quarta-feira, 25 de junho de 2008

Política e Futebol


Todo grande clássico no futebol vem acompanhado de histórias incríveis de amor e ódio entre seus oponentes. O Palmeiras é uma dissidência do Corinthians e as duas equipes já protagonizaram um duelo batizado de "a noite das barricadas", partida disputada na intenção de arrecadar donativos para o São Paulo não fechar suas portas, já que o clube tricolor havia decretado falência e não tinha mais condições de pagar suas contas.

Celtic, católico, Rangers, protestante, fazem na Escócia um clássico agressivo e cheio de lembranças de confrontos religiosos entre as duas equipes a mais de um século na ilha da rainha Elizabeth. O Barcelona com sua luta pela a autonomia da Catalunha e o Real Madrid com seu apelo junto à ditadura Franquista fizeram as discussões futebolísticas mais parecerem discussões de cientistas políticos durante a década de 40. Quando os dois se enfrentam, chacoalham até hoje toda a Espanha. A partida entre Racing e Independiente faz com que muitos torcedores argentinos esqueçam ou minimizem o clássico entre Boca Juniors e River Plate, considerado o mais famoso da Argentina.

Apesar desses grandes jogos e tantos outros que não citei aqui, gostaria de falar sobre um outro grande clássico. O jogo em questão acontece na Itália, mas não estou falando do derby entre a Inter de Milão contra o Milan, tão pouco estou falando do jogo entre Roma e Lazio ou Juventus e Torino. O jogo em questão é entre Livorno e Lazio, o confronto político entre comunas e fascistas que estremece a Itália, apesar de serem de cidades diferentes e não serem da mesma grandeza no mundo do futebol.

O futebol comunista do Livorno não disputava a série A do futebol italiano a mais de 55 anos e seus torcedores reclamavam de discriminação dos árbitros por ser um time de esquerda. Quando o clube finalmente voltou à elite uma parte de sua torcida comemorou o acesso de uma maneira um tanto quanto diferente. Ao invés de invadir as ruas da cidade para comemorar o feito, invadiram o partido de direita da cidade e quebraram tudo por lá, atitude que fez ser banida parte de seus torcedores dos estádios do país. O time fica na região da Toscana, a 86 km de Florença, onde Antonio Gramsci fundou o Partido Comunista Italiano em 1921. A maioria de sua população de 175 mil habitantes torce pelo time da cidade e seus jogadores são comunistas ou anarquistas, existindo ainda os progressistas.

Um dos maiores astros da história do clube, o atacante Cristiano Lucarelli é comunista assumido e já rejeitou convites de clubes maiores por causa de suas convicções políticas e ligações com o clube de coração. Hoje em dia ele não joga mais no Livorno. Lucarelli foi um dos fundadores da torcida Brigada Autônoma Livornense. O atacante costumava comemorar seus gols com o braço esquerdo erguido e com o pulso fechado, como fazem os comunistas do mundo inteiro. Em 1997, num jogo da seleção italiana sub-20, ao celebrar um gol, ele mostrou que vestia embaixo do uniforme uma camiseta com a figura do revolucionário Che Guevara. Ele foi repreendido pelo técnico e nunca mais foi convocado.

Do outro lado da moeda tem o clube do Lazio, que possui um alto número de torcedores ligados a organizações de extrema-direita nazi-fascista. Esses torcedores não aceitam a contratação de jogadores negros, latinos e principalmente judeus. Essa era a equipe de Benito Mussolini. Bruno, seu filho, chegou até a ser presidente do clube. A equipe romana é uma das mais associadas ao racismo em todo planeta e sua torcida "Irriducibili Lazio" possui o site mais racista e preconceituoso da Europa, segundo o "Observatório Europeu contra o Racismo de Viena" com muitas mensagens de intolerância e ódio.



Entre os jogadores que mais se destacou nos últimos tempos na Lazio está o nome do atacante Paolo Di Canio, hoje com 38 anos e jogador do pequeno Cisco Roma que disputa a quarta divisão do campeonato italiano. O polemico jogador já foi multado pela liga de futebol italiano por ter celebrado uma vitória contra o Roma com a saudação fascista, ou seja, com o braço direito estendido para frente e a mão esticada. Para escapar da multa o atleta tentou alegar que o gesto era apenas uma "saudação romana". O atacante tem tatuado a palavra Dux, em alusão ao líder fascista Benito Mussolini e foi torcedor radical do clube antes de defender suas cores.

Quando os dois times se enfrentaram no estádio Olímpico de Roma em 2005 as duas torcidas se enfrentaram politicamente dentro do estádio. Bandeiras com suásticas e com os rostos de Mussolini eram tremuladas na torcida da Lazio, além dos coros de Faccetta Nera, hino do fascismo italiano.

Os livornenses que viajaram até Roma responderam agitando bandeiras com a foice e o martelo e cantando hinos comunistas como Bandiera Rossa e Bella Ciao. Fora do estádio se enfrentaram da maneira tradicional, ou seja, fisicamente, porém houve rápida intervenção da polícia e não aconteceu nenhuma tragédia no local.


A distinta orientação política dos clubes (independente se é oficial ou não) , seus personagens centrais e torcedores trazem a esse jogo elementos extra-campo que transformam o que seria uma simples partida de futebol em um dos maiores confrontos do planeta. O futebol é muito mais do que apenas a bola rolando de um lado para o outro do campo. Muito mais! O futebol consegue explicar um pouco o mundo.

* Texto baseado em material divulgado pela Brigada Autônoma Livornense.
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Arnaldo José disse...

Agora achei um time preu torcer.

Obrigado meu amigo, voltei a me interessar por essa besteira de futebol, rsrs.

aliás,

Ô Ô Ô , BOB VEREADOR ! ! ! ! ! !