Por Edilberto Sena*
Quando a multinacional Cargill se viu acuada com as críticas e denúncias por causa dos prejuízos sociais e ambientais na região Oeste do Pará, conseqüência de seu porto graneleiro na cidade de Santarém, a empresa apelou ao diálogo de conciliação. Aliás, diga-se de passagem, esse porto em Santarém ainda está sub judice, portanto a Cargill não está totalmente legalizada e ainda poderá ser condenada a retirar o porto construído ilegalmente em frente à cidade de Santarém.
Pois bem, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, a Abiove, convidou algumas ONGs ambientalistas e movimentos sociais da região santarena para uma tentativa de se construir uma chamada “moratória da soja”. Pela tal moratória as empresas só comprariam soja de produtores que não mais derrubassem floresta. Isso foi em 2006.
O movimento social popular FRENTE EM DEFESA DA AMAZÔNIA (FDA) participou de três encontros de diálogo e logo percebeu que a proposta de moratória era apenas um empurra com a barriga a situação que estava incomodando as sócias da Abiove. Era um truque para iludir os desavisados e os ingênuos.
Isto porque a proposta da Abiove era de se concordar numa moratória de apenas dois anos, iniciando em julho de 2007. A FDA propunha, se era para ser uma moratória séria, um espaço de 10 anos, iniciando em dezembro de 2003. A proposta do movimento popular nativo sabia que foi a partir de 2003 que aumentou a compra de lotes da agricultura familiar e derrubada de floresta pelos sojeiros. Os membros do encontro, representantes da BUNGE, CARGILL, MAGGI entre outras, recusaram a proposta imediatamente.
As ONGs se calaram e depois da terceira reunião o movimento popular santareno rompeu o diálogo por perceber que era uma farsa a proposta de moratória de dois anos. Não deu outra, os que ficaram nos encontros fecharam acordo e começou a tal moratória em julho de 2007. Em julho de 2009 foi prolongada por mais um ano, por não ter dado certo o prazo original. Agora, o próprio líder do Greenpeace, uma das ONGs que aceitou o acordo da Abiove, reconhece que continuou o desmatamento em áreas de soja em Santarém e mais ainda no Mato Grosso.
Isto é, a tal moratória de três anos foi só conversa para inglês e europeu verem. Se diminuiu um pouco a produção de soja na região Oeste do Pará, nesses últimos três anos, foi por outras causas, como a crise financeira mundial, com rebaixamento do preço internacional que levou vários sojeiros até a retornarem a seus estados de origem. Mas a desgraça do desmatamento já ficou na região.
Tinha razão a Frente em Defesa da Amazônia ao romper com o pseudo-diálogo. Hoje a Abiove e a Cargill em particular lançam propaganda de serem empresas sérias que respeitam o meio ambiente. A Cargill está com uma campanha em Santarém de induzir crianças de escolas e seus professores a acreditarem que ela só faz o bem, distribui merenda gorda e aponta “grandes” benefícios que oferece à sociedade santarena. E diz mais, que é uma empresa totalmente legalizada, mesmo estando vivo um processo contra o porto. Acredite quem quiser.
*Pároco diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial de 05 de março de 2010.
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