sexta-feira, 5 de março de 2010

1938 – França: O diamante negro e a copa da guerra

Sérgio Darwich*

Segunda Grande Guerra Mundial aproxima-se com a velocidade de um ponta-direita. O único recurso que a burguesia mundial tinha em mãos para aumentar a exploração econômica e seus lucros seria destruindo as forças produtivas, recorrendo novamente à guerra, à pilhagem de países inteiros, aos regimes totalitários e ao massacre de milhões de trabalhadores e povos. Da Alemanha, é apresentado ao mundo o “Manifesto sobre a Raça”, que com o livro “Minha Luta”, de Adolf Hitler, tenta justificar a estúpida defesa da superioridade branca, a perseguição aos judeus e os povos considerados inferiores. Era o aquecimento para o Holocausto.


Com conflitos mundiais em curso ou iminentes e uma crise econômica e social sem precedentes, iniciava-se, na França, em 1938, mais uma copa do Mundo. Apesar da ameaça de guerra, a FIFA interrompeu o rodízio entre os continentes e a Europa sediou novamente os jogos. Diante disso, a Argentina liderou o boicote a esta copa, e Uruguai, México, Costa Rica, El Salvador, Colômbia e Guiana Holandesa a acompanharam. De fora da Europa, apenas Brasil, Cuba e as antigas Índias Holandesas (atual Indonésia) participaram.

Camisas negras
Definitivamente, a política estava em campo em 1938. A torcida francesa sempre vaiava os jogadores italianos e alemães, quando estes pegavam na bola e estes utilizavam as saudações nazi-fascistas.

A Alemanha anexara a Áustria, que formara seu melhor time até então, e seus jogadores foram obrigados a integrar o time alemão. A seleção alemã adotou as camisas negras, cor do nazismo, e a suástica como escudo do time. Mesmo assim a Alemanha foi eliminada pela Suíça ainda na fase preliminar, por 4 x 2. O melhor jogador austríaco, o judeu Mathias Sinfelar recusou-se a integrar a seleção alemã e suicidou-se após a Copa do Mundo.

Ainda em guerra civil, a Espanha não participou e perdeu a melhor oportunidade de conquistar o título mundial pois possuía uma das melhores equipes da Europa, liderada por Zamora – considerado o melhor goleiro do mundo.


Um diamante no caminho da Itália
A seleção italiana era a que, de longe, estava mais bem equipada e preparada. Sua adesão ao profissionalismo, as preocupações com centros de treinamento para sua seleção, maior experiência internacional, o título ganho na última Copa, em 1934, planejamento, concentração e a adoção do transporte aéreo para os jogadores foram fatores extra-campo que favoreceram a equipe que, enfim, tornou-se bicampeã. Basta lembrar que o Brasil precisou viajar 10 dias de navio para chegar à Europa e alguns de seus jogadores, como Romeu, engodaram até 10kg.

Ainda assim, o Brasil, pela primeira vez, montou uma verdadeira seleção, com o fim dos conflitos entre Confederação Brasileira de Desportos e a Confederação Brasileira de Futebol. Para sustentar a viagem dos jogadores e envolver a torcida, a CBD produziu 100 mil selos para serem vendidos, sob o slogan: "Ajudar o Scratch é dever de todo brasileiro." O Brasil também contou não só com um bom time, mas com o que foi considerado o primeiro gênio do futebol: o inventor da bicicleta, Leônidas da Silva, o Diamante Negro.

A seleção brasileira estreou com um jogo épico, ganhando de 6x5 da Polônia, com 3 gols de Leônidas – um dos quais sem a chuteira, descalço. Contra a Tchecolosváquia, os resultados foram de 1x1 e 2x1, no jogo de desempate. O Brasil jogou, então, as semifinais com a Itália e o técnico brasileiro, Ademar Pimenta, decidiu “poupar” Leônidas do jogo de vida ou morte, levantando uma clara suspeita de que a delegação brasileira havia sido pressionada ou comprada pelo governo italiano e seu regime fascista. Resultado, um jogo duro, mas a Itália venceu o Brasil por 2x1. No dia seguinte, o jornal “La Gazetta dello Sport” estampava a seguinte manchete: “Saudamos o triunfo da inteligência italiana sobre a força bruta dos negros”.
Muitos pesquisadores afirmam que se o “Diamante Negro”, o mago Leônidas da Silva, artilheiro desta copa com 8 gols, tivesse jogado, o resultado do jogo poderia ser diferente, favorável ao Brasil. Até hoje seus jogadores como Leônidas, Perácio e Romeu são lembrados.

