domingo, 23 de maio de 2010

1974 – Alemanha: Generais de bola murcha

Jeferson Choma*

Certamente a grande lembrança da copa de 1974, na Alemanha Ocidental, foi a brilhante atuação da seleção holandesa, chamada na época de ‘laranja mecânica’, em função da cor de seus uniformes, ou de ‘carrossel Holandês’, por causa do seu esquema de jogo revolucionário, onde nenhum jogador (exceto o goleiro, é claro) tinha posição fixa. Os adversários ficavam desnorteados, pois não sabiam quem marcar.

No final da copa, prevaleceu a injustiça. O fabuloso carrossel liderado por Johann Cruyf perdeu a final para uma apática Alemanha Ocidental, num dos jogos mais disputados da historia do futebol. O time da Alemanha Ocidental só sofreu uma derrota, justamente para seus compatriotas do outro lado do muro, da Alemanha Oriental, na primeira fase da competição.

Todos os jogos foram cercados de muita segurança, devido ao atentado ocorrido na Olimpíada de Munique em 1972, quando o Setembro Negro - que defendia a independência da Palestina - atacaram o alojamento onde se encontravam os atletas israelitas, o que resultou na morte de 11 atletas e de quase todos os membros da organização.

Como pano de fundo da copa, estavam os conturbados acontecimentos dos anos 70. Década marcada pelo desenvolvimento da contra-cultura, pela derrota norte-americana no Vietnã, o escândalo Watergate, que derrubou Richard Nixon, presidente dos EUA, a crise do petróleo e a vitória da revolução dos Cravos, em Portugal.

No Brasil, a ditadura militar começava a ver sua bola murchar. O ufanismo de 1970 produzido pela propaganda ideológica da ditadura já eram coisas do passado. Foi em 74 que general Ernesto Geisel assume o comando do regime militar, já imerso sob o esgotamento do dito ‘milagre econômico’. Nessa época, a dívida externa do país chega a US$ 9,5 bilhões, a inflação estava em 34,5% e os salários dos trabalhadores são corroídos. Em seguida, os generais assistem a oposição crescer nas eleições parlamentares. Tudo isso, anos mais tarde, vai levar a eclosão das lutas operárias no ABC paulista e na retomada das mobilizações estudantis.

Por outro lado, o desempenho da seleção brasileira não ajudou o regime a repetir a propaganda da copa anterior. Demonstrando um futebol defensivo, bem longe do apresentando por Pelé, Gerson, Rivelino e Tostão em 70, a seleção não resiste ao furacão holandês e perde de por 2 x 1 nas quartas de final.

A tentativa de usar o futebol como instrumento de propaganda era tanta que a comissão técnica e a diretoria da CBD – atual CBF – foram dadas aos militares. Na copa de 1974, o presidente da CBD era o Almirante Heleno Nunes, enquanto o preparador físico era o capitão Cláudio Coutinho. De nada adiantou. Uma década depois da copa, milhares foram às ruas pedir o fim do regime, cuja cabeça, segundo a canção ‘Pelas Tabelas” de Chico Buarque, já rolava em pleno Maracanã.

*Publicado em 2006 no sítio do PSTU (http://www.pstu.org.br/) e em forma de artigos no Jornal Opinião Socialista por oportunidade da Copa da Alemanha.

- Mais informações sobre a Copa de 1974*:
- País-sede: Alemanha Ocidental

- Data: 13 de junho a 07 de julho de 1974

- Participantes: Alemanha Ocidental (Campeã); Alemanha Oriental; Chile; Austrália; Iugoslávia; Brasil; Escócia; Zaire; Holanda (Vice-campeã); Suécia; Bulgária; Uruguai; Polônia; Argentina; Itália e Haiti.

