segunda-feira, 4 de maio de 2009

A cheia em Altamira foi um alerta


Por Rodolfo Salm*

Altamira voltou a ser destaque na grande imprensa, desta vez por causa da maior enchente de sua história, na manhã do domingo de Páscoa. Os números foram realmente chocantes: no auge da inundação (causada pelo rompimento de uma seqüência de barragens no igarapé Altamira), os milhares de desabrigados chegaram a representar 20% da população. Entretanto, apesar de a tragédia ter sido amplamente divulgada, foi praticamente impossível ao observador externo entender o que realmente aconteceu por aqui, devido aos vários erros e distorções na cobertura da imprensa.

Uma das chamadas de abertura do Jornal Nacional do dia seguinte foi "
Chuvas castigam as regiões Norte e Nordeste". A manchete não poderia ter sido mais equivocada, pelo menos no que se refere a Altamira, que forneceu as imagens mais chocantes da reportagem, com geladeiras, televisões e computadores novos boiando, sendo levados pela enxurrada, e pessoas desesperadas tentando salvar-se ou salvar alguma coisa. Ao contrário do que disse Fátima Bernardes, as chuvas não castigam a região. Na verdade elas a abençoam. O que realmente castiga este povo são os desmatamentos e o descaso com a questão ambiental. Especificamente a irresponsabilidade na construção de barragens, instaladas ilegalmente e que serviam para diversos fins, como criação de peixes, atividades de lazer ou irrigação.


*Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da Universidade Federal do Pará. Texto publicado originalmente noCorreio da Cidadania.
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