terça-feira, 26 de maio de 2009

Hidrelétricas no rio Tapajós: começaram as mentiras

Ontem mesmo ouvi e li alguns meios de comunicação aqui do Pará repetirem a matéria feita pela Agência Brasil (Rio Tapajós tem potencial para construção de até sete usinas hidrelétricas, diz Aneel) de que serão construídas sete “pequenas hidrelétricas” na bacia do rio Tapajós. A notícia foi obviamente produzida por setores interessados nas UH´s e está completamente distorcida.

As hidrelétricas do rio Jamanxim não podem ser classificadas como pequenas pelo potencial de produção de energia (Cachoeira do Caí: 802 MW; Jamanxim: 881 MW; Cachoeira dos Patos: 528 MW e Jardim do Ouro: 227 MW). Muito menos as projetadas diretamente no rio Tapajós: São Luiz do Tapajós: 6.133 MW; Jatobá: 2.338 MW; Chacorão: 3.336 MW. Como não foi divulgado o volume de água que essas hidrelétricas irão acumular, nem a área que as mesmas vão inundar esses não devem ter sido critérios para classificação.

Segundo diz a própria ANAEEL (Resolução ANEEL n. 394, de 4 de dezembro de 1998 (Diário Oficial, de 7 dez. 1998, seção 1, p. 45)) :


Art. 2° Os empreendimentos hidrelétricos com potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, com área total de reservatório igual ou inferior a 3,0 km² , serão considerados como aproveitamentos com características de pequenas centrais hidrelétricas.

Parágrafo único. A área do reservatório é delimitada pela cota d’água associada à vazão de cheia com tempo de recorrência de 100 anos.

Art. 3° O empreendimento que não atender a condição de área máxima inundada poderá,consideradas as especificidades regionais, ser também enquadrado na condição de pequena central hidrelétrica, desde que deliberado pela Diretoria da ANEEL, com base em parecer técnico, que contemple, entre outros, aspectos econômicos e sócio-ambientais.

Portanto, a “menorzinha” possui 227 MW de potência, bem longe do limite de 30.000kW (ou 30MW) para pequenas centrais hidrelétricas.

Pela classificação a partir da potência, grandes centrais hidrelétricas são aquelas com mais de 100.000kW (ou maior que 100MW) onde se encaixam todas as UH´s do inventário.

Para se ter uma idéia do que isso significa, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, uma das maiores do país, tem capacidade de potência de 8.370 MW. São Luiz do Tapajós deverá ter potencial de 6.133 MW, será uma das maiores do país. Nada tem de pequena.

A outra mentira é que com a produção de energia haverá redução nas tarifas. Por que não falam logo que estas obras é para as mineradoras (Alcoa, Vale, Rio Tinto) e siderúgicas (Alcan Alumar, Albrás). Esses grupos pagam no máximo, R$ 0,06 por cada kW/h consumido enquanto os mortais aqui pagamos 12 vezes mais do que isso.

Quase a metade de toda a energia produzida é utilizada pela indústria e cerca de 550 grandes consumidores gastam praticamente 20% da energia elétrica no Brasil, estando entre elas as produtoras de ferro-gusa, de alumínio e de celulose. Empresas como a Vale que consome aproximadamente 4,5% da energia do país aproximadamente 15,8 milhões de MWh de energia. Mas, além do grande consumo há uma questão do preço pago por essa energia. De acordo com o engenheiro José Paulo Vieira, a população chegou a pagar R$ 15 bilhões a mais por ano em energia. É a população subsidiando as grandes empresas, pobres sustentando a energia de grandes multinacionais que são as maiores beneficiadas por esses grandes projetos hidrelétricos.

Aliás, porque não se aproveita o potencial das usinas hidrelétricas já construídas. Para se ter idéia, a UH de Tucuruí, no rio Tocantins, opera até o momento com um terço de sua capacidade. Somente agora, estão fazendo a 2ª parte de suas eclusas e só Deus sabe quando se terminará. Aliás, o artigo do jornalista Lúcio Flávio Pinto é bem esclarecedor sobre as quantas andas essa obra: Língua Ferina: Tem areia nas eclusas de Tucuruí


Mas, certamente esse tipo de obra são muito interessantes para às Camargos Correias da vida e aos políticos que adoram obras superfaturadas ou com “sobre-preço” como agora falam por aqui.

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