- Final: Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda (07 de julho)

- Curiosidades da Copa:

- Para a Copa do Mundo de 1974 99 países disputaram o processo eliminatório que resultou na participação de 16 países;

- Foi a Copa de estréia do novo troféu FIFA, que substitui a taça Jules Rimett, que ficou definitivamente com o Brasil após o tri-campeonato;

- No mundial houve a estréia do chamado cartão vermelho, a primeira vitima dele na história das Copas, foi o atacante chileno Carlos Caszely que foi expulso aos 22 min do 2º tempo no jogo Alemanha Ocidental1x0 Chile. O próprio Caszely era opositor ferrenho do ditador chileno Augusto Pinochet, que tomara o poder no país meses antes, após liderar um golpe de estado. Devido à sua expulsão, posteriormente Caszely foi proibido de jogar futebol em seu próprio país. Ele acabaria jogando em clubes da Espanha nos tempos politicamente mais difíceis;


- Foi também o primeiro mundial que ocorreu o primeiro caso de doping. O fato ocorreu com o zagueiro do Haiti Jean-Joseph, na partida em que sua seleção foi goleada pela Polônia por 7 x 0. No dia seguinte ao anúncio pela FIFA, seguranças da delegação tiraram o atleta do quarto onde dormia, levaram-no para um jardim na própria concentração e deram-lhe uma brutal surra. Em comunicado distribuído à imprensa, a delegação do Haiti disseram que a agressão foi justificada pelo doping, onde o zagueiro, com sua atitude, envergonhara a sua pátria;

- Embora a Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer, Gerd Müller e cia. fosse a grande favorita da Copa, um time prometia ser sua sombra em busca do título, a Holanda (Países Baixos) de Cruyff e Neeskens. E esse time foi a grande sensação. O timaço dirigido por Rinus Michels, revolucionou o futebol mundial implementando um sistema tático onde os jogadores não guardavam posição fixa: era o carrossel holandês (considerado o melhor esquema tático da história do futebol). Com o início da Copa, a Holanda acabou se tornando a favorita, mas acobou perdendo o título para os donos da casa;

- O mundial foi transmitido em cores pela TV em 70 países e foi a primeira Copa do Mundo onde os jogadores começaram a usar número nos calções;

- O Brasil, sem Pelé, Gérson, Carlos Alberto Torres, Tostão e Clodoaldo, não era sombra do super time de 1970. Jogando um futebol defensivo, o time suou para empatar contra a Iugoslávia e Escócia e ganhar do Zaire por 3 a 0, na medida para se classificar. Acabou perdendo ainda para a Holanda na segunda fase e para a Polônia na disputa pelo terceiro lugar;

- O Zaire (atual Congo) participou pela primeira vez da Copa do Mundo, ao vencer o Campeonato Africano de Nações (que era classificatório para o Mundial naquela época). Pela classificação para a Copa do Mundo, todos os jogadores receberam como prêmio do governo de seu país, casa e automóvel. Mas devida à péssima campanha no Mundial, os prêmios foram confiscados mais tarde;

- Pelo menos, a equipe do Haiti teve um motivo para se orgulhar: ao marcar seu único gol na derrota por 3X1 diante da Itália, foi quebrada a invencibilidade da defesa italiana, que não tomava um gol desde 1972, e do goleiro Dino Zoff, que estava 1.142 minutos sem tomar gol. Coube a Emmanuel Sanon (falecido em 2008) esta façanha;

- Na única vez em que as duas Alemanhas se enfrentaram em uma Copa do Mundo, a Alemanha Ocidental, demonstrando sua frieza, abriu mão de sua invencibilidade e perdeu para a Seleção Alemã Oriental de Futebol por 1 a 0, evitando cair no grupo de Brasil e Países Baixos na segunda fase da Copa (a segunda fase era formada por duas chaves com quatro times cada);

- A Escócia se tornou a primeira seleção a ser eliminada na 1ª fase sem perder um só jogo. Curiosamente, ela foi a única equipe invicta do torneio;

*Fonte: Wikepédia
- Leia o que já foi publicado aqui no blog sobre a história das copas:
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