulto era muito. Quando íamos pra Porto Velho, já no ônibus, havia muita gente na BR, indo a pé. Era horrível, mas nosso ônibus já estava muito lotado. Quando chegamos em Porto Velho, nos levaram pro Sei onde fiquei 2 dias. Até me deram uma passagem de avião para Porto Velho, mas não fui. Vendi e vi pra Recife. Aqui estou bem e to vendo se consigo algo por aqui. Quem sabe eu não apareça aí em Santarém, pois fiz muitas amizades com gente daí e fica próximo de Belo Monte né, minha próxima barragem. Eu vi o teu blog. O que falei não é nem a metade do que eu vi lá. O terror era muito. Tudo virou cinza. Acabou...."
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