"A usina Belo Monte deve ser mesmo licitada em setembro ou outubro", anunciou a Agência Brasil, órgão de comunicação do governo federal, no dia 10 de maio. Segundo o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o licenciamento ambiental para a obra "está bem encaminhado e tramita normalmente". O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ainda definiu como "estapafúrdias" as notícias com informações contra as previsões de Zimmermann.
Na verdade, estapafúrdio mesmo é o ministro "ambientalista", o grande licenciador de obras e barrageiro Carlos Minc falar em leilão se o estudo de impacto ambiental de Belo Monte ainda não está concluído. Falta justamente o componente antropológico, que aborda um dos aspectos mais delicados deste projeto megalomaníaco, ainda em desenvolvimento. Aliás, neste momento, a equipe de pesquisadores contratada para executá-lo está em uma expedição de campo investigando fortes indícios da presença de índios não contatados (que ainda vivem sem contato direto com a nossa civilização) a meros 60 km em linha reta do local onde se pretende construir a barragem da terceira maior hidrelétrica do mundo!
Além disso, os membros da equipe já localizaram diversas populações de índios de várias etnias vivendo no perímetro urbano de Altamira, em quantidades muito superiores ao inicialmente previsto. Os estudos mostraram também que essas populações concentram-se justamente nas áreas que seriam mais afetadas com os alagamentos. E ninguém tem a mínima idéia do que será feito dessa gente. Quando o secretário de Minas e Energia diz que o licenciamento ambiental "tramita normalmente", na verdade ele pretende passar aos investidores a idéia de que isso tudo não interessa, pois neste e em outros casos gravíssimos na Amazônia brasileira os licenciamentos ambientais são uma mera formalidade burocrática.
*Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da Universidade Federal do Pará. Publicado originalmente no Correio da Cidadania em 18/05/2009.