Segundo a CPT, houve queda no número de casos de conflito no país, mas a violência foi maior. Acre e Tocantins tiveram mais vítimas de trabalho escravo resgatadas
Fabíola Munhoz*
A região Norte se manteve neste ano com a maior quantidade de assassinatos por conflitos no campo: seis. A conclusão é da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que divulgou ontem dados parciais sobre embates no campo e, de janeiro a junho de 2009, constatou redução de 46% no número desses conflitos, em relação ao mesmo período de 2008.
O número de assassinatos verificados no Norte do país, neste ano, é, no entanto, inferior aos 10 casos registrados na área em igual período de 2008. A região também apresentou crescimento do número de tentativas de assassinato, que subiu de 14, em 2008, para 16 neste ano.
Para a coordenadora nacional da CPT, Isolete Wichinieski, o Norte apresenta grande número de assassinatos pela própria situação da região, onde há o maior quantia de assentamentos, terras públicas e desmatamento para a comercialização de madeira, fatores que estão ligados ao aumento do conflito agrário.
"Isso também tem relação com a impunidade na região, pois se não há punição, dá-se margem para que os conflitos, assassinatos e ameaças aumentem", explicou.
Segundo os dados da CPT, de janeiro a agosto de 2008, 14 trabalhadores foram assassinados no país, enquanto no mesmo período de 2009 esse número foi 17. No ano passado, os assassinatos ocorreram em sete estados. Em 2009, eles se espalharam por 11 estados.
Conflitos diminuíram, mas violência aumentou
Os dados mostram que houve queda no número de casos de conflito no campo neste ano, mas a violência empregada neles foi bem maior. Os confrontos por terra, água e relações trabalhistas verificados foram 366, envolvendo 193.174 pessoas. Deles, segundo a CPT, resultaram 12 assassinatos, 44 tentativas de assassinato, 22 ameaças de morte, seis pessoas torturadas e 90 presos.
A disputa pela terra foi a causa de 246 desses conflitos, que envolveram 25.490 famílias. Dessas, 393 foram expulsas de suas terras por proprietários e seus jagunços. As outras 4.475 foram despejadas por ação judicial.
Em números absolutos, só houve crescimento das tentativas de assassinato - 32 em 2008, e 44 em 2009 - e da quantia de pessoas torturadas, duas em 2008 e seis em 2009.
Até 30 de junho deste ano, foi registrado um assassinato para cada 30 conflitos; uma tentativa de assassinato para cada oito conflitos; um torturado a cada 61 conflitos; um preso a cada quatro conflitos; 1,5 famílias expulsas a cada conflito por terra e 18 despejadas.
A coordenadora da CPT diz que esse aumento da violência nos conflitos tem ligação com o fato de a reforma agrária não ter avançado no país, ao mesmo tempo em que houve expansão do agronegócio.
"Essa situação amplia a ação de quem resiste a esse processo capitalista e quer a reforma agrária e também a daqueles que querem aumentar seu lucro a partir do agronegócio", afirma.
Os números relativos revelam que a média de pessoas envolvidas nos conflitos no campo deste ano é maior. Em 2008, a média nacional era de 445 pessoas envolvidas para cada conflito. Em 2009, este número saltou para 528.
Mas, as ações dos trabalhadores, ocupações e acampamentos encolheram neste ano. O número de ocupações baixou de 187, em 2008, para 102, em 2009. Já o número de acampamentos deste ano caiu para 22, diante dos 27 em 2008. Por outro lado, o número médio de pessoas por acampamento teve um crescimento considerável: 68 famílias por acampamento em 2008; 104 em 2009. Já nas ocupações, o número médio de pessoas decresceu e passou de 106, em 2008, para 99 em 2009.
(...)
Veja os dados sobre conflitos no campo na íntegra:
Dados sobre conflitos no campo- primeiro semestre de 2009
Casos de violência contra ocupação e posse de terras- 2009
Casos de violência contra a pessoa- 2009
Casos de trabalho escravo- 2009
*Fonte: Amazonia.org.br Link: http://www.amazonia.org.br
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