A Itália foi campeã derrotando a Hungria na final por 4 x 2. Novamente a imprensa italiana proclamarias louas “a apoteose do esporte fascista nesta vitória da raça”. O Brasil ficou com o terceiro lugar, derrotando a Suécia também por 4 x 2, com 2 gols de Leônidas, que “reapareceu”.

Os anos seguintes foram de guerra mundial generalizada, que deixou 40 milhões de mortos. Hitler, ignorando os apelos de amedrontados governos burgueses, avança sobre a Europa. Anexa a Áustria e ocupa os Sudetos; em 1939 invade a Polônia; Em 1940, ocupa a Dinamarca, Holanda, Bélgica e até a outrora temida França só sobrando uma atônita Inglaterra. Em 1941 dá um drible em Stálin e invade a URSS. Mas isso é história para outra copa. Ou para as que deixaram de ocorrer.

* Colaboraram Carlos Serrano e Dirley Santos, do Rio de Janeiro (RJ). Publicado em 2006 no sítio www.pstu.org.br e em forma de artigos no Jornal Opinião Socialista por oportunidade da Copa da Alemanha.


Mais informações sobre a Copa de 1934:
- País-sede: França
- Data: 04 a 19 de junho de 1938
- Participantes: Alemanha, Suíça, Hungria (vice-campeã), Índias Orientais Holandesas (hoje Indonésia), Suécia, Áustria, Cuba, Romênia, França, Bélgica, Itália (campeã), Noruega, Brasil, Polônia, Tchecoslováquia, Países Baixos.
- Jogos de abertura: Como nas copas anteriores, não havia chaves classificatórias e todos os 16 times jogaram as oitavas de final no dia 05 de junho.
- Final: Itália 4 x 2 Hungria
- Curiosidades:
- Nas quartas-de-final, no jogo França x Itália, a Itália não poderia usar a cor azul já que a preferência seria do time da casa, a França. Os italianos se apresentaram de camisas, calções e meias negras, em alusão ao fascismo;
- A Áustria foi anexada pela Alemanha nazista meses antes da copa. Alguns de seus jogadores foram incorporados à seleção alemã, mas o time continuou classificado para a Copa, resultando no único W.O da história das copas (Suécia x Áustria);

- A Alemanha nazista se reforçou com jogadores austríacos em suas fileiras. Mas na sua partida de abertura, não passou de um empate em 1-1 com a
Suíça. No jogo desempate, ocorrido cinco dias depois, a Alemanha chegou a abrir 2-0. Com o resultado, foi enviado um telégrafo a Adolf Hitler informando o resultado. Mas os suiços não se deixaram abater e viraram o placar, vencendo por 4-2, eliminando a equipe alemã;

- Nesta copa o Brasil usuo pela primeira vez a camisa azul. Como seus adversários poloneses usavam camisas brancas (mesma cor que o Brasil usava na época), o jeito foi jogar com camisas azuis,sem escudo, que eram utilizadas nos treinamentos. Nesse mesmo jogo, o centroavante brasileiro Leônidas da Silva marcou um gol de pé descalço. No segundo tempo da partida, com a chuva que caiu no gramado, e o barro que inundou o campo, Leônidas teve a sua chuteira estourada, descolando a sola do cabedal. Enquanto sua chuteira era consertada, o atacante fez um gol sem as chuteiras, após o rebote de uma cobrança de falta;
- Foi a primeira Copa do Mundo transmitida por rádio para vários países do mundo. No Brasil, os mais antigos diziam que a voz do locutor falhava constantemente, as vezes por até um minuto acontecendo, inclusive, casos do gol narrado não chegar ao Brasil e o ouvinte só saber minutos depois com a reconfirmação do resultado final;

- Após 1938, as copas de 42 e 46 não ocorre
m devido à II Guerra Mundial.

*Fonte: WikepédiaLeia ainda aqui no blog:

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