segunda-feira, 10 de maio de 2010

1970 – México: A ditadura militar embalada pelo tri

Lívia Furtado, de Belo Horizonte (MG)*

Todos juntos vamos,
Pra frente Brasil!
Brasil !
Salve a Seleção!!!

Assim era a letra do hino da campanha brasileira para a Copa de 1970, no México, até hoje conhecido por boa parte da população. O hino marcou não apenas a conquista do tri, mas o momento político daquele tempo. O clima era de euforia, com uma seleção considerada até hoje insuperável, com nomes como Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson, Carlos Alberto Torres e Jairzinho. A seleção brasileira era um fenômeno inigualável e venceu todos os jogos da Copa.

Na América Latina, o cenário de pobreza e desigualdade social levou a intensas mobilizações sociais anti-imperialistas e socialistas. Na década de 60 e 70, a luta dos trabalhadores no continente foi sufocada por golpes militares apoiados e financiados pelos EUA.

O AI-5 e “esse Brasil vai pra frente"
No Brasil, o Ato Institucional Nº 5 (AI-5) já havia sido instituído no final de 68, pelo general Costa e Silva, fechando o Congresso, extinguindo toda liberdade de organização e reunião e garantindo aos militares plenos poderes para reprimir, perseguir e exilar. Em 1970, os partidos políticos de esquerda estavam na clandestinidade e qualquer movimento ou ação que questionasse o regime era considerado subversivo, um atentado à ordem e à segurança nacional.

O recrudescimento da repressão veio em meio a grandes manifestações de rua, protagonizadas pelo movimento estudantil. Protestos como a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, reuniu a resistência aos militares, unindo trabalhadores e estudantes. A juventude também tomava as ruas em diversos países, principalmente na França, em uma onda de protestos iniciada na Sorbonne. Nos Estados Unidos, iniciava-se os primeiros protestos pedindo o fim da Guerra do Vietnã, iniciada em 1964.


Por isso, para o regime militar, um time de craques e a conquista do tricampeonato vieram a calhar. Enquanto reprimia, prendia e torturava militantes, o governo do general Garrastazu Médici estimulou o crescimento econômico por meio de empréstimos externos, industrialização e realização de grandes obras e rodovias (como a Transamazônica). No início da década de 70, a economia nacional apresentava um crescimento excepcional de 12% ao ano. A televisão e o governo propagandeavam o “milagre brasileiro”. E a vitória na Copa do Mundo de 1970 ajudou a impulsionar a propaganda oficial.


Porém, este sonho não duraria muito. O “milagre” ainda não havia chegado à mesa dos trabalhadores e o crescimento econômico havia beneficiado principalmente aqueles que já eram donos do poder e do dinheiro. O milagre começou a desmoronar na segunda metade da década de 70, quando a crise do petróleo e a alta dos juros, imposta pelo FMI, jogaram o país em uma profunda crise econômica, com inflação alta, desemprego e juros.


Feridas abertas
No México, sede da copa, a situação social em 1970 também era grave. Os colapsos da economia levaram ao aprofundamento da pobreza e a agitação social era grande no final dos anos 60. O PRI, que comandava a política há quase três décadas, já trabalhava para destruir as parcas conquistas dos trabalhadores. Aplicava medidas para beneficiar as elites, desenvolver a indústria e atrair investimentos estrangeiros. Seguia à risca a política dos EUA para reprimir os movimentos sociais. A tortura, o extermínio e a destruição de cidades foram práticas recorrentes nesse período.

Um dos marcos dessa repressão foi o Massacre de Tlatelolco, em 2 de outubro de 1968, dias antes do início dos Jogos Olímpicos, sediados no México. Naquele dia, cerca de 10 mil estudantes e professores fizeram um grande protesto contra o governo na Praça das Três Culturas de Tlatelolco, na Cidade do México, repudiando os gastos com a realização dos Jogos e denunciando a repressão e o desaparecimento de ativistas.

A polícia reagiu com violência e matou quase 300 manifestantes.

Na Copa de 70, a seleção do México ficou em 6º lugar, atrás de Brasil, Itália, Alemanha Ocidental, Uruguai e URSS. Até hoje, esse foi o campeonato de futebol considerado mais belo e inesquecível, pelo alto nível dos jogos e dos jogadores. As semi-finais foram disputadas apenas por campeões mundiais: Brasil, Uruguai, Itália e Alemanha Ocidental.

*Publicado em 2006 no sítio do PSTU

http://www.pstu.org.br/ e em forma de artigos no Jornal Opinião Socialista por oportunidade da Copa da Alemanha.


- Mais informações sobre a Copa de 1970*:

- País-sede: México

- Data: 31 de maio a 21 de junho de 1970

- Participantes: Brasil (campeão), México, União Soviética, Bélgica, El Salvador, Itália (vice-campeã), Israel, Uruguai, Suécia, Inglaterra, Tchecoslováquia, Romênia, Peru, Marrocos, Bulgária e Alemanha Ocidental.- Final: Brasil 4 x 1 Itália (Cidade do México, 21 de junho)

- Curiosidades da Copa:
- O torneio de 1970 foi a primeira C
opa do Mundo disputada na América do Norte, e a primeira disputada fora da América do Sul e da Europa. O México foi escolhido como sede pela FIFA em outubro de 1964. Em 1968, a Cidade do México sediou os Jogos Olimpícos;

- A final da Copa de 1979 foi disputada por duas seleções bi-campeãs: o Brasil e a Itálial. Conforme já previsto em regra, a primeira equipe a ter o título de campeão mundial por três vezes seria permitido a posse definitiva da Taça Jules Rimet, cabendo ao tri-campeão Brasil;

- A seleção brasileira, que tinha Pelé (que estava em sua quarta e última Copa do Mundo), Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Rivellino e Tostão, é tida como a melhor equipe na história das Copas;


- A Copa de 1970 foi a primeira a ser televisionada em cores. Porém, para que as transmissões se encaixassem melhor nas programações da televisão européia, algumas partidas começaram ao meio-dia. Esta foi uma decisão impopular entre muitos jogadores e treinadores por causa do intenso calor no México neste período do dia;

- Pela primeira vez, substituições foram permitidas em Copas do Mundo. Cada time poderia fazer duas alterações durante o jogo. A União Soviética foi o primeiro time a se utilizar do expediente contra o México na partida de abertura. Viktor Serebryanikov foi o primeiro jogador a ser substituído, pois Anatoly Puzach entrou em seu lugar após os 45 minutos iniciais;

- Esta Copa também foi a primeira a apresentar o uso dos cartões amarelo e vermmelho para advertências e expulsões respectivamente (note que as advertências e expulsões já existiam antes de 1970). Cinco cartões amarelos foram mostrados na partida de abertura entre México e URSS, enquanto nenhum cartão vermelho foi mostrado em todo o torneio;


- A última quarta-de-final foi uma revanche da final da Copa anterior entre Inglaterra e Alemanha Ocidental, produziu uma das grandes partidas da história da Copa do Mundo (considerados por muito como a maior partida de futebol de todos os tempos). No começo do segundo tempo os ingleses lideravam por 2 a 0 e o jogo aparentava já estar decidido. Porém, a Alemanha marcou com Franz Beckenbauer no minuto 68. Em pânico, o técnico inglês Alf Ramsey decidiu substituir Bobby Charlton. Sem Charlton, a Inglaterra não conseguia mais se firmar na partida e não conseguia conter os incessantes ataques alemães. A oito minutos do fim, Uwe Seeler cabeceou para marcar o gol de empate. A Alemanha Ocidental agora era a dona do jogo e, na prorrogação, com um erro de Bonetti, Gerd Muller marcou o gol da vitória, impossibilitando a defesa do título por parte dos ingleses;

- Na final, o Brasil saiu na frente, com Pelé cabeceando um cruzamento de Rivellino no minuto 18. Roberto Boninsegna empatou para os italianos após falha da defesa brasileira. Gérson bateu um forte chute para o segundo gol, e ajudou na marcação do terceiro, com um lançamento de falta para Pelé que cabeceou para Jairzinho. Pelé finalizou sua grande performance saindo da marcação da defesa italiana e assistindo Carlos Alberto Torres no flanco direito para o gol derradeiro. O gol de Carlos Alberto, após uma série de passes da seleção brasileira da esquerda para o centro, é considerado um dos mais belos gols marcados na história do torneio. A vitória consagrou o Brasil como a primeira equipe a conquistar três títulos na história das Copas;

- A Copa de 1970 foi marcada pelos "não-gols" de Pelé. Na última de suas copas, em quatro oportunidades, o “rei do futebol” fez quatro lances considerados espetaculares, mas que não resultaram em gols;

- Com a eliminação do México ainda nas quartas-de-final, os mexicanos adotaram a selelçaõ brasileira como time e ouvacionaram a seleção brasileira no estádio Asteca. Após o jogo, Pelé e Tostão foram quase despidos por torcedores. A premiação da seleção brasiliera é considerado um dos momentos mais emocionantes de todas as copas.


*Fonte: Wikepédia

- Leia o que já foi publicado aqui no blog sobre a história das copas

1930 - Uruguai: A bola rola, com o mundo em frangalhos

1934 – Itália: O futebol como peça de propaganda do fascismo

1938 – França: O diamante negro e a copa da guerra

1950 – Brasil: A copa tupiniquim

1954 – Suíça: A Guerra Fria vai à final

1958 – Suécia: Afinal, a taça!

1962 – Chile: “Porque nada temos, nós faremos tudo”

1966 – Inglaterra : 'Deus salve o juiz'